Putin quer exigir pagamento de gás natural em rublos para contornar sanções

Medida - que ainda não tem data para entrar em vigor - é resposta do Kremlin às sanções ocidentais ao sistema bancário russo, que tem dificuldades em acessar dólares e euros

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Por Redação
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O presidente Vladimir Putin anunciou nesta quarta-feira, 23, que a Rússia exigirá que países “hostis” paguem pelas exportações russas de gás natural em rublos -- em uma clara tentativa de driblar as sanções impostas por países ocidentais pela guerra na Ucrânia, que praticamente cortaram o acesso russo a dólares e euros.

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“Decidi implementar um conjunto de medidas no menor tempo possível para transferir os pagamentos – vamos começar com isso – para nossos fornecimentos de gás natural para os chamados países hostis, em rublos russos”, disse Putin em reunião com funcionários do governo.

Em tese, países importadores do gás natural russo que impuseram sanções econômicas ao país terão que comprar rublos com seus euros ou dólares americanos a taxas fixadas pelo banco central da Rússia.

O presidente russo, Vladimir Putin, durante reunião de gabinete nesta quarta-feira, 23. Foto: Mikhail Klimentyev, Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP

De acordo com o presidente russo, os próprios países ocidentais minaram a confiabilidade de suas moedas ao tomarem “decisões ilegítimas” para o congelamento de ativos russos. “Não faz sentido algum fornecer nossos produtos à União Europeia, aos Estados Unidos e receber o pagamento em dólares, euros e várias outras moedas”, acrescentou.

Não está claro quando exatamente a nova política entrará em vigor, porém Putin já instruiu o banco central do país a elaborar um procedimento para os compradores de gás natural adquirirem rublos na Rússia.

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Putin ainda anunciou que a Rússia cumprirá os volumes e preços determinados estabelecidos nos contratos existentes e que as mudanças “afetarão apenas a moeda de pagamento”, segundo relato da agência de notícias russa Interfax.

A recepção do anúncio pelos países afetados pela medida, no entanto, não foi pacífica. O ministro da Economia alemão, Robert Habeck, afirmou nesta quarta que a exigência de pagamento em rublos é uma “quebra de contrato”, e que uma resposta oficial seria discutida com os parceiros europeus.

Desde a invasão à Ucrânia, sanções internacionais limitaram a capacidade russa de fazer negócios em dólares e euros. Em uma das principais medidas, EUA, Canadá, União Europeia e Reino Unido anunciaram um bloqueio a bancos russos do sistema de pagamentos global Swift e impuseram “medidas restritivas” ao Banco Central da Rússia em retaliação à invasão da Ucrânia, prejudicando a capacidade dos bancos de operarem globalmente.

As ações imediatamente reduziram o valor do rublo enquanto as pessoas corriam freneticamente para transformar seus rublos em uma moeda mais estável. Bancos, políticos e oligarcas ainda tiveram que lidar com o congelamento de centenas de bilhões de dólares em ativos.

Economistas apontam que a medida parece destinada a tentar sustentar o valor do rublo, que entrou em colapso em relação a outras moedas desde a invasão da Ucrânia. Mas alguns analistas tem dúvidas sobre a efetividade da medida.

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“Exigir pagamento em rublos é uma abordagem curiosa e provavelmente ineficaz para tentar acabar com as sanções financeiras ocidentais”, disse Eswar Prasad, professor de política comercial da Universidade de Cornell. “Os rublos são certamente mais fáceis de obter agora que a moeda está entrando em colapso. Mas trocar outras moedas por rublos será bastante difícil, dadas as amplas sanções financeiras impostas à Rússia”.

“A esperança é de que exigir o pagamento em rublos aumente a demanda pela moeda e, assim, sustente seu valor”, acrescentou Prasad, “também é uma falsa esperança, dadas todas as pressões”.

Neil Shearing, economista-chefe do grupo Capital Economics, disse: “Não é um movimento óbvio para mim, já que a economia (russa) precisa de uma oferta de moeda estrangeira para pagar as importações – e a energia é uma das poucas fontes restantes”./ AP, NYT, WP e REUTERS

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