A decisão de um setor do partido da chanceler Angela Merkel, a União Democrata Cristã (CDU, na sigla original), de se aliar com o Alternativa para a Alemanha (AfD), de extrema-direita, na Turíngia, abalou as estruturas do partido e colocou na linha de sucessão alguém até então não muito cotado para o cargo:o advogado Friedrich Merz, queridinho da ala mais conservadora da CDU.
Na segunda, a presidente da legenda, Annegret Kramp-Karrenbauer, vista como sucessora natural de Merkel, anunciou que não iria lançar candidatura e que deixaria o cargo, o que abriu espaço para Merz. O jurista é adversário político de Angela Merkel desde os anos 1990 e tentou ser presidente da CDU em 2018, mas perdeu para Kramp-Karrenbauer.
Merz defende que a CDU adote discursos e e execute políticas mais próximas da direita para atrair os eleitores que migraram para o AfD. "Se queremos mais de um terço do eleitorado, teremos que ser melhores do que somos agora. Temos de ter coragem para nos contrapor, para sermos controversos", disse em um discurso em Hamburgo nos últimos dias em que foi fortemente aplaudido. Ele costuma acusar Merkel de ter levado o partido muito para a esquerda.
"Precisamos reconquistar nossa soberania, tanto para a Alemanha quanto para a Europa", afirmou, segundo o jornal britânico Financial Times. Em outubro de 2019, Merz chegou a afirmar que a imagem da Alemanha era "abissal" e que a "inação e a falta de liderança" de Merkel há anos são como uma neblina que paira sobre a nação. Carismático e orador talentoso, Merz é conhecido por gostar de traduzir questões complexas para termos simples.
Ficou famoso por exigir, em 2004, uma mudança tributária que permitisse às pessoas calcularem seus impostos em sobre um apoio de copo de cerveja. Merz disse também que o partido deve propor cortes de impostos e atrair mais investimentos.
Críticas
Seus opositores gostam de usar a analogia de zumbi para tratar de Merz. Um dos políticos mais reconhecidos no início do século, quando chegou a ser líder da oposição na CDU, o advogado abandonou a vida pública em 2009 para trabalhar na iniciativa privada. Acabou virando um dos diretores da gestora de investimentos BlackRock na Alemanha e se tornou milionário.
Merz, apesar disso, enfrenta resistência de figuras importantes no cenário político. Um deles é Armin Laschet, apoiador de Merkel que é primeiro ministro da Renânia do Norte-Westfália, região mais importante controlada pela CDU, e Jens Spahn, o elogiado ministro da saúde de apenas 39 anos.
Outra pessoa que pode dificultar os planos de Herz é Markus Söder, presidente da União Social Cristã (CSU), partido aliado da CDU. Com 53 anos, o político defende bandeiras como os valores tradicionais cristãos e tenta há alguns meses assumir uma identidade mais moderada, insistindo na defesa do meio ambiente.
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