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Quem é Donald Trump, candidato à presidência dos EUA

Ex-presidente está concorrendo a presidência pela terceira vez; na atual candidatura, se tornou o republicano mais velho da história a disputar a presidência, com 78 anos

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Atualização:

Ninguém sabe mais do sistema americano que ele e só ele pode resolver. Foi assim que Donald Trump se descreveu no discurso na Convenção Nacional Republicana em 2016, com a promessa de construir um muro na fronteira com o México e o slogan Make America Great Again (”Fazer a América Grande de Novo”).

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Quatro anos depois, prometeu restaurar os Estados Unidos através “da lei e da ordem”, em um momento de pandemia da covid-19 e manifestações antirracistas por causa da morte de George Floyd. Ao perder, inflou os apoiadores a invadir o Capitólio com a mentira de que os democratas haviam roubado a eleição.

Em sua terceira campanha, apenas a intensidade do discurso mudou. Não se fala mais em muro, mas em deportação em massa de milhões de imigrantes ilegais, com o uso de militares para cercar e prender e discurso de que os EUA está sendo invadido e conquistado por criminosos estrangeiros. “Eles (os imigrantes) estão envenenando o sangue de nosso país”, afirmou em um de seus comícios, em dezembro de 2023.

O candidato presidencial republicano e ex-presidente Donald Trump fala em um comício no PPL Center em Allentown, Pensilvânia Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

Donald Trump redefiniu o Partido Republicano, os temas mais debatidos nos EUA e o equilíbrio de poder no mundo. Antes disso, era apenas conhecido em programas de televisão, tabloides e aparições em filmes. Por anos, construiu uma imagem de ostentação e sucesso, mesmo estando no centro de casos de fraude e já ter declarado falência em seis diferentes ocasiões.

O ex-presidente também é réu em diversos processos criminais, que inclui conspiração contra o Estado pelo incentivo ao ataque ao Capitólio. Ainda assim, é a voz mais influente dos republicanos e aparece empatado nas pesquisas com a candidata democrata e vice-presidente Kamala Harris.

O que fará se ganhar em 2024 e o que fará se não ganhar – temor de muitos americanos desde 6 de janeiro de 2021, data da invasão ao Capitólio – são questões recorrentes nesta eleição.

Fred Trump, empresário, Art of the Deal

Um dos quatro filhos do magnata imobiliário Fred Trump, Donald não tinha expectativa de herdar a empresa do pai – o irmão, Fred Trump Jr., era o herdeiro original, mas morreu aos 43 anos por causa do alcoolismo. De acordo com o próprio empresário, sua entrada no ramo imobiliário aconteceu com um empréstimo de US$ 1 milhão do pai, antes dele se juntar à empresa paterna. Mas em 1971, Trump herdou a empresa e mudou o nome para Trump Organization.

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Com a empresa sob nova direção, o sobrenome se tornou sua própria marca: cassinos, condomínios, hotéis e pistas de golfe carregam Trump em seus nomes. O empreendimento mais famoso é a Trump Tower, propriedade mais valiosa do empresário e sua casa por muitos anos. Ao longo dos anos, a Trump Organization se tornou conhecida não só em Nova York, mas em Chicago, Atlantic City, Las Vegas e em outros países, como Índia, Filipinas, Turquia e Panamá.

Contudo, o que o transformou foi a publicação do livro “Trump: The Art of the Deal”. A marca de Trump se consolidou como símbolo de sucesso, esperteza e prosperidade. Publicado em 1987, o livro é um ícone da cultura pop e se vende como guia para empresários e item de ostentação. A publicação não só ajudou espalhar seu nome, mas também foi indiretamente o motivo para a criação de outro produto midiático: o reality show de televisão “The Apprentice” (O Aprendiz), em 2004.

Mark Burnett, produtor do programa e fã do livro, quis que Donald Trump fosse ele mesmo, um empresário que ostentava um estilo de vida luxuoso. Sendo um reality show, a ideia seriam de duas equipe competindo entre si para apresentar projetos para o anfitrião, o próprio Trump. O finalista seria considerado o “Aprendiz” e trabalharia para a Trump Organization, além de outros prémios. Para Trump, o programa era “a entrevista de emprego definitiva” para o mundo dos negócios.

Em paralelo, o empresário também marcou presença em outros espaços - dono de concursos de beleza, a exemplo do Miss Universe e Miss USA, participante em programas de rádio e convidado em filmes, como Esqueceram de Mim 2.

