ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, foi vaiado nesta terça-feira, dia 22, durante o início da transmissão de sua mensagem em vídeo no Fórum Empresarial do Brics.
Ameaçado por uma ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional, Putin desistiu de comparecer a Johannesburgo, na África do Sul, para a 15ª Cúpula do Brics. A África do Sul seria obrigada a cumprir o mandado de prisão, expedido por crimes relacionados à guerra na Ucrânia, porque o país faz parte do acordo que estabeleceu a corte.
Essa foi a primeira ausência de um chefe de Estado em reuniões presenciais do Brics, desde a primeira edição em 2009.
Assim que o mestre de cerimônias anunciou que seria exibido um vídeo gravado, enviado por Putin de Moscou, empresários e integrantes de delegações presentes no auditório vaiaram o presidente russo. Eles aumentaram o tom quando a imagem de Putin surgiu no telão. Em seguida, houve alguns aplausos em resposta.
A vaia foi breve, durou cerca de dez segundos, mas ecoou no auditório. Manifestações do tipo são incomuns em eventos de plateia controlada com a presença de chefes de Estado e de governo. Todos presenciaram o gesto de repúdio, exceto o chinês Xi Jinping, que era representado por um ministro.
Apesar da ausência de Putin, a delegação russa, com membros do governo, empresários e jornalistas, está presente em Johannesburgo e acompanhava a sessão de diálogo entre os chefes de Estado e de governo, com discursos em sequência.
Assim como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Putin impulsionou a discussão sobre a desdolarização das transações comerciais entre países do Brics. Ele disse que será necessário encontrar mais mecanismos para fazer a compensação das moedas nacionais e que as importações em dólares entre países do Brics estão em queda.
“Essa cúpula deve discutir todos os detalhes para a transição para moedas nacionais”, disse Putin, segundo quem o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), desempenha papel fundamental no processo.
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Putin explicou, no vídeo, por que decidiu deixar no mês passado o acordo trilateral com Ucrânia e Turquia que permitia um corredor de exportação de grãos com a Ucrânia. O corredor do Mar Negro, alegou o russo, não estava beneficiando países em desenvolvimento - ele alegou que só 3% da produção ia para essas nações, e o restante tinha outros destinos.
A decisão motivou protestos de países africanos, e recentemente Putin prometeu enviar 50 mil toneladas de grãos russos, de forma gratuita, a eles.
Putin disse que a produção de grãos na Rússia está estabilizada, mas que neste momento vem sendo culpado pela crise no mercado internacional. Segundo ele, a Rússia foi ignorada no pedido de livre transferência de fertilizantes. Putin alegou que “uma campanha humanitária não deve estar sujeita a qualquer sanção” e que retomaria o acordo se o lado russo fosse contemplado.
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