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Putin tomou a decisão de invadir a Ucrânia, diz Biden

Declaração ocorre em meio a bombardeios em região separatista na Ucrânia que EUA acreditam ser um pretexto para invasão

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Por Redação

WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse nesta sexta-feira, 18, estar convencido de que Vladimir Putin tomou a decisão de invadir a Ucrânia, incluindo um ataque à capital, Kiev. A declaração foi dada durante coletiva de imprensa na Casa Branca após uma ligação com demais líderes ocidentais. A fala ocorre em meio ao aumento das tensões longo da fronteira ucraniana, com ataques que o Ocidente chamou de operações de “bandeira falsa” para criar um pretexto para a invasão.

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Questionado pelos repórteres se acreditava que a Rússia já havia tomado a decisão de invadir, o presidente respondeu “sim” e acrescentou que sua percepção era baseada nos relatórios da inteligência americana. Ele não descartou a resolução diplomática, mas ressaltou que qualquer ação militar antes do próximo encontro entre o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, e o chanceler russo, Serguei Lavrov, em 24 de fevereiro, encerraria este canal.

"A partir deste momento, estou convencido de que ele tomou a decisão”, afirmou. Quando questionado se uma resolução diplomática já estava "fora da mesa", o presidente respondeu que "a diplomacia é sempre uma possibilidade".

Medidas adotadas por Joe Biden foram percebidas como a causa da inflação. Foto: Leah Millis/Reuters - 8/2/2022

Antes da coletiva, Biden fez uma ligação com líderes do Reino Unido, Canadá, França, Alemanha, Itália, Polônia e Romênia, além da União Europeia e da Otan, para manter uma posição unificada com relação às tensões na Ucrânia. Desde a semana passada, os EUA alertam que a Rússia pode invadir “a qualquer momento”.

Também nesta sexta-feira, os Estados Unidos disseram que cerca de 190.000 soldados russos estavam dispostos dentro e perto da Ucrânia, apesar dos anúncios russos de retirada das tropas nos últimos dias. O número é muito maior que os 130.000 do fim de janeiro. Os americanos também repetiram os avisos de que Moscou tentaria fabricar uma provocação da Ucrânia para justificar uma invasão de seu vizinho, além de acusar a Rússia de ser responsável por recentes ataques cibernéticos contra o Ministério da Defesa ucraniano e grandes bancos.

A reunião entre os líderes e as novas acusações da Casa Branca ocorreram após intensos bombardeios na noite desta quinta-feira nas duas regiões separatistas pró-Rússia da Ucrânia, Donetsk e Luhansk. O movimento aumentou o receio de que a Rússia usaria os conflitos na bacia de Donbass para justificar uma invasão à Ucrânia. As províncias informaram nesta sexta-feira que estão retirando seus civis.

Aos repórteres, Biden acusou a Rússia de provocar desinformação ao acusar a Ucrânia de provocar os ataques. "Continuamos a ver mais e mais desinformação sendo divulgada ao público russo, incluindo separatistas apoiados pela Rússia, alegando que a Ucrânia planeja lançar um ataque ofensivo maciço no Donbass", disse Biden.

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"Olhe, não há evidências dessas afirmações, e desafia a lógica básica acreditar que os ucranianos escolheriam este momento, com mais de 150.000 soldados dispostos em suas fronteiras, para escalar um conflito".

"Tudo isso é consistente com a cartilha que os russos usaram antes", completou. "Isso também está de acordo com o cenário de pretexto sobre o qual os Estados Unidos e nossos aliados e parceiros vêm alertando há semanas".

Ao mesmo tempo, o Kremlin anunciou a realização de grandes exercícios nucleares neste fim de semana que incluirão o lançamento de mísseis balísticos e de cruzeiro, disse o Ministério da Defesa do país. Os movimentos serão acompanhados de perto pelo presidente Vladimir Putin.

Bombardeios no Leste 

Um atentado a bomba atingiu um carro do lado de fora do principal prédio do governo na cidade de Donetsk, no leste, de acordo com  Associated Press. O chefe das forças separatistas, Denis Sinenkov, disse que o carro era dele, informou a agência de notícias Interfax. Não houve relatos de vítimas e nenhuma confirmação independente das circunstâncias da explosão. 

Bombardeios e tiros são comuns ao longo da linha que separa as forças ucranianas dos rebeldes, mas a violência direcionada é incomum em cidades controladas por rebeldes como Donetsk.

