MOSCOU - Como era esperado, Vladimir Putin foi eleito para um novo mandato, que o consolidará como líder mais longevo deste a Revolução da Rússia. A votação de três dias encerrada neste domingo, 17, ocorreu em um ambiente rigidamente controlado, sem alternativas reais a Putin, que vence com 87,3% dos votos com metade das urnas apuradas.
Putin obteve quase 10 pontos percentuais a mais do que na última eleição, em 2018, e o Kremlin deve retratar esse resultado como um sinal de apoio à invasão da Ucrânia, embora nenhum candidato crítico a guerra tenha sido autorizado a concorrer. Kiev e aliados europeus, por outro lado, denunciam a votação como ilegítima.
Em seu discurso de vitória para apoiadores, Putin disse que priorizaria resolver tarefas do que ele chamou de “operação militar especial” da Rússia na Ucrânia e que fortaleceria o exército russo, segundo a agência Reuters. “Tempos muitas tarefas pela frente. Mas quando estamos unidos - não importa quem queira nos intimidar, nos suprimir - ninguém jamais conseguiu na história, não conseguiram agora e não conseguirão jamais no futuro,” disse Putin.
Apesar do controle do Kremlin, a reta final da eleição foi marcada por um protesto silencioso dos apoiadores de Alexei Navalni, o líder opositor que morreu em prisão do Ártico um mês antes da votação. Ao meio dia em Moscou, última hora do pleito, os russos fizeram filas nas seções eleitorais, aparentemente atendendo ao chamado que Nalvani fez antes de morrer e ficou conhecido como “meio-dia contra Putin”.
A Associated Press afirmou que não foi possível confirmar se os eleitores mostrados em fila nos locais de votação em vídeos e fotos divulgados pelos associados de Navalni responderam ao chamado de protesto ou apenas refletiram um forte comparecimento dos eleitores. Mas alguns russos esperando para votar em Moscou e São Petersburgo disseram à agência de notícias que participavam da manifestação.
A ONG que monitora os direitos políticos na Rússia, OVD-Info, registrou pelo menos 74 prisões em 17 cidades da Rússia nesta reta final das eleições. Muitas estariam ligadas ao protesto.
Em uma fila em uma seção eleitoral por volta do meio-dia em Moscou, uma mulher que disse se chamar Yulia disse à AP que estava votando pela primeira vez. “Mesmo que o meu voto não mude nada, a minha consciência estará limpa...para o futuro que quero ver para o nosso país”, disse ela. Outro eleitor de Moscou, que também se identificou apenas pelo primeiro nome, Vadim, disse esperar uma mudança, mas acrescentou que “infelizmente, é improvável”.
Eleições denunciadas como ilegítimas
O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, disse neste domingo que Putin está “embriagado pelo poder” ao comentar sobre os resultados da eleição na Rússia. ‘O ditador russo imita outras “eleições”. Todo mundo entende que esta pessoa, como frequentemente acontece na história, está embriagada pelo poder e quer governar eternamente. Não há maldade que ele não cometa para prolongar seu poder pessoal’, disse.
Também no Leste Europeu, o Ministério das Relações Exteriores da Polônia disse em nota que “a eleição presidencial russa não é legal, livre e justa”. O comunicado acrescenta que a votação ocorreu em meio a “duras repressões” e criticou a realização do pleito em regiões ocupadas da Ucrânia.
Na mesma linha, o Reino Unido disse que a Rússia demonstra não ter interesse em encontrar um caminho para paz ao criticar a realização de eleições em solo ucraniano. E aproveitou para reafirmar o apoio a Kiev.
Eleição sem opositores reais
Vladimir Putin está no poder desde 2000, se alternando entre os cargos de presidente e primeiro-ministro e, se completar mais seis anos à frente da Rússia, se tornará o líder mais longevo desde a revolução, ultrapassando Josef Stalin, que ocupou o Kremlin por 29 anos. Graças a uma reforma que promoveu no sistema russo, Putin ainda tem o caminho aberto para buscar mais um mandato e completar 36 anos como chefe do Kremlin.
Apenas três candidatos – de partidos amigos do governo – foram autorizados a concorrer:: Nikolai Kharitonov, 75 anos, do Partido Comunista; o nacionalista linha-dura Leonid Slutsky, 56, do Partido Liberal Democrata, que apelou à execução de prisioneiros de guerra ucranianos; e Vladislav Davankov, 40 anos, do Partido do Novo Povo, que apoiou a guerra.
Já os candidatos críticos à invasão da Ucrânia, Yekaterina Duntsova e Boris Nadezhdin, foram impedidos de concorrer depois que a Comissão Eleitoral Central afirmou ter encontrado falhas nas assinaturas de que precisavam para ganhar um lugar nas urnas. Em 2006, a comissão retirou a opção de votar contra todos os candidatos, eliminando o risco de votos de protesto. E as pesquisas já indicavam que ele teria mais de 80% dos votos.
Além da Rússia, a votação de três dias também foi realizada nos territórios ocupados pela Rússia na Ucrânia e na Transnístria, um território separatista pró-Rússia localizado na Moldávia./Com NY Times, AP e EFE
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