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Fernando Villavicencio: quem era o candidato à Presidência assassinado no Equador

Ex-jornalista de 59 anos foi morto a tiros em um comício na cidade de Quito nesta quarta-feira, 9; candidato era conhecido por denúncias no passado de vários casos de corrupção governamental

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Por Redação
Atualização:

O candidato presidencial do Equador, Fernando Villavicencio, foi assassinado com tiros na cabeça nesta quarta-feira, 9, em um atentado durante um comício político em uma escola no norte de Quito, a 11 dias das eleições gerais e em meio a uma onda de violência que afeta várias partes do país sul-americano.

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Villavicencio foi um dos oito candidatos registrados para a eleição presidencial de 20 de agosto. O político não estava entre os favoritos, com apenas 10% das preferências, embora fosse uma figura conhecida por denunciar no passado vários casos de corrupção governamental.

O candidato estava mobilizado com proteção policial há várias semanas e, segundo o que Patricio Zuquilanda, assessor da campanha do candidato, disse à The Associated Press, Villavicencio havia recebido duas ameaças de morte, mas não deu mais detalhes.

O candidato à presidência Fernando Villavicencio falando durante sua inscrição para a candidatura à presidência do Equador.  Foto: José Jácome / EFE

Quem foi Villacicencio?

Ex-jornalista investigativo, Fernando Villavicencio tinha 59 anos e foi uma das vozes mais críticas contra a corrupção, especialmente durante o governo do ex-presidente Rafael Correa, de 2007 a 2017. Ele apresentou muitas queixas judiciais contra membros do alto escalão do governo de Correa, inclusive contra o próprio ex-presidente.

Nascido na cidade andina de Alausí, na província de Chimborazo, no sul do país, Villavicencio era o mais velho de seis irmãos e cresceu no campo até sua família migrar para Quito, onde trabalhou como garçom desde muito jovem, de acordo com uma entrevista recente ao jornal El Universo.

Ele se envolveu com a indústria petrolífera - da qual tinha amplo conhecimento - quando ocupou um cargo na área de relações comunitárias da estatal Petroecuador. “Meu trabalho era contra a indústria petrolífera porque o que eu fazia era investigar e registrar os impactos da indústria petrolífera”, disse ele, acrescentando que “eu sempre acabava emitindo relatórios contra a própria empresa”.

Após deixar o setor petrolífero, ele trabalhou como jornalista para os portais Plan V, Mil Hojas e Periodismo de Investigación. Villavicencio, apelidado de Don Villa por seus partidários, tornou-se membro da Assembleia Nacional, onde presidiu o comitê de supervisão que pediu o impeachment de Lasso por suposta corrupção, algo com que o candidato não concordava.

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A última denúncia apresentada por Villavicencio implica o ex-vice-presidente Jorge Glas, ex-ministro do governo Correa, e a Petroecuador por supostos contratos ilegais na concessão de 21 poços de petróleo a empresas estrangeiras.

Ele era casado com Veronica Sarauz e deixa cinco filhos.

Anticorrupção

Villavicencio estava entre os candidatos mais francos sobre a ligação entre o crime organizado e as autoridades do governo. Sua morte provocou alarme imediato no Equador, uma nação que já foi relativamente segura e que tem sido consumida pela violência relacionada ao tráfico de drogas.

Feroz em sua luta contra a corrupção, o candidato à presidência Fernando Villavicencio apresentou denúncias de irregularidades em contratos estatais até dias antes de ser morto a tiros.

A reportagem, escrita com seu colega e amigo Christian Zurita, revelou um esquema de suborno que colocou o ex-presidente Correa e seus funcionários do governo na berlinda por receberem suborno de empresários.

Por esse caso, Correa, que está refugiado na Bélgica e a quem Villavicencio se referia como “o fugitivo”, foi condenado à revelia a oito anos de prisão.

Caminhão do Instituto Médico Legal do Equador chega ao local onde o candidato presidencial Fernando Villavicencio foi assassinado durante um comício em Quito, em 9 de agosto de 2023 Foto: Galo Paguay/AFP

Suas investigações lhe renderam sentenças de prisão.

Em 2014, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) lhe concedeu medidas cautelares depois que ele foi condenado a 18 meses de prisão por insultar Correa. Dois anos depois, um juiz ordenou sua prisão por ter supostamente revelado informações confidenciais com e-mails hackeados ao governo de Correa para apoiar as investigações sobre corrupção no setor de petróleo.

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Ele então se refugiou em Lima até 2017, quando retornou ao país sob o governo de Lenín Moreno (2017-2021), distante de Correa.

Na semana passada, Villavicencio denunciou duas vezes ameaças contra sua vida e sua equipe de campanha. O candidato tinha proteção policial quando foi alvejado ao sair de uma reunião com apoiadores. “Apesar das novas ameaças, continuaremos lutando pelo povo valente do nosso #Equador”, escreveu Villavicencio no Twitter, agora chamado de X, denunciando as mensagens intimidadoras.

O jornalista e ex-deputado, patrocinado pelos movimentos Construye e Gente Buena, estava buscando a presidência do Equador pela primeira vez, em uma eleição atípica a ser realizada em 20 de agosto, depois que o presidente Guillermo Lasso dissolveu a Assembleia Nacional, e entre suas propostas estava a construção de uma prisão de segurança máxima na região amazônica./EFE e AFP

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