Qual será o impacto da vitória de Trump sobre o Brasil e o mundo?

Política externa trumpista trará significativas consequências para a geopolítica, para a economia e para alguns temas globais, como meio ambiente e mudança do clima, transição energética e o avanço da direita

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Foto do author Rubens Barbosa

As eleições presidenciais nos EUA refletiram o realinhamento político eleitoral na sociedade norte-americana.

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O Partido Democrata, sempre visto como progressista, apoiado pela classe média alta, com diploma universitário, passou a ser um partido percebido como da elite, desconectado dos reais problemas da população, respaldado por eleitores com educação superior, urbanos sem religião e mulheres.

O Partido Republicano, por influência de Donald Trump, deixou de apoiar valores conservadores de direita e passou a defender interesses concretos dos menos favorecidos, sendo apoiado pelos que não tem educação superior, da área rural, religiosos (pentecostais), homens.

Imagem mostra Donald Trump e seu vice, JD Vance, no discurso de vitória das eleições, no dia 6. Republicano fez discurso antes de vitória ser confirmada Foto: Evan Vucci/AP

Nesse contexto, a influência maior no resultado da eleição não foi o comportamento da economia, mas os anseios e preocupações sociais da classe média trabalhadora.

Não foi surpresa que os temas econômicos, a imigração e propostas isolacionistas externas tenham sido os temas mais importantes na campanha eleitoral, resumidos no “Vamos Tornar os EUA Novamente Grandes” (MAGA).

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As dificuldades da classe média, nos últimos anos empobrecida, com salários defasados, levando em conta a inflação e o preço da habitação, da energia e dos alimentos, além do número crescente de imigrantes, inclusive os ilegais, afetando o mercado de trabalho para o americano médio, explicam, em grande parte, a insatisfação de parte da população com as políticas do governo Biden, apesar do crescimento da economia e da redução da inflação, que não chegou na ponta, e não beneficiou o consumidor, afetando o ânimo do eleitor.

Contrariando a expectativa geral, a vitória de Trump foi rápida, ampla e sem contestação, inclusive com o controle do Senado, possivelmente da Câmara e vitória na votação nacional. Esse resultado terá profundo impacto sobre a sociedade norte-americana, que tenderá a ver agravada sua divisão e polarização, se as promessas de campanha forem implementadas.

No tocante ao cenário internacional, a política externa trumpista trará significativas consequências para a geopolítica, para a economia e para alguns temas globais, como meio ambiente e mudança do clima, transição energética e o avanço da direita.

Na guerra da Ucrânia, não será possível terminar o conflito militar no dia seguinte da sua posse, como prometido por Trump, mas certamente o governo norte-americano vai reduzir ou suspender o financiamento para economia ucraniana e para o esforço militar de Zelenski, fortalecendo a política de Putin de congelar a ocupação territorial e da Crimeia.

A Europa, dividida sobre essa questão, dificilmente cobrirá os custos do apoio à Ucrânia em substituição aos EUA. Kiev não terá atendido seu pedido de ingresso na Otan.

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O apoio irrestrito a Israel na guerra de Gaza e no Líbano, com Trump, poderá aumentar o risco de uma escalada militar com um possível ataque ao Irã.

As tensões entre os EUA e a China deverão aumentar, sobretudo, se a promessa de novas e altas tarifas sobre produtos chineses for cumprida e se crescer a retórica americana contra a ameaça chinesa a Taiwan.

As ações globais para a preservação do meio ambiente e mudança de clima e a transição energética ficarão afetadas pela perda de prioridade no novo governo Trump, que prometeu ampliar a pesquisa e exploração de petróleo e gás no território americano e não priorizar as metas previstas no acordo de Paris.

A COP-30 no Brasil poderá ser esvaziada pela ausência do presidente dos EUA. O avanço da direita no mundo ganhará reforço e apoio de Washington. Milei, Bukele, Orban, Meloni serão prestigiados e ganharão mais espaço na América do Latina e na Europa.

O imprudente pronunciamento do presidente Lula manifestando sua preferência por Kamala Harris para “defender a democracia e evitar o nazismo e o fascismo com outra cara” não vai ajudar na relação entre os chefes de Estado.

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As relações entre os dois Estados não deverão ser afetadas, mas algumas promessas de campanha certamente estão causando preocupação ao atual governo: a agenda climática, a questão da Venezuela, os problemas com Elon Musk (o “grande gênio” nas palavras de Trump), associados a retórica de restrições à liberdade de expressão e às relações de Trump com o bolsonarismo.

Eduardo Bolsonaro estava, como amigo de Trump, em Mar a Lago, comemorando a vitória republicana, e não será surpresa se vier a estimular provocações e mesmo restrições ao governo Lula.

Indiretamente, as políticas econômicas e comerciais do governo Trump, se cumpridas as promessas de campanha, poderão impactar o comportamento do dólar, a inflação e a taxa de juros no Brasil, em função do aumento das tarifas de produtos importados e do consequente reflexo na inflação americana, no déficit público e na taxa de juros do Fed.

As decisões sobre a política de Lula em relação ao Brics e a reunião do ano próximo no Brasil e ao ingresso na iniciativa chinesa sobre a Nova Rota da Seda serão importantes no relacionamento com os EUA.

O Brasil deveria tomar decisões nessas questões de acordo com o interesse nacional e reafirmar uma posição de independência em relação a países ou grupo de países, sem ideologia ou partidarismo.

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