Quem é Lai Ching-te, o novo presidente de Taiwan?

Lai tomou posse nesta semana, assumindo o complexo desafio de lidar com a China após já ter, no passado, se assumido um ‘trabalhador pragmático pela independência’

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Por Chris Buckley (The New York Times), Amy Chang Chiene (The New York Times) e John Liu (The New York Times)
Atualização:

Em 2014, quando Lai Ching-te era uma estrela política em ascensão em Taiwan, ele visitou a China e foi questionado em público sobre a questão mais incendiária para líderes em Pequim: o posicionamento do seu partido sobre a independência da ilha.

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Sua resposta educada, porém firma, dizem pessoas que o conhecem, foi característica do homem que foi eleito presidente de Taiwan em janeiro e agora irá governar a ilha pelos próximos quatro anos, depois de tomar posse na última segunda-feira, 20, sucendo a presidente Tsai Ing-wen.

Lai dirigia-se a professores na prestigiosa Universidade Fudan em Xangai, para um público cujo membros, como muitos chineses nativos, certamente acreditavam que a ilha de Taiwan pertence à China.

Lai disse que embora seu Partido Democrático Progressista (PDP) historicamente tenha defendido a independência de Taiwan — um posicionamento que a China se opõe — o partido também acredita que qualquer mudança no status da ilha deveria ser decidido por toda a sua população. Seu partido estava apenas refletindo, não ditando, a opinião, ele disse. A posição do partido “foi alcançada através de um consenso na sociedade taiwanesa”, afirmou.

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Tanto para seus apoiadores quanto para os opositores, o episódio revelou o senso de convicção franco, e às vezes indignado, de Lai, uma qualidade fundamental deste médico que se tornou político.

Após vencer as eleições em janeiro, Lai Ching-te tomou posse na última segunda-feira, 20, sucendo a presidente Tsai Ing-wen. Foto: Chiang Ying-ying/AP

“Ele faz distinções claras entre o bem e o mal”, disse Pan Hsin-chuan, membro do Partido Democrático Progressista em Tainan, a cidade no sul de Taiwan, onde Lai era prefeito no momento da visita à Universidade Fudan em 2015. “Ele insiste que é certo é certo, e errado é errado.”

Filho de um mineiro de carvão, Lai, de 64 anos, tem a reputação de ser um político capacitado e que trabalha duro, que considera que sua origem humilde o aproxima das necessidades das pessoas comuns em Taiwan. No entanto, quando se trata de navegar pelas nuances perigosas de lidar com Pequim, ele pode ser menos hábil.

Lai pode ter que observar sua tendência de comentários improvisados ocasionais, que Pequim poderá explorar e transformar em crises.

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“Eu não acho que Lai irá realmente buscar a independência de jure”, disse David Sacks, pesquisador do Conselho de Relações Exteriores que estuda Taiwan. “Mas o que me preocupa sobre Lai é que ele não tem muita experiência em política externa e em relações do Estreito — que são incrivelmente complexas — e ele é propenso a alguns deslizes verbais, o que Pequim pode se aproveitar.”

Em entrevistas com pessoas que conhecem Lai, “teimoso” e “firme” são palavras frequentemente usadas para descrevê-lo. Mas como presidente de Taiwan, Lai pode ter que mostrar alguma flexibilidade enquanto ele lida com um Legislativo que é dominado por partidos da oposição que prometeram examinar minuciosamente as suas políticas.

Continuidade de Tsai

Como o líder que está levando o Partido Democrático Progressista ao poder para um terceiro mandato, Lai terá que estar muito atento ao sentimento público em Taiwan, disse Wang Ting-yu, um legislador influente do Partido Democrático Progressista, em uma entrevista antes das eleições.

“Como manter a confiança do povo, como manter a política limpa e honesta: é isso que um partido político maduro precisa encarar”, disse Wang. “Você precisa ter sempre em mente que o público não irá permitir muito espaço para erros.”

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Durante a campanha de eleição, uma das propagandas de maior sucesso de Lai mostrava ele e a então presidente Tsai viajando pelo país de carro, conversando sobre seu tempo de trabalho juntos. A mensagem que ficou clara quanto Tsai deu as chaves do carro para Lai, que era seu vice-presidente desde 2020, foi que haveria uma continuidade tranquilizadora se ele ganhasse.

Qualquer que seja a continuidade que possa unir os dois na política, Tsai e Lai são líderes bastante diferentes, com antecedentes muito diferentes. Tsai, que liderou Taiwan durante oito anos, continua querida e respeitado por muitos. Mas ela também governou com uma espécie de reserva tecnocrática, raramente fazendo coletivas de imprensa.

Tsai cresceu como autoridade negociando acordos comerciais e elaborando políticas em relação à China. A experiência de Lai como prefeita, pelo contrário, tornou-a mais sensível a problemas como o aumento dos custos de moradia e a falta de oportunidades de emprego, dizem os seus apoiadores.

