Quem é Jimmy ‘Barbecue’ Chérizier, o ex-policial líder da poderosa gangue que amedronta o Haiti

País caribenho se encontra devastado por crise de segurança, humanitária e política; grupos criminosos pedem renúncia de primeiro-ministro

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

Com sua arma automática pendurada no ombro, Jimmy “Barbecue” Chérizier, um ex-policial que gosta de se apresentar como revolucionário, lidera uma das gangues mais poderosas do Haiti, que não hesita em atacar infraestruturas essenciais e pedir a cabeça das elites.

PUBLICIDADE

O líder da aliança de gangues “Família G9″ é uma das figuras públicas por trás da escalada de violência dos últimos dias no país caribenho, devastado por uma crise de segurança, humanitária e política.

Os grupos armados do Haiti, muitas vezes divididos e que lutam para expandir os seus respectivos territórios, anunciaram na semana passada que estavam unindo forças contra o governo. Desde então, atacaram locais estratégicos como aeroportos, academias de polícia e presídios, de onde fugiram milhares de detidos.

Líder da gangue G-9, Jimmy 'Barbecue' Cherizier, em Porto Príncipe, Haiti, no dia 6. Governo do país é ameaçado de perder o poder para os criminosos Foto: Ralph Tedy Erol / Reuters

“Não se trata de um pequeno grupo de ricos que vivem em grandes hotéis decidindo o destino dos habitantes de bairros populares”, declarou Chérizier na terça-feira à imprensa, cercado de homens encapuzados.

Publicidade

“Devemos nos unir. Ou o Haiti se torna um paraíso para todos ou um inferno para todos”, acrescentou este ex-policial de 46 anos, que ameaçou iniciar uma “guerra civil” se o primeiro-ministro, Ariel Henry, não renunciar.

Esta não foi a primeira vez que ele chamou a atenção. Em 2022, à frente da aliança G9, bloqueou durante meses o principal terminal petrolífero do país, paralisando a distribuição de combustíveis e mergulhando o Haiti ainda mais no caos.

Este episódio provocou apelos à criação de uma força multinacional para ajudar as sobrecarregadas forças policiais do Haiti, uma missão que ainda não foi concretizada.

‘Corpos queimados, desmembrados’

Como sinal da sua influência, “Barbecue” foi o primeiro a aparecer em outubro de 2022 na lista do novo regime de sanções da ONU contra as gangues haitianas (proibição de viagens, congelamento de bens, embargo de armas seletivo).

Publicidade

Mas, apesar de tudo, “continua cometendo atos que ameaçam a paz, a segurança e a estabilidade do Haiti”, comentou em setembro o comitê de especialistas da ONU encarregado de monitorar as sanções.

O relatório da organização detalha as atividades criminosas das várias gangues que controlam áreas inteiras do país, especialmente a capital.

Para a “Família G9″ e seus mais de mil membros, em sua maioria ex-policiais, ex-seguranças e crianças de rua, a lista é longa: assassinatos, roubos, extorsões, estupros, assassinatos seletivos, tráfico de drogas, sequestros, incêndios criminosos, entre outros.

Membros da gangue 'Família G9' em Porto Príncipe, Haiti, no dia 5. Grupo é acusado de praticar uma série de crimes que envolve extorsões, assassinatos e tráfico de drogas Foto: Odelyn Joseph / AP

Estes especialistas apontam ainda o envolvimento de Barbecue no “massacre de Saline”, ocorrido em 2018 em Porto Príncipe, que deixou 71 mortos em poucos dias no bairro com esse nome.

Publicidade

As gangues, às vezes usadas pelas autoridades para reprimir protestos em bairros populares, “retiraram as vítimas, incluindo crianças, de suas casas para queimá-las, desmembrá-las e dar como alimento aos animais”, descreveu o Departamento do Tesouro dos EUA no final de 2020, quando decidiu sancionar Chérizier.

Segundo a mesma fonte, o líder da gangue recebeu o apoio de dois funcionários de alto escalão do governo do presidente Jovenel Moïse, assassinado em julho de 2021 em Porto Príncipe.

Barbecue, fã de postar vídeos nas redes sociais, rejeita as acusações contra ele.

“Não sou um gangster, nunca serei um gangster”, declarou em 2021 durante uma entrevista ao canal Al Jazeera, ao qual disse que luta “por outra sociedade”.

Publicidade

Prorrogação do estado de exceção em Porto Príncipe

O governo do Haiti prorrogou por um mês, nesta quinta-feira, 7, o estado de exceção no departamento a que pertence a capital, Porto Príncipe, abalada pela violência de gangues.

A medida, publicada no Diário Oficial do pequeno país caribenho, foi confirmada à agência de notícias France-Press por uma fonte do governo, que especificou que “o toque de recolher será aplicado de acordo com as necessidades” das autoridades.

Gangues armadas controlam grande parte de Porto Príncipe e estão engajadas em uma luta violenta contra a administração do primeiro-ministro Ariel Henry, cuja renúncia exigem.

Na noite de quarta-feira, essas gangues atearam fogo em um novo posto policial, provando mais uma vez que não têm intenção de parar com a espiral de violência.

Publicidade

A subestação policial atacada fica em Bas-Peu-de-Chose, em um bairro de Porto Príncipe que é frequentemente atacado por gangues, disse à AFP Lionel Lazarre, coordenador-geral do sindicato da polícia haitiana, Synapoha.

Imagem do dia 5 mostra policial na saída de mercado incendiado na véspera em Porto Príncipe. Gangues incendeiam país em protesto ao governo de Ariel Henry Foto: Johnson Sabin / EFE

Os policiais do posto tiveram tempo de deixar o prédio antes do ataque, disse ele, acrescentando que a investida havia sido planejada desde o último fim de semana.

As gangues também incendiaram uma viatura policial e várias motocicletas. Pouco antes desse último ataque, o Conselho de Segurança da ONU expressou sua preocupação com a situação “crítica” no Haiti.

As gangues têm atacado locais estratégicos do país há dias, incluindo várias delegacias de polícia.

Publicidade

Um influente líder de gangue, Jimmy Chérizier, advertiu na terça-feira que, se o primeiro-ministro Henry não renunciasse, o país se encaminharia para uma guerra civil.

“Ou o Haiti se torna um paraíso para todos ou um inferno para todos”, declarou o ex-policial de 46 anos, apelidado de “Barbecue”.

De acordo com uma contagem da Synapoha, desde que os ataques coordenados das gangues começaram, 10 prédios da polícia foram destruídos e duas prisões civis foram atacadas e seus detentos, libertados.

Com as autoridades e as escolas fechadas, muitos moradores estão tentando fugir da violência com seus poucos pertences debaixo dos braços, enquanto outros se aventuram apenas para comprar itens essenciais. /AFP e AP

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.