Separatistas nas regiões de Luhansk e Donetsk, que formam o centro industrial da Ucrânia conhecido como Donbass, disseram que estão retirando seus civis para a Rússia. O anúncio parecia fazer parte dos esforços de Moscou para combater as advertências ocidentais de uma invasão russa e, em vez disso, pintar a Ucrânia como agressora.

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Denis Pushilin, chefe do governo rebelde de Donetsk, disse que mulheres, crianças e idosos vão primeiro, e que a Rússia preparou instalações para eles. Pushilin alegou em uma declaração em vídeo que o presidente ucraniano Volodmir Zelenski ordenaria uma ofensiva iminente na área.

Autoridades dos EUA alegaram que os planos do Kremlin incluíam vídeos pré-gravados como parte de uma campanha de desinformação de que o ataque partia da Ucrânia.

Putin ordenou que seu ministro de emergências voasse para a região de Rostov, na fronteira com a Ucrânia, para ajudar a organizar o êxodo e ordenou que o governo oferecesse um pagamento a cada deslocado.

A Ucrânia negou ter planejado qualquer ofensiva, com o ministro das Relações Exteriores, Dmitro Kuleba, dizendo que “a Ucrânia não conduz ou planeja tais ações no Donbass”. “Estamos totalmente comprometidos apenas com a resolução diplomática de conflitos”, ele twittou.

Em torno da volátil linha de contato, um comboio da Acnur foi alvo de bombardeios rebeldes na região de Luhansk, disse o chefe militar da Ucrânia. Nenhuma vítima foi relatada. Os rebeldes negaram envolvimento e acusaram a Ucrânia de encenar uma provocação.

Autoridades separatistas relataram mais bombardeios por forças ucranianas ao longo da linha. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse que a situação é “potencialmente muito perigosa”. Uma onda de bombardeios na quinta-feira atravessou as paredes de um jardim de infância, ferindo duas pessoas, e as comunicações básicas foram interrompidas. Ambos os lados acusaram-se mutuamente de quebrar o cessar-fogo proposto nos Acordos de Minsk.

Sanções severas

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Em nota, a Casa Branca disse que Biden e os demais aliados "se comprometeram a continuar buscando a diplomacia para diminuir as tensões e, ao mesmo tempo, garantir a prontidão para impor custos econômicos rápidos e coordenados à Rússia, caso ela opte por mais conflitos."

Durante a coletiva, Biden voltou a falar em "sanções severas" em caso de invasão. "O resultado final é este. Os Estados Unidos e nossos aliados e parceiros apoiarão o povo ucraniano. Vamos responsabilizar a Rússia por suas ações. O Ocidente está unido e resolvido. Estamos prontos para impor sanções severas à Rússia se continuar invade", disse Biden.

"A Rússia ainda pode escolher a diplomacia. Não é tarde demais para diminuir a escalada e retornar à mesa de negociações", completou.

Antes de Biden, conselheiros da Casa Branca deram uma coletiva de imprensa falando sobre a extensão das sanções que serão impostas em caso de invasão russa. “O custo para a Rússia seria imenso, tanto para sua economia quanto para sua posição estratégica no mundo”, disse Daleep Singh, vice-conselheiro de segurança nacional para economia internacional.

“Estamos preparados para impor controles de exportação poderosos como parte de nosso pacote de resposta. Tanto as sanções financeiras quanto os controles de exportação negarão à Rússia algo de que ela precisa e não pode obter de nenhum outro lugar além dos Estados Unidos ou de nossos aliados e parceiros", prometeu.

Segundo ele, a intenção é tornar a Rússia um pária internacional. “Ela ficará isolada dos mercados financeiros globais e será privada dos insumos tecnológicos mais sofisticados. A Rússia enfrentaria a perspectiva de intensas saídas de capital, pressão crescente sobre sua moeda, inflação crescente, custos de empréstimos mais altos, contração econômica e erosão de sua capacidade produtiva.”

A vice-presidente Kamala Harris disse que os EUA ainda esperam que a Rússia diminua a escalada, mas estão prontos para atingi-la com duras sanções em caso de ataque. Os líderes dos EUA emitiram nesta semana seus mais terríveis alertas de que Moscou poderia ordenar uma invasão da Ucrânia a qualquer dia.

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"Continuamos, é claro, abertos e desejosos de diplomacia... mas também estamos comprometidos, se a Rússia tomar medidas agressivas, para garantir que haverá consequências graves", disse Harris na Conferência de Segurança anual de Munique./AP

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