O FBI prendeu nesta quinta-feira, 13, o suspeito de vazar no aplicativo de mensagens Discord segredos do Pentágono sobre a guerra na Ucrânia. Ele foi identificado como Jack Teixeira, um oficial da Guarda Nacional de Massachussetts de 21 anos. Num grupo de mensagens do Discord, chamado Thug Shaker, Teixeira e um grupo de 20 a 30 pessoas de jovens e adolescentes trocavam mensagens sobre armas e videogames, além de memes e comentários racistas. Enquanto conversava com amigos online, Teixeira assumiu o papel de líder.
Jack Teixeira se alistou em 2019. Seu cargo oficial na Guarda Nacional é transportador de sistemas cibernéticos. A função consiste em reparar sistemas de comunicação como fibras óticas, além de sistemas de vídeo e áudio, para garantir que a rede de comunicações da Força Aérea funcione corretamente. Para se candidatar a esse cargo, é necessário ter o ensino médio completo e habilidades em reparos eletrônicos, além de uma habilitação.
Sua patente é de homem do ar de primeira classe. Ele ganhou uma Medalha ao mérito da Força Aérea, segundo seu currículo.
Teixeira seguiu vários outros parentes no serviço militar depois de se formar no ensino médio. Ele até perdeu a cerimônia de formatura por causa das obrigações básicas de treinamento na Base Aérea de Lackland, no Texas, de acordo com postagens nas mídias sociais.
Ele terminou seu treinamento técnico no ano seguinte e entrou oficialmente no serviço ativo na ala de inteligência do 102º Batalhão da Guarda Nacional de Massachusetts em outubro de 2021, de acordo com os registros do serviço militar.
Seus pais se separaram quando ele era jovem e ele parecia ser próximo de sua irmã, que nas redes sociais postava fotos do irmão ainda bebê todo mês de dezembro, no seu aniversário.
Vazamento em chat de amigos
Os investigadores federais estavam procurando havia dias pela pessoa que vazou os documentos ultrassecretos online. A partir de meses atrás, um dos usuários carregou centenas de páginas de briefings de inteligência no pequeno grupo de bate-papo, ensinando seus membros, que se uniram durante o isolamento da pandemia, sobre a importância de se manter a par dos acontecimentos mundiais.
O New York Times conversou com quatro membros do grupo de bate-papo Thug Shaker Central, um dos quais disse conhecer a pessoa que vazou por pelo menos três anos, o conheceu pessoalmente e se referiu a ele como o O.G.
Os amigos o descreviam como mais velho do que a maioria dos membros do grupo, que eram adolescentes, e o líder indiscutível. Um dos amigos disse que o O.G. teve acesso a documentos de inteligência por meio de seu trabalho. Embora os amigos do jogo não identifiquem o líder do grupo pelo nome, uma trilha de evidências digitais compiladas pelo Times leva a Teixeira.
Espionagem revelada
‘Melhor procurar um advogado’
O NYT conseguiu ligar Teixeira a outros membros do grupo por meio de seu perfil usado em jogos online. O jornal também conseguiu identificar a residência dele em fotos de família em redes sociais. Teixeira se alistou no 102º Batalhão da Guarda Nacional de Massachusetts como piloto de primeira classe.
Não ficou imediatamente claro como um jovem piloto poderia ter acesso a documentos ultrassecretos. Funcionários do governo dos EUA com autorização de segurança geralmente recebem esses documentos por meio de e-mails diários, e esses e-mails podem ser encaminhados automaticamente para outras pessoas.
A mãe de Teixeira, Dawn, confirmou que seu filho era membro da Guarda Aérea Nacional e disse que recentemente trabalhava em turnos noturnos em uma base em Cape Cod, Massachusetts.
Vazamento ‘por descuido’
Membros do grupo de jogos do Discord disseram ao NYT que não tinham uma posição contrária à guerra e o vazamento ocorreu por acaso. Os documentos, disseram eles, só começaram a receber mais atenção quando um dos adolescentes do grupo pegou algumas dezenas deles e os postou em um fórum online público.
De lá, eles foram captados pelos canais do Telegram em russo e depois pelo New York Times, que primeiro noticiou sobre eles. A pessoa que vazou, eles disseram, não tinha intenção de torná-los públicos, e os documentos secretos nunca deveriam sair de seu reduto da internet.
“Esse cara era cristão, antiguerra, só queria informar alguns de seus amigos sobre o que está acontecendo”, disse um dos amigos da pessoa da comunidade, um jovem de 17 anos recém-formado no ensino médio. “Temos algumas pessoas em nosso grupo que estão na Ucrânia. Gostamos de jogos de luta, gostamos de jogos de guerra.” / NYT
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