Putin compara guerra na Ucrânia com a 2.ª Guerra e diz que Rússia ‘resiste novamente’ ao Ocidente

Presidente usou as comemorações do aniversário de Stalingrado para comparar campanha na Ucrânia à resistência soviética contra os nazistas; ‘Estamos mais uma vez ameaçados por tanques alemães’, disse

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Por Redação
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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, comparou durante as comemorações do 80ª aniversário da vitória de Stalingrado, nesta quinta-feira, 2, a campanha militar na Ucrânia com a batalha entre os soviéticos e os nazistas na 2ª Guerra e prometeu que os russos sairiam vitoriosos mais uma vez. Segundo Putin, os russos estão novamente “forçados a resistir à agressão do Ocidente”, assim como no passado. “O legado de gerações, valores e tradições – tudo isso é o que torna a Rússia diferente, nos torna fortes e confiantes em nós mesmos, em nossa justiça e em nossa vitória”, declarou.

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As declarações do presidente russo ocorrem no momento em que as autoridades da Ucrânia alertam que Moscou prepara uma nova ofensiva no leste do país, com chances de dar a Putin a vitória mais significativa da guerra em meses. A Ucrânia também se prepara para novas batalhas e reforça o poder ofensivo com tanques de guerra e outros armamentos enviados pelos Estados Unidos e aliados europeus, incluindo a Alemanha, o que reforça as alegações de Putin sobre o conflito se tratar de uma guerra com o Ocidente.

“É inacreditável, mas estamos mais uma vez ameaçados por tanques alemães”, afirmou Putin na antiga cidade, hoje nomeada Vologrado. “Não estamos enviando nossos tanques para as suas fronteiras, mas temos os meios para responder, e isso não terminará com o uso de defesas. Todos devem entender isso”, acrescentou.

Presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de evento que celebra o 80º da vitória de Stalingrado na 2ª Guerra. Em seu primeiro discurso em meses, Putin comparou batalha contra nazistas com a guerra na Ucrânia Foto: Mikhail Klimentyev/Sputnik/Kremlin via REUTERS

As comemorações do 80º aniversário da vitória de Stalingrado acontecem quase um ano depois de Putin invadir a Ucrânia com a justificativa de que o país precisava ser “desmilitarizado” e “desnazificado”. Horas antes das declarações, mísseis russos atingiram a cidade ucraniana de Kramatorsk, um importante centro militar para as forças de Kiev no leste, e tropas continuaram em direção a vilas e cidades do leste.

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Kramatorsk, um amplo centro industrial que abrigava cerca de 200 mil pessoas antes da guerra, é alvo de frequentes ataques de foguetes por forças russas desde que a invasão começou, há quase um ano. Mas os ataques ao centro da cidade se intensificaram nas últimas semanas, à medida que o inverno do Hemisfério Norte chega ao fim e a Rússia se prepara para tomar toda a região do Donbas.

A confiança de Putin com a vitória, no entanto, contrasta com a dificuldade dos russos nos últimos meses de guerra, nos quais a Ucrânia obteve vitórias em contraofensivas e recuperou uma parte do território que havia perdido. O presidente não mencionou as derrotas, limitando-se a dizer que a vitória de Stalingrado aconteceu “graças à confiança na vitória” e que essa característica permanece entre os russos.

Campanha no leste

A Rússia tem feito ganhos lentos no leste ucraniano e passou a representar uma ameaça iminente ao controle da cidade de Bakhmut, a leste de Kramatorsk. A perda de Bakhmut fortaleceria a tentativa de Moscou de controlar a região, mas a vitória russa teria um enorme custo em vidas, diz a Ucrânia. O Kremlin lançou milhares de combatentes, grande parte sem experiência, em um combate terrestre brutal contra as forças ucranianas em posições defensivas.

Stalingrado – o ponto de virada no que os russos chamam de Grande Guerra Patriótica, a luta da União Soviética contra os nazistas na 2ª Guerra – se tornou um símbolo para os russos de sofrimento, sacrifício e heroísmo em uma guerra. Em 1943, os soviéticos reverteram a maré da invasão da Alemanha depois de uma batalha de 200 dias que custou a vida de centenas de milhares de soldados e civis.

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Cidadãos caminham sobre ponte destruída para cruzar canal em área disputada por russos e ucranianos em Bakhmut, no leste do país, em imagem da quarta-feira, 1º Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP

Imagens da mídia estatal russa exploraram a imagem de Putin em Vologrado colocando flores vermelhas no túmulo de um comandante soviético abaixo do monumento Mãe Pátria, uma das maiores estátuas do mundo, de quase 91 metros (cerca de três vezes maior que o Cristo Redentor, de 31 metros). Ele também apareceu ajoelhado diante de uma coroa de flores em um memorial próximo.

O simbolismo é central para engajar os russos no apoio à guerra na Ucrânia e tem sido explorado por Putin desde o início do combate. Em seu discurso, Putin disse que os soviéticos triunfaram sobre os nazistas por causa de sua “crença sólida e absoluta de que a verdade está do nosso lado” – a mesma linguagem que Putin usou desde o primeiro dia de invasão ao prometer uma vitória russa na Ucrânia.

A última vez que Putin havia discursado em um grande evento público foi em setembro na Praça Vermelha, em Moscou, para celebrar a anexação da Rússia de quatro regiões ucranianas, não reconhecida internacionalmente. /AFP, NYT

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