A ascensão de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, em 2016, mudou radicalmente a política americana e o Partido Republicano. O ideal do conservadorismo tradicional, no estilo de Ronald Reagan, teve um declínio radical na última década. Mas a eleição presidencial de 2024 promete reascender o debate interno da direita americana, que deverá escolher entre o fenômeno populista do “Trumpismo” e o velho conservadorismo de livre mercado.
Asa Hutchinson, o ex-governador do estado de Arkansas e candidato presidencial em 2024, se considera parte da velha guarda. No anúncio da sua candidatura à presidência, em abril do ano passado, Hutchinson criticou o estado atual da direita americana e enfatizou que, nesta eleição, ele estará lutando “pelo futuro de nosso país e pela alma de nosso partido [Republicano]”.
O político republicano nasceu em 3 dezembro de 1950 no berço de uma família confortável no noroeste do Arkansas, em uma das regiões mais conservadoras do país, mesmo durante o período em que o estado era dominado pelos democratas. Desde sua adolescência ele esteve envolvido na política, e depois de trabalhar durante alguns anos como advogado, foi nomeado Procurador dos EUA para o Distrito Oeste do Arkansas em 1982 - tornando-se o procurador mais jovem do país aos 31 anos.
Em 1985 ele deixou o cargo de procurador dos EUA para se candidatar a outros cargos políticos. Após diversas derrotas na arena política, sua carreira eleitoral demorou para decolar, até que em 1996 conseguiu se eleger como representante republicano pelo 3º distrito do estado em que nasceu. Em 1999 ele se reelegeu e fez parte do grupo de representantes do legislativo americano que julgaram o impeachment do Bill Clinton. Depois de um julgamento longo e repleto de especulações sobre o então presidente, o Senado acabaria deliberando pelo não julgamento de Clinton.
Em 2001, Hutchinson alcançou seu terceiro mandato no Congresso. Mas nesse ano, o presidente George W. Bush decidiu indicá-lo para o cargo de diretor da Administração de Combate às Drogas (DEA). Em 2005 deixou o governo Bush para se candidatar ao cargo de governador em Arkansas, mas perdeu em 2006.
Durante os próximos 7 anos, ele desapareceu da política. Voltou a exercer a advocacia e criou uma consultoria da área. Não foi até 2013 que Hutchinson voltou ao cenário político nacional, quando atuou como porta-voz da polêmica Associação Nacional de Rifles (ou NRA) para apoiar a inserção de guardas armados nas escolas após o ataque a tiros que ocorreu nesse ano na escola Sandy Hook, em Newtown, Connecticut — um dos casos de ataques a tiros em escolas que mais marcaram os EUA.
Em 2015 o político foi eleito governador de Arkansas, cargo para o qual foi reeleito com recorde de votos, e que ocupou até janeiro do ano anterior.
Hutchison tem um estilo de campanha tradicional, baseado no “orgulho americano”, mas com uma visão internacionalista muito alinhada às políticas de Bush e Reagan. Ao contrário de Trump, Hutchison defende o livre comércio. Em 2021, o político declarou a um site local que: “O comércio internacional gera empregos nos Estados Unidos, e a ênfase no comércio justo e livre é um elemento essencial de nossa política externa. Nosso mercado livre produz os melhores produtos, inspira a maior criatividade, constrói as economias mais robustas e cria a melhor qualidade de vida. Para todas as iniciativas que podemos apresentar para fortalecer a economia interna, a troca de bens e ideias com a menor interferência dos governos nos servirá melhor”.
Tanto na eleição de 2016 quanto na eleição de 2020, Hutchinson endossou a campanha de Trump à presidência, mas cortou o ao ex-presidente após o espetáculo eleitoral do magnata que levou à fatídica invasão do capitólio, em Washington. “Não acredito que a eleição tenha sido roubada, e respeito os resultados”, disse Hutchinson em janeiro de 2022, sobre as alegações falsas de Trump de que a última eleição havia sido roubada por Joe Biden.
“Donald Trump apelou para os instintos básicos dos americanos e construiu sua campanha com base em ressentimentos do passado. Isso apela a um certo segmento, mas não realiza o trabalho para os EUA”, disse em outra ocasião.
Seguindo a linha da maior parte dos membros do seu partido, Hutchinson também não mede críticas contra Joe Biden, a quem culpa por ter gerado uma “imagem fraca” dos Estados Unidos diante o mundo, com a retirada “desastrosa” do exército americano de Afeganistão (gerando subsequente toma do poder do país pelo Taleban), algo que foi visto “como uma oportunidade para a Rússia invadir a Ucrânia e depois para a China ameaçar e ser agressiva em relação a Taiwan”.
Anti-isolacionista e conservador tradicional, Hutchinson propõe pautas antigas do partido Republicano, como aumentar o tamanho do exército, ampliar a influência americana no exterior e combater o tráfico de pessoas e de drogas na fronteira com o México.
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