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Quem é Moqtada al-Sadr, clérigo iraquiano que motivou protestos em Bagdá

Ex-líder de milícia xiita e descendente de linhagem de Maomé, al-Sadr é um dos homens mais influentes do Iraque - e um dos únicos capazes de mobilizar multidões

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Por Redação

Quando Moqtada al-Sadr levanta o dedo indicador e franze a testa, o Iraque prende a respiração. A aura do impetuoso líder religioso xiita tem muito peso na arena política - e nas ruas. Ao lado do aiatolá Ali al-Sistani, grande autoridade xiita, al-Sadr é uma das únicas pessoas capazes de mobilizar grandes massas no país.

Nascido em 1974 em Kufa, perto da cidade sagrada de Najaf, no sul do país, o homem de rosto redondo e barba grisalha é descrito por alguns de seus colaboradores como “colérico”. O turbante preto, que parece uma continuação de seu rosto, o identifica como parte da linhagem de religiosos xiitas sayyids, que seriam descendente do profeta do Islã, Maomé.

Muqtada al-Sadr discursa em Najaf; líder xiita é uma das poucas pessoas a movimentar multidões no país. Foto: EFE

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Quando a maioria xiita da população iraquiana era oprimida pelo governo de Saddam Hussein, que era islâmico sunita, antes da invasão americana em 2003, al-Sadr liderava uma milícia comparável a um esquadrão da morte, abastecido com armas vindas do Irã. Vestidos de preto, os homens do clérigo vagavam pelos bairros de Bagdá varrendo os sunitas da cidade, enquanto o país era dilacerado pela violência sectária.

O próprio pai de al-Sadr foi assassinado pelo regime de Saddam Hussein, em 1999, o que o deu o título de “shahid” (mártir), atributo de grande importância entre os militantes xiitas.

Antes conhecido por seu papel na resistência contra Saddam e pelos sermões inflamados, nos quais afirmava ser dever sagrado dos xiitas atacar as forças dos Estados Unidos, o líder religioso passou por uma transformação de imagem ao entrar na política iraquiana pós-ocupação.

Em 2018, o partido de al-Sadr foi o mais votado do país, conquistando o maior número de cadeiras por uma única sigla. A vitória veio após uma campanha populista focada no combate à corrupção com o slogan “Iraque em primeiro lugar”.

Durante o grande movimento de protesto popular em outubro de 2019, Sadr enviou seus simpatizantes para apoiar as reivindicações de regeneração política dos manifestantes. Em seguida, pediu para que se retirassem.

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Painel do líder xiita Moqtada al-Sadr na Zona Verde de Bagdá. Foto: Ahmad al-Rubaye/ AFP

“Ele tenta se colocar no centro do sistema político, mantendo distância dele”, diz Benedict Robin-D’Cruz, especialista em movimentos xiitas da Universidade Dinamarquesa de Aarhus. “Sua posição como líder religioso lhe permite projetar uma imagem de estar além da política”.

O clérigo deu mais uma demonstração de sua influência no Iraque na segunda-feira, 29. Após anunciar sua “aposentadoria definitiva” da política e o fechamento de todas as instituições vinculadas ao seu movimento em um tuíte, manifestações violentas irromperam na Zona Verde de Bagdá. Pouco menos de 24 horas depois do início dos confrontos violentos com grupos pró-Irã e forças de segurança, os revoltosos começaram a se retirar, após um pedido televisionado de al-Sadr.

Na votação realizada em outubro do ano passado, em que seu partido voltou a ser o mais votado, a campanha de al-Sadr também foi pautada no combate a corrupção - um tema com penetração na sociedade, uma vez que o país está entre os com maior grau de corrupção do mundo, segundo o ranking da Transparência Internacional./ AFP, AP e NYT

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