ENVIADO ESPECIAL A JOHANNESBURGO - O presidente da Rússia, Vladimir Putin, reagiu nesta quarta-feira, dia 23, à cobrança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que os líderes do Brics discutissem de fato a guerra na Ucrânia e contribuíssem para alcançar um acordo de paz. Ele alegou que ordenou a invasão militar motivado por uma ação do Ocidente, na fronteira com seu país.
“Nossas ações na Ucrânia são guiadas por uma coisa somente: encerrar a guerra iniciada pelo Ocidente contra as pessoas em Donbass”, disse Putin. “Gostaria de agradecer aos colegas do Brics que participam de forma ativa para tentar encerrar essa situação assegurando um acordo justo com meios pacíficos.
Momentos antes, havia discursado sobre a guerra na Ucrânia numa reunião prevista para tratar de outro assunto. O presidente brasileiro, destoando de outras declarações recentes sobre o tema, citou a necessidade de debater o conflito no bloco para encontrar saídas. Um discurso diferente de outras oportunidades, em que o petista já chegou a afirmar que a Ucrânia deveria aceitar perdas territoriais para encerrar a guerra.
Sem citar nenhum nome, Putin aproveitou que Lula trouxe o assunto aos Brics, numa reunião prevista para tratar de outro assunto, e afirmou que alguns países “promovem sua hegemonia e política neocolonial” e que isso “levou a uma crise terrível na Ucrânia”.
Putin culpou a ação ocidental por um “golpe de Estado” na Ucrânia, se referindo à queda de Victor Yanukovich, em 2014. Segundo ele, as pessoas que discordaram enfrentaram oito anos de guerra. “A Rússia decidiu apoiar essas pessoas porque lutam por sua cultura, tradições e língua”, disse o presidente russo.
Vladimir Putin participou da 15ª Cúpula do Brics por videoconferência, em tempo real, de Moscou. Ele desistiu de viajar à África do Sul porque estava ameaçado por uma ordem de prisão do Tribunal Penal Internacional, que deveria ser cumprida caso ele pisasse em solo sul-africano.
Logo após a fala de Putin, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, disse que agradecia que ele reconhecesse os esforços feitos por um número de países do Brics para chegar a um fim pacífico do conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Ramaphosa afirmou que o mundo passa por um período de turbulência.
“Concordamos que para encerrar esse tipo de conflito a negociação seria a melhor forma, como o senhor sempre disse estar disposto a fazer”, disse o presidente sul-africano. “Os membros do Brics continuação a apoiar esses esforços para trazer solução ao conflito por meio do diálogo, mediação e negociação.”
Na abertura da sessão, Ramaphosa afirmou: “Paz e estabilidade são pré-condições para um mundo melhor e mais equilibrado. Estamos profundamente preocupados com os conflitos ao redor do mundo que continuam a causar sofrimento. Como África do Sul, nossa posição permanece que a diplomacia, o diálog, a negociação e a adesão aos princípios da carta das Nações Unidas são necessários para uma resolução de conflitos pacífica e justa”.
Lula fala sobre Ucrânia no Brics
Durante a cúpula, Lula citou a necessidade de debater a guerra na Ucrânia no bloco para encontrar saídas que levem o conflito ao fim. “Não podemos nos furtar a tratar do principal conflito da atualidade que ocorre na Ucrânia e tem efeitos globais”, declarou. “Não subestimamos as dificuldades para encontrar a paz, tampouco podemos ficar indiferentes às mortes e destruição que aumentam a cada dia.”
“Achamos positivos que um número crescente de países, entre eles do Brics, também estejam engajado em contato direto com Moscou e Kiev. Busca pela paz é um dever coletivo e imperativo para desenvolvimento justo e sustentável. Os Brics devem atuar como força pelo entendimento e cooperação. Nossa disposição está expressa na contribuição da China, da África do Sul e do meu próprio País para a solução do conflito na Ucrânia”, acrescentou.
O assunto é um incômodo para os países do bloco, e não há consenso de posições. Além do envolvimento direto da Rússia, país responsável por invadir militarmente um país vizinho em 2022, de todos os demais somente o Brasil condenou a ação, em votações nas Nações Unidas. Os demais se abstiveram.
“Brasil tem posição histórica de defesa da soberania e da integridade territorial e de todos os princípios das Nações Unidas”, recordou Lula.
A declaração destoa de outras declarações do presidente sobre a guerra. O petista já chegou a afirmar que a Ucrânia deveria aceitar perdas territoriais para encerrar a guerra.
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