Putin diz que planos de Trump para controlar a Groenlândia são ‘sérios’

Em fórum no Ártico, russo assegurou que a disputa pelo território dinamarquês não diz respeito à Rússia, mas está preocupado com a Otan usando o ‘Grande Norte’ como um trampolim para conflitos

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Por Redação

MOSCOU - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta-feira, 27, que considera sérios os planos dos Estados Unidos para anexar a Groenlândia, em meio à ofensiva de Donald Trump para tomar o controle da ilha dinamarquesa.

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“Estamos falando de planos sérios por parte dos Estados Unidos em relação à Groenlândia. Esses planos têm raízes históricas de longa data”, disse Putin em um fórum do Ártico na cidade de Murmansk. “Isso pode parecer surpreendente apenas à primeira vista e seria errado acreditar que isso é algum tipo de fala extravagante da atual administração dos EUA”.

“É óbvio que os Estados Unidos continuarão a avançar de forma sistemática seus interesses geoestratégicos, militares-políticos e econômicos no Ártico”, completou. Ele observou que os Estados Unidos primeiro consideraram planos para ganhar controle sobre a Groenlândia no século 19 e, depois, ofereceram comprar a região da Dinamarca após a 2ª Guerra.

O presidente russo Vladimir Putin fala na sessão plenária do Fórum Internacional do Ártico em Murmansk, Rússia, em 27 de março de 2025 Foto: Gavriil Grigorov/Sputnik/Kremlin via AP

Trump irritou boa parte da Europa ao sugerir que os Estados Unidos deveriam, de alguma forma, controlar o território autônomo e rico em minerais da Dinamarca, um aliado dos EUA e membro da Otan. À medida que a porta de entrada náutica para o Ártico e o Atlântico Norte se aproxima da América do Norte, a Groenlândia tem um valor estratégico mais amplo, pois tanto a China quanto a Rússia buscam acesso às suas hidrovias e recursos naturais.

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Embora Putin tenha assegurado aos participantes do fórum que a questão da Groenlândia, um território autônomo pertencente à Dinamarca, não diz respeito à Rússia, ele se declarou “preocupado pelo fato de que os países da Otan consideram cada vez mais o Grande Norte como um trampolim para possíveis conflitos”.

O russo ressaltou que seus vizinhos, Finlândia e Suécia, se juntaram à aliança. “A Rússia nunca ameaçou ninguém no Ártico, mas acompanharemos de perto os desenvolvimentos e montaremos uma resposta apropriada aumentando nossa capacidade militar e modernizando a infraestrutura militar.”

Durante a conferência, Putin anunciou uma série de medidas destinadas ao desenvolvimento econômico do Extremo Norte russo, uma região de importância estratégica para Moscou, onde, nos últimos anos, já modernizou várias bases militares que estavam abandonadas desde a era soviética.

Em particular, ordenou a renovação das cidades do oblast (região administrativa) e a ampliação da capacidade de transporte da grande cidade de Murmansk, além de promover o desenvolvimento de outros portos árticos.

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Ele também pediu melhorias nas conexões ferroviárias entre a Sibéria, os Urais e o Extremo Norte, além do fortalecimento da extração de matérias-primas e da construção naval.

“Aumentaremos a capacidade e o volume de negócios de nossos portos no norte em um ritmo mais acelerado. Faremos isso com base em soluções ambientais modernas, incluindo tecnologias automatizadas (...)”, declarou Putin.

O presidente russo também se mostrou aberto à cooperação com “países amigos” no Ártico e com países ocidentais “se eles demonstrarem interesse”. Em particular, a Rússia espera desenvolver a Rota Marítima do Norte no Ártico, uma via comercial viabilizada pelo derretimento do gelo e que poderia competir com o Canal de Suez, aproveitando o impacto das mudanças climáticas.

A Rússia tem buscado afirmar sua influência sobre grandes áreas do Ártico em competição com os Estados Unidos, Canadá, Dinamarca e Noruega, já que o encolhimento do gelo oferece novas oportunidades para recursos e rotas de transporte. A China também tem demonstrado um interesse crescente na região, que se acredita conter até um quarto do petróleo e gás não descobertos da Terra.

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“Não permitiremos nenhuma violação à soberania do nosso país, salvaguardaremos de forma confiável nossos interesses nacionais enquanto apoiamos a paz e a estabilidade na região polar”, disse Putin.

“Quanto mais fortes forem nossas posições, mais significativos serão os resultados e maiores serão as oportunidades que teremos para lançar projetos internacionais no Ártico envolvendo os países que são amigáveis conosco e, possivelmente, países ocidentais se eles mostrarem interesse em trabalho conjunto. Tenho certeza de que chegará a hora de lançar tais projetos.”/AFP e AP