Embora Tsai e Lai sejam líderes de perfis distintos, em sua campanha o novo líder reforçou uma mensagem de continuidade ao legado da ex-presidente. Foto: Chiang Ying-ying/AP

“Lai Ching-te percorreu todo o caminho desde as bases — como delegado do Congresso, legislador, prefeito, primeiro-ministro — subindo passo a passo”, disse Tseng Chun-jen, um ativista de longa data do PDP em Tainan. “Ele sofreu com o frio e a pobreza, então ele entende muito bem as dificuldades pelas quais nós, pessoas, passamos na base naquela época.”

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Tsai e Lai nem sempre foram aliados. Tsai trouxe o PDP de volta ao poder em 2016 depois de o partido ter sofrido, anteriormente, derrotas devastadoras nas urnas. Lai era o primeiro-ministro de Tsai — até que ele se demitiu após resultados eleitorais ruins e a desafiou corajosamente nas primárias antes das eleições de 2020.

“Tsai Ing-wen entrou no PDP como uma pessoa estranha, quando o partido precisava de um estranho”, disse Jou Yi-cheng, um antigo alto funcionário do partido que conheceu Lai quando ele estava iniciando na política. “Mas Lai Ching-te é diferente. Ele cresceu dentro do PDP”

‘Trabalhador pragmático pela independência’

Lai viveu seus primeiros anos de vida em Wanli, um município do norte de Taiwan. Seu pai morreu de envenenamento por monóxido de carbono enquanto estava em uma mina, quando Lai era bebê, deixando sua mãe sozinha para criar seis filhos. Em sua campanha, Lai citou as dificuldades do seu passado como parte de sua formação política.

Ele disse em um vídeo que sua família vivia em um alojamento para mineiros, que tinha goteiras quando chovia, o que os levou a cobrir o telhado com telhas de chumbo — que nem sempre eram confiáveis. “Quando um tufão vinha, as coisas que cobriam o telhado seriam destruídas”, disse.

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Lai seguiu seus estudos e foi para a faculdade de medicina. Depois de prestar serviço militar, ele trabalhou como médico em Tainan. Era uma época em que Taiwan estava deixando para trás décadas de regime autoritário sob o Partido Nacionalista, cujos líderes fugiram da China para a ilha após a derrota para Mao Zedong e as suas forças comunistas.

Lai entrou para o que naquela época, era um novo partido de oposição, o Partido Democrático Progressista. De acordo com ele, sua mãe ficou decepcionada quando ele decidiu deixar de lado a medicina para se dedicar à política em tempo integral.

“Ele obteve o apoio relutante da mãe”, escreveu Yuhkow Chou, uma jornalista taiwanesa, na sua recente biografia de Lai. Quando ele decidiu concorrer pela primeira vez a um assento na Assembleia Nacional em 1996, escreveu Chou, a mãe de Lai disse ao filho: “Se você não conseguir ser eleito, volte a ser médico”.

Entretanto, Lai revelou-se um talentoso político. Ele ascendeu rapidamente, impulsionado por seu apetite por trabalho duro, bem como sua aparência jovem e a eloquência enquanto orador, especialmente em taiwanês, a primeira lingua de muitas pessoas da ilha, especialmente nas áreas ao sul como Tainan, disse Jou, o antigo alto funcionário do partido.

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Lai se tornou membro do Legislativo de Taiwan e, então, em 2010, o prefeito de Tainan. Mais tarde, atudou como primeiro-ministro e vice-presidente de Tsai. Durante sua trajetória, ele mostrou uma veia combativa que deu munição aos seus críticos, mas também conquistou fãs em seu partido.

Apoiadores do PDP citam um vídeo dele em 2005, atacando membros opositores do Partido Nacionalista na legislatura por bloquearem uma proposta orçamental para comprar submarinos, jatos e mísseis dos Estados Unidos. “O país foi destruído por você!” disse Lai, xingando em um dado momento. “Vocês bloquearam tudo.”

Como primeiro-ministro em 2017, Lai fez o comentário frequentemente mais citado pelos seus críticos. Deparando-se com questões vindas de legisladores de Taiwan, Lai descreveu a si mesmo como um “trabalhador pragmático pela independência de Taiwan”.

Na época, o gabinete do governo da China para assuntos de Taiwan condenou o comentário. Desde então, Pequim e os críticos taiwaneses de Lai têm apresentado essa fala como uma prova da sua busca imprudente pela independência. Mas as palavras de Lai estavam alinhados com o esforço mais amplo do seu partido para controlar as tensões sobre a questão do estatuto de Taiwan, argumentando que a ilha já tinha alcançado a independência prática, porque era uma democracia autogovernada.

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Mesmo assim, Lai está sob forte pressão como presidente para evitar falas como essa em seu mandato. A China A China tornou-se militarmente mais forte e, sob Xi Jinping, está cada vez mais disposta a usar essa força para pressionar Taiwan. Em seu discurso de vitória, Lai enfatizou a sua esperança de abrir o diálogo com Pequim.

“Ele manteve tudo vago e, a meu ver, não disse nenhuma das frases que Pequim considera intoleráveis”, disse Kharis Templeman, pesquisador da Instituição Hoover que estuda Taiwan e monitorou as eleições. “Ele deu a si mesmo uma chance de evitar, ou pelo menos atrasar, a reação mais dura de Pequim.”

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