A disposição em aparecer nem sempre foi inocente. Em 1989, o empresário espalhou propagandas em Nova York que pediam pela sentença de morte de cinco homens negros e latinos acusados de estupro de uma corredora, Trisha Meili, no Central Park. O grupo, que ficou conhecido como Os Cinco do Central Park, foi injustamente condenado à prisão à época, mas o magnata pedia pelas suas execuções. “Eu quero odiar esses assassinos e sempre irei. Não procuro analisá-los ou entendê-los, procuro puni-los”, dizia.

Mesmo depois dos cinco serem inocentados, Trump se recusou em 2019, quando já era presidente, a pedir desculpas pelos comentários.

De 2011 até 2015, o magnata também foi comentarista político na Fox News e responsável por espalhar o boato de que o presidente Barack Obama não teria nascido nos EUA. Posteriormente, ele admitiu que a história não era verdade, mas nunca se desculpou por isso.

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Sendo uma voz imponente na mídia e famoso nos tabloides sensacionalistas, Trump começou a ser mais ativo na política dos Estados Unidos em 2000, mas a grande entrada só aconteceu em 2015, quando decidiu concorrer nas primárias do Partido Republicano.

Campanha de 2016

Apesar de parecer improvável, Trump nem sempre foi republicano. Ele se filiou ao partido pela primeira vez em 1987, mas se declarou independente em 1999, democrata em 2001 e republicano novamente em 2009. Em 2011, mais uma vez ficou sem partido, mas no ano seguinte retornou à legenda da qual faz parte até hoje. Em duas ocasiões, 2000 e 2011, ele sugeriu se candidatar à presidência. Embora não tenha prosseguido com a ideia, o empresário fez a primeira aparição no Conservative Political Action Conference (CPAC), a plataforma que reúne os conservadores americanos, em 2011.

Quatro anos depois, Donald Trump disse pela terceira vez que seria candidato à presidência. Anunciou o plano num discurso de ódio contra imigrantes e muçulmanos, colocando-se como um outsider que combateria a elite política e alguém capaz de levar os EUA para os “melhores tempos do passado”. A ideia de um declínio na sociedade americana estava no ar, e Trump catapultou o slogan Make America Great Again, depois transformado em movimento.

Entre as propostas iniciais daquele candidato estava a construção de um muro na fronteira com o México para parar a imigração ilegal. Ou, nas palavras dele, para parar “drogas, crimes e estupradores” de entrarem nos EUA.

O candidato presidencial republicano e ex-presidente Donald Trump chega a um evento de campanha em sua propriedade Mar-a-Lago, em Palm Beach, Flórida Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

A princípio, o candidato Donald Trump parecia uma piada, mas os comentários atraiam uma cobertura cada vez maior da imprensa. Aos poucos, as ideias se tornaram temas de debate em grandes emissoras e se espalharam. Nas primárias republicanas, o magnata superou nomes como Ted Cruz, Lindsay Graham e Jeb Bush, mais tradicionais no partido.

Uma vez escolhido para representar o Partido Republicano na eleição, ele enfrentou a democrata Hillary Clinton, uma veterana na política. Embora ela tenha conquistado 2,9 milhões de votos a mais, o republicano ganhou nos colégios eleitorais, que garantem a eleição nos EUA. Foram 306 votos a 277, contrariando o que diziam as pesquisas eleitorais em Estados como Michigan, Pensilvânia e Wisconsin.

A vitória causou protestos pelos Estados Unidos e mundo afora. Apesar disso, Hillary Clinton reconheceu sua derrota um dia após o fim das eleições.

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Era Trump

No início do mandato, o presidente Trump revogou medidas do governo Obama, muitas referentes ao meio-ambiente, e retirou os EUA de acordos internacionais importantes, como os Acordos de Paris e o Acordo Nuclear do Irã. Dizia que eram injustos para o país. Além disso, proibiu a entrada de pessoas de sete países muçulmanos, incentivou o medo de imigrantes e criticou líderes de países aliados, como Angela Merkel da Alemanha e Emmanuel Macron da França. Em contrapartida, estreitou laços com autocratas, como Vladimir Putin da Rússia e Kim Jong-un, da Coreia do Norte.

Trump também foi leniente com casos de crimes de ódio. Em 2017, disse que havia “pessoas muito boas dos dois lados” após uma manifestação neonazista em Charlottesville, na Virgínia. Dados pelo FBI mostram houve um aumento de 28% nesse tipo de crime durante o seu mandato. Quando perguntado se iria condenar o grupo neonazista Proud Boys, disse apenas para os críticos recuarem e aguardarem – em inglês, ‘stand back and stand by’.

O presidente também ganhou destaque por nomear muitos juízes no nível federal dos Estados Unidos, incluindo três juízes para a Suprema Corte (Neil Gorsuch, Brett Kavanaugh e Amy Coney Barrett). As três nomeações tiveram críticas: Gorsuch assumiu uma vaga segurada pelos republicanos desde antes das eleições, o que impediu Obama de nomear Merry Garland; Kavanaugh foi acusado de abuso sexual, mas foi aprovado na sabatina do Senado; e Amy Barrett teve a nomeação adianta para antes das eleições de 2020.

