O presidente russo Vladimir Putin vai se reunir virtualmente nesta terça-feira com o presidente da China, Xi Jinping, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. Esta será a primeira reunião multilateral de Putin desde a rebelião armada do Grupo Wagner, no final de junho.
O encontro faz parte da cúpula da Organização de Cooperação de Xangai (SCO, na sigla em inglês), um grupo de segurança fundado pela Rússia e pela China para conter as alianças ocidentais do leste da Ásia até o Oceano Índico. Este ano o evento será sediado pela Índia, que entrou na organização em 2017.
Até o momento, o grupo se dedicou a discutir segurança, cooperação econômica, combate ao terrorismo e ao tráfico de drogas, controle das mudanças climáticas e a situação do Afeganistão após a retomada do controle do país pelo Talibã, em 2021.
No último encontro de ministros das Relações Exteriores da Organização, ocorrido em junho na Índia, a guerra entre a Rússia e a Ucrânia não esteve entre os pontos fortes de debate, mas as consequências do conflito para os países em desenvolvimento são preocupações frequentes do grupo.
Este encontro será particularmente importante para Moscou, que busca mostrar que o Ocidente falhou em isolar a Rússia. Além das três potências asiáticas, a Organização de Cooperação de Xangai também conta com o Cazaquistão, o Quirguistão, o Tajiquistão e o Uzbequistão, onde a influência russa é profunda.
O Paquistão também foi inserido no grupo em 2017 e o Irã deve ingressar oficialmente amanhã. Na fila da adesão também está Belarus, outra forte aliada do Kremlin. Nenhum dos países-membros da Organização condenou a Rússia nas resoluções da ONU sobre a guerra da Ucrânia, preferindo a abstenção.
“Este encontro da SCO será realmente uma das poucas oportunidades globais que Putin terá para projetar força e credibilidade”, afirmou Michael Kugelman, diretor do Instituto do Sul da Ásia do Wilson Center.
Além disso, o fórum representa uma chance para Putin mostrar que detém o controle, após a insurreição do Grupo Wagner, chefiado pelo mercenário Yevgeny Prigozhin. “Putin vai querer assegurar a seus parceiros que ele ainda está no comando e não deixar dúvidas de que os desafios ao seu governo foram esmagados”, acredita Tanvi Madan, membro sênior da Brookings Institution, grupo de pesquisa americano especializado em política externa.
A Índia anunciou em maio que o encontro seria virtual, ao contrário do ano passado, quando Putin posou para fotografias e jantou com outros líderes, no Uzbequistão. Segundo Kugelman, não seria interessante para o primeiro-ministro indiano Narendra Modi receber os líderes da China e da Rússia apenas duas semanas após uma visita sua aos Estados Unidos, onde foi recebido com pompa pelo presidente americano Joe Biden.
A relação da Índia com a Rússia permanece estreita durante a guerra, mas o país vem sendo cortejado pelo Ocidente, que o vê como um contrapeso às crescentes ambições da China. Em setembro, Nova Déli também vai sediar o encontro do G-20, o grupo das vinte maiores economias mundiais. Por isso, uma das prioridades de Modi é equilibrar seus laços com o Oriente e o Ocidente. Esta também será uma oportunidade para a Índia se engajar mais profundamente com a Ásia Central.
Para Madan, da Brookings Institution, “a limitação com a SCO é que a China e a Rússia estão tentando transformá-la em um grupo antiocidental, e isso não se encaixa na política externa independente da Índia”.
Kugelman, do Wilson Institute, acrescenta: “Para países desconfortáveis com o Ocidente e suas políticas externas, a SCO é uma alternativa bem-vinda, principalmente pelos papéis que a Rússia e a China desempenham. Acho que isso destaca o quão relevante e preocupante esse grupo pode ser para várias capitais ocidentais, especialmente se continuar se expandindo”.
Confrontos intensos marcam o fim de semana na Ucrânia
Em comunicado nesta segunda-feira, a vice-ministra da Defesa ucraniana Hanna Malyar afirmou que ocorreram “combates pesados” na última semana em diversas frentes de batalha no leste do país, onde a Rússia avança com ataques na região de Donetsk. No final de semana, ela descreveu a situação nos campos de batalha como “bastante complicada”.
Segundo Malyar, as forças ucranianas retomaram 9 Km² no leste, mas a informação não pôde ser checada de forma independente e o Ministério da Defesa russo afirmou que as tentativas de avanço de Kiev foram repelidas. No sul, a vice-ministra afirmou ter reconquistado mais de 28 Km² e acrescentou que “ações ofensivas” continuam em direção a Berdiansk e Melitopol, cidades atualmente sob controle russo.
A contra-ofensiva ucraniana começou no mês passado e foi lenta e cansativa para as forças do país, embora analistas considerem que ela ainda está em estágio inicial e que a Ucrânia ainda não comprometeu o grosso de suas tropas.
Oficiais ucranianos e países aliados do Ocidente, que forneceram armas sofisticadas e treinamento para a contra-ofensiva, defenderam o ritmo da operação, mas advertiram que a campanha será longa e sangrenta. O presidente Volodmir Zelensky reconheceu que “a semana passada foi difícil” nos fronts, mas enfatizou que “progressos” estão sendo feitos. “Estamos avançando, passo a passo”, disse ele em uma mensagem no Telegram.
As forças ucranianas têm enfrentado forte resistência russa, mas obtiveram pequenos ganhos recuperando aldeias agrícolas em Donetsk e Zaporizhzhia. Segundo militares, confrontos intensos também ocorreram na região de Kherson no final de semana, com a cidade tendo sido bombardeada 35 vezes pelo exército russo em apenas 24 horas. Considerando toda a região, teriam sido 85 bombardeios, que feriram seis pessoas, incluindo uma criança. /AP e NYT
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