Quem é Gustavo Petro, o primeiro presidente de esquerda da Colômbia

O senador e ex-prefeito de Bogotá, venceu as eleições presidenciais da Colômbia por uma margem apertada contra Rodolfo Hernández

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Por Redação
Atualização:

Aos 62 anos, Gustavo Petro se torna o novo presidente da Colômbia com 50,69% dos votos contra 47,04% do adversário, Rodolfo Hernández. Após disputar três vezes o cargo à presidência, Petro se torna o primeiro presidente de esquerda do país. O esquerdista e ex-guerrilheiro recebeu mais de 10,6 milhões de votos no segundo turno

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Petro aspirou em sua terceira e última tentativa de chegar à Presidência. Ele está em campanha desde que perdeu o segundo turno das presidenciais de 2018 contra o atual presidente, Iván Duque.

O ex-guerrilheiro diz que ainda se vê como um “revolucionário” por diversas causas. Primeiro lutou contra o Estado e agora busca, na democracia, “derrotar as elites e instalar pela primeira vez a esquerda no poder” na Colômbia.

Gustavo Petro, candidato da esquerda radical, que tenta chegar à Presidência da Colômbia pela terceira vez 

O senador e ex-prefeito de Bogotá sente-se compelido a mudar nada menos que uma “história de 200 anos”. “Fazer discursos agora faz parte do meu humor”, escreveu ele em sua autobiografia Una vida, muchas vidas (Uma Vida, Muitas Vidas).

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Seus opositores questionam seu passado guerrilheiro como membro do M-19 e sua antiga amizade e aliança com o chavismo.

Nascido em uma família de classe média, de pai conservador e mãe liberal, e educado por padres lassalistas, levantou as bandeiras da mudança e da ruptura com as forças que tradicionalmente governam a Colômbia. Sua ascensão assusta os setores conservadores, pecuaristas e parte do empresariado e dos militares, que temem que seu governo seja um “salto no vazio”.

Antissistema, Petro se descreve como progressista e não esquerdista, na tentativa de evitar ser associado a uma corrente que causa repúdio em um país com guerrilhas marxistas no centro de um conflito de seis décadas. Mas seu passado na luta armada o persegue. Por 12 anos se rebelou contra o Estado que agora pretende reformar fundamentalmente. Hoje as armas oficiais o protegem.

Várias vezes ameaçado de morte e forçado a um exílio de três anos na Europa, Petro é o candidato mais protegido nesta corrida. Nos últimos comícios apareceu praticamente blindado com colete à prova de balas e escudos ao seu redor, e com pelo menos 20 guarda-costas. Em fevereiro, ele confessou à AFP seu medo de que o matassem.

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O candidato de esquerda à Presidência da Colômbia, Gustavo Petro, cercado por policiais e escudos em sua campanha no primeiro turno  Foto: Carlos Ortega/EFE

O passado guerrilheiro

Petro militou no M-19, uma guerrilha nacionalista de origem urbana que assinou a paz em 1990. Segundo ele, rebelou-se contra o golpe militar no Chile em 1973 e uma suposta “fraude eleitoral” na Colômbia no mesmo ano contra um partido popular.

Admirador fervoroso do Prêmio Nobel Gabriel García Márquez, na clandestinidade adotou o nome Aureliano, em homenagem ao personagem de Cem Anos de Solidão. Foi detido e torturado pelos militares e ficou preso por um ano e meio. Sempre foi um combatente “medíocre”, de acordo com seus ex-companheiros de armas.

Em seu livro destaca: “Nunca senti, ao contrário de muitos de meus companheiros, uma vocação militar, o que eu queria era fazer a revolução”.

Após assinar a paz, Petro chegou ao Congresso e depois à prefeitura de Bogotá em 2012-2015.

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Como parlamentar, destacou-se por denunciar os vínculos entre políticos e os paramilitares de extrema-direita, mas como prefeito ganhou fama de autoritário e mau administrador por seu plano caótico de estatizar a coleta de lixo, então nas mãos de particulares.

Daniel García-Peña, assessor de Petro na época e que se distanciou dele por causa de seu “despotismo”, ainda se lembra de suas “dificuldades em trabalhar em equipe”, embora reconheça seu conhecimento do país e sua inteligência.

Ele tem “um temperamento muito impetuoso e autoritário, e quando insistiu em realizar suas propostas, não soube conciliar os diferentes setores para colocá-las em prática. Travou muitas brigas ao mesmo tempo e isso gerou muita frustração”, disse o professor universitário à AFP.

Petro é casado com Verónica Alcócer e tem seis filhos.

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Mudança na estratégia

Antes do primeiro turno, Petro explorou suas habilidades como orador nas 100 praças que visitou. Sua proposta inclui reformas ambiciosas e complexas para, por exemplo, fortalecer o Estado, interromper a exploração de petróleo em favor de fontes renováveis de energia e mudar o sistema previdenciário.

Diante do avanço de Hernández, que surpreendentemente recebeu 28% de votos no primeiro turno do apoio, sua estratégia de comunicação deu uma guinada para contra-atacar a linguagem simples e eficaz de seu rival.

“Nosso defeito era não sermos capazes de transmitir com mais simplicidade na linguagem à população colombiana”, disse Alfonso Prada, coordenador de debates do esquerdista.

O candidato ao Pacto Histórico, coalizão de movimentos de centro e esquerda, saiu do palco e das grandes mobilizações para multiplicar suas entrevistas com a imprensa e gravar peças de propaganda com um pescador, trabalhadores do setor de mineração ou artesãos.

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Um Petro dormindo na casa de moradores pobres, na cozinha ou em plantações de cana e até jogando futebol suavizou a imagem do político rígido e intelectual da primeira parte da disputa.

“Temos um Gustavo Petro e uma Francia Márquez (candidata a vice-presidente) que se comunicam de forma mais simples, que falam muito mais diretamente”, segundo o estrategista.

Porém, o candidato que incentivava a política do amor foi exposto com o vazamento de vídeos editados de sua sede de campanha onde, ao lado de assessores, estabelecia estratégias para desacreditar rivais./AFP

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