Em 2022, a presença dos três juízes na Suprema Corte possibilitou a revogação da decisão Roe vs Wade, que protegia o direito ao aborto nos EUA.

O ex-presidente Donald Trump, candidato presidencial republicano, fala durante um comício de campanha em Allentown, Pensilvânia Foto: Kenny Holston/NYT

A campanha de Trump em 2016 também foi investigada por um conluio com a Rússia. 34 pessoas ligadas ao presidente foram consideradas culpadas por crimes hackers e financeiros, mas ele não foi acusado.

O republicano ainda foi alvo de um pedido de impeachment em 2019 por pressionar o presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, a investigar o democrata Joe Biden e seu filho, Hunter Biden. Para isso, teria ameaçado pôr fim ao apoio militar caso a Ucrânia não fornecesse informações contra Biden. Embora tenha sofrido impeachment na Câmara, foi absolvido pela maioria republicana no senado em 2020.

Pandemia de covid-19 e eleições 2020

Tendo sobrevivido um processo de impeachment, o governo Trump encararia o primeiro ano da pandemia da covid-19 no sentido contrário de todas as normas de segurança sanitárias: foi contra máscaras, testes, lockdown e a favor do uso da cloroquina, contrariando a opinião médica. O republicano chegou a sugerir injeção de desinfetante nos infectados.

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Com as críticas pela atuação na crise e um cenário drástico nos EUA, que liderava no número de casos e mortes, muitos que votaram em Trump em 2016 mudaram o voto para Joe Biden em 2020. A apuração durou uma semana e consagrou o democrata vencedor.

O republicano, no entanto, não aceitou o resultado e começou uma campanha de difamação. A teoria de que a eleição foi roubada se espalhou e resultou na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021.

A invasão aconteceu após Trump motivar apoiadores a impedirem que Biden assumisse o cargo. Mais de dois mil apoiadores do ex-presidente invadiram o Capitólio, 140 policiais foram feridos e 5 pessoas, mortas. Milhares de invasores foram acusados por crimes de depredação e violência contra policiais e muitos foram presos após investigações federais. Até hoje, Trump afirma que a invasão foi um “ato patriótico” e diz que, caso eleito, irá perdoar e liberar os apoiadores que estão presos.

Por causa da invasão ao Capitólio, a Câmara dos Representantes dos EUA indicou Trump mais uma vez em um novo processo de impeachment, que impediria ele de se candidatar neste ano. Mais uma vez, o republicano foi absolvido pelos senadores. E, contrariando expectativas, Trump permaneceu como o nome mais forte da direita na política dos EUA.

Casos na justiça e eleições 2024

Fora da Casa Branca, Donald Trump não desapareceu. O “Citzen Trump” esteve na mira de investigações e processos criminais, sendo o primeiro ex-presidente a ser intimado, quatro vezes, por interferência eleitoral na Geórgia, manuseio inadequado de documentos secretos, fraudes financeiras da Trump Organization e invasão ao Capitólio. Além disso, o ex-presidente enfrenta diversos processos civis acusado de difamação, assédio sexual e outras questões que envolvem suas empresas.

Ele foi julgado culpado no caso civil da jornalista E. Jean Carroll por abuso sexual e difamação e também no caso de fraude envolvendo a atriz pornô Stormy Daniels. Outros seguem na justiça e devem ser julgados após as eleições.

Apesar de tudo, Trump continuou sendo o político preferido do eleitorado republicano e superou os outros candidatos na primária dos partidos, mesmo sem aparecer em debate. Num cenário de disputa contra o presidente Joe Biden, o ex-presidente aparecia como favorito para ganhar a eleição, mesmo com os bons números da economia americana. A fraca performance do democrata em um debate em julho agravou essa percepção, dando início a uma crise na candidatura democrata.

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Dias depois, o ex-presidente sofreu um atentado durante um comício. A imagem dele ganhou força sobretudo pela reação após o atentado, quando se levantou com o rosto sangrando por causa de uma bala que o atingiu de raspão e ergueu os punhos para a multidão. Biden desistiu da candidatura dias depois, e a entrada de Kamala Harris na disputa equilibrou a disputa.

Durante a campanha, Trump se tornou menos inibido do que em 2016 e radicalizou ainda mais as ideias. Ele planeja deportar milhões de imigrantes dos EUA com ajuda militar e fechar emissoras que contrariem suas ideias. Durante um comício, chegou a declarar que gostaria de ser um ditador. “Por um dia, apenas”.

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