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É escritor venezuelano e membro do Carnegie Endowment. Escreve quinzenalmente

Opinião | Putin é um ditador acuado em sua ratoeira; leia a coluna de Moisés Naim

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Foto do author Moisés Naim

No início de sua presidência, em 2000, Vladimir Putin deu uma longa entrevista na televisão. Ele falou de sua visão para o futuro da Rússia, compartilhou memórias de sua juventude e refletiu sobre o que experimentou e aprendeu. Ele conta, por exemplo, a lição que um rato lhe deu.

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Quando muito jovem, Putin e seus pais moravam em um pequeno apartamento em um prédio decadente em Leningrado (atual São Petersburgo) que, entre outros problemas, sofria de uma infestação de ratos. O jovem Putin os perseguia com uma vara. “Lá, recebi uma lição rápida e duradoura sobre o significado da palavra ‘encurralado’”, diz Putin. Ele acrescenta: “Uma vez eu vi um rato enorme e o persegui pelo corredor até que o levei para um canto. Ele não tinha para onde correr. De repente, ele se lançou em mim e eu me esquivei, mas agora era o rato que estava me perseguindo. Felizmente, fui um pouco mais rápido e consegui fechar a porta.”

Assim, desde muito jovem, Putin entendeu que um rato encurralado pode se tornar perigosamente agressivo. É uma lição que não devemos esquecer. Mas e se, em vez de ser atacada, ela for pega em uma ratoeira?

A ratoeira é uma armadilha para pegar ratos. Consiste em uma caixa na qual há uma porta pela qual o roedor pode entrar. No interior, há um mecanismo com um pedaço de queijo. Ao pegar o queijo, o rato aciona uma mola que fecha a porta e o deixa na ratoeira sem conseguir sair. Está preso.

O presidente russo, Vladimir Putin Foto: Ramil Sitdikov/AFP

A mesma coisa acontece com os ditadores contemporâneos. Eles entraram no palácio presidencial atraídos pelo queijo, que neste caso é o poder, e ficaram presos. Se deixam o poder, colocam em risco a sua liberdade ou mesmo a sua vida, bem como a dos seus familiares e cúmplices. Sua alta posição também lhes permite preservar melhor as enormes fortunas roubadas. Obviamente, é normal que os ditadores não desejem renunciar ao poder.

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A ratoeira metafórica que prende ditadores no poder ilustra um dos grandes desafios do mundo atual. Que destino deve ser dado aos ditadores? No passado, aqueles que não foram mortos ou presos e conseguiram escapar com sua fortuna ilícita costumavam se estabelecer nos lugares paradisíacos frequentados pela realeza europeia. Agora, os tiranos que perdem o poder acabam na Europa, mas não em Mônaco ou Biarritz, mas no Tribunal Penal Internacional, em Haia.

A impunidade de vários ditadores desapareceu quando o ex-presidente do Chile, Augusto Pinochet, foi preso enquanto visitava Londres em 1998. Essa medida é uma expressão da nova doutrina dos direitos humanos: “jurisdição universal”. Isso marcou o início de uma nova era de responsabilização por graves violações de direitos humanos. Para um ditador como Nicolás Maduro, por exemplo, renunciar significa ir para a cadeia. Vladimir Putin enfrenta o mesmo risco.

Naturalmente, essa realidade torna os ditadores mais teimosos em se apegar ao poder. Eles não têm garantias de que a impunidade prometidas por outros durará. Circunstâncias, alianças e governos mudam, e novos governantes podem decidir que não estão vinculados aos compromissos de seus predecessores. Para esses ditadores, o único governo confiável é é o que eles mesmos presidem, as únicas Forças Armadas que os defenderão são às que comandam.

Este é um dos problemas mais espinhosos do nosso tempo. Deve-se buscar um acordo com os ditadores responsáveis pela morte de milhares de inocentes? Ou melhor, a ética, a justiça e a geopolítica nos obrigam a tentar derrubar esses ditadores?

Não há respostas fáceis. Quantas mortes seriam evitadas se um cessar-fogo fosse alcançado na Ucrânia? É aceitável fazer um acordo com Vladimir Putin para retirar suas tropas em troca de concordar com algumas de suas condições? Para muitos isso seria imoral e a única saída aceitável é deixar Putin. Outros sustentam que a prioridade é impedir a morte de inocentes.

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Não há respostas óbvias para essas perguntas. Mas pelo menos hoje sabemos que as respostas podem ser moldadas por países onde reina a democracia. De todas as notícias horríveis que a invasão de Putin produziu, há uma boa notícia que deve nos dar esperança: as democracias mostraram que podem trabalhar em conjunto e aumentar sua capacidade de enfrentar coletivamente os males que afetam o planeta. Esta é uma oportunidade para os defensores da liberdade definirem a agenda, e não os tiranos.

Opinião por Moisés Naim

É escritor venezuelano e membro do Carnegie Endowmen

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