PARIS - Assim que os primeiros resultados foram divulgados na França, o líder da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, disse que a Nova Frente Popular está pronta para governar após a vitória surpreendente na disputa pela Assembleia Nacional.
“A derrota do presidente da República e de sua coalizão está claramente confirmada. O presidente deve se curvar e admitir essa derrota sem tentar contorná-la”, disse Mélenchon.
Figura divisiva, Jean-Luc Mélenchon, de 72 anos, tem sido um puxador de votos da esquerda na França. Apesar do temperamento explosivo, da retórica inflamada e das polêmicas, ele avançou a cada eleição presidencial que disputou: teve 11% dos votos em 2012, 19% em 2017 e 21% em 2022. Nessa última, quase tirou Marine Le Pen do segundo turno.
Agora, Mélenchon garantiu que poderia abrir mão do cargo de primeiro-ministro para evitar que a direita radical chegasse ao poder. Mesmo assim, continuou na mira dos rivais. “A situação é insustentável. Jean-Luc Mélenchon se tornará primeiro-ministro?”, disparou Le Pen ao comentar o resultado da votação deste domingo.
Antes da Nova Frente Popular, que uniu partidos de esquerda radicais (Comunista e França Insubmissa) aos moderados (Socialista e Verde), ele havia lançado a Nova União Popular Ecologista e Social (NUPES) para última eleição legislativa, em 2022.
A aliança adotou em grande parte a plataforma do França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon: mais impostos para os ricos, aumento do salário mínimo, nacionalização de antigas empresas públicas, combate às mudanças climáticas e desigualdades de raça e gênero.
Em entrevista ao The New York Times, ele defendeu a fundação de uma nova república que mudaria a Constituição para transferir o poder do presidente para o povo. “Atualmente vivemos em um país, a França, a sétima economia do mundo, com nove milhões de pessoas pobres, seis milhões que não conseguem alimentar seus filhos”, disse. “Isso nunca foi a França.”
A NUPES terminou em segundo lugar na última eleição legislativa, mas colapsou no ano passado, em partes pela recusa do França Insubmissa, partido de Mélenchon, em classificar o Hamas como grupo terrorista.
Após o atentado contra Israel, os principais políticos franceses, incluindo Marine Le Pen participaram de uma marcha contra o antissemitismo. Mélenchon não foi e justificou que isso se devia à presença da direita radical.
Ele ainda acusou a presidente do Parlamento, Yaël Braun-Pivet, que é judia e foi a Israel depois do ataque terrorista, de “acampar em Tel Aviv para incentivar o massacre” em Gaza. Seus críticos o acusam de antissemitismo, o que ele nega.
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Em outra polêmica, Jean-Luc Mélenchon foi ao Twitter clamar por justiça enquanto manifestantes incendiavam o país em resposta à morte de Nahel Merzouk, de 17 anos, baleado pela polícia em uma parada de trânsito. Críticos alegaram que, mesmo com país em chamas, ele não pediu por calma.
Em 2018, o comportamento explosivo chocou até os apoiadores. Em vídeo amplamente divulgado, ele grita algo como “Eu sou a lei” enquanto a polícia realizada uma operação de busca na sede do França Insubmissa.
Mélenchon foi uma das lideranças do movimento estudantil de 1968. Ele foi ministro da Educação do governo de Lionel Jospin pelo Partido Socialista, de centro-esquerda, ao qual foi filiado até 2008, quando ele saiu para formar o Partido de Esquerda e, posteriormente, o França Insubmissa, que adequou a plataforma de esquerda à dinâmica das redes sociais.
Desde a sua criação, a França Insubmissa tem se destacado na ótica do protesto — o que os opositores de Mélenchon chamam de “a esquerda do decibel” — com manifestações teatrais que atacam o establishment e a imprensa.
Durante as marchas contra a reforma da previdência, seus deputados ficaram conhecidos por gritar contra os ministros de Macron. Em um caso notório, um representante da França Insubmissa colou uma efígie da cabeça do ministro do Trabalho em uma bola de futebol e posou para uma foto com o pé em cima dela. As ações são vistas como uma forma de mobilizar eleitores que deixaram de participar da política, em uma espécie de novo populismo./COM NY TIMES
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