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Quem é Pedro Castillo, presidente do Peru que foi preso após tentar golpe

No cargo há 16 meses, Castillo enfrenta uma intensa crise política que já lhe resultou em quatro dissoluções do gabinete, três pedidos de impeachment e seis investigações por corrupção

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Por Redação
Atualização:

LIMA - Em meio a uma intensa crise política desde que assumiu a presidência do Peru em julho de 2021, Pedro Castillo anunciou nessa quarta-feira, 7, a dissolução do Congresso do país e instaurou um “governo de emergência”. O movimento foi uma última cartada do presidente para evitar uma votação de impeachment no Congresso, que seguiu mesmo assim e o destituiu do poder. Castillo foi preso após deixar o Palácio Presidencial, acompanhado da primeira-dama.

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O presidente leu em rede nacional o decreto que colocava o país em estado de exceção em uma ação logo interpretada como tentativa de golpe de Estado. O Parlamento correu para aprovar uma nova moção de impedimento contra ele.

Desde que assumiu o poder, Castillo lida com uma forte crise política que já lhe resultou em quatro dissoluções do gabinete, três pedidos de impeachment - incluindo o votado hoje - e ao menos seis investigações pelo Ministério Público por corrupção.

Captura de tela obtida de um vídeo distribuído pela Presidência peruana mostra o presidente Pedro Castillo entregando uma mensagem à nação em Lima em 7 de dezembro de 2022 Foto: AFP

Quem é Pedro Castillo

Antes de ser presidente, Castillo era um professor de escola rural que saiu do anonimato há cinco anos como líder de uma greve nacional de professores. Ele aliou um discurso de esquerda, com a promessa de “não haver mais pobres em um país rico”, com um moralismo conservador.

Ele nasceu em Puña, povoado do distrito de Chota, região norte de Cajamarca. É casado e tem três filhos. Sua esposa é evangélica, mas ele é católico. Sua mistura de moral conservadora e reivindicações sociais por mudança se adaptou bem a um país onde a religião costuma ser um fator eleitoral.

Ele está acostumado a citar passagens bíblicas quando apela à moralidade para justificar sua rejeição ao aborto, casamento homossexual e eutanásia. Com um chapéu branco típico de Cajamarca, percorreu as regiões do Peru, até a cavalo, para obter votos.

“Castillo é uma espécie de Lula do campo, sem as habilidades sindicais do ex-presidente brasileiro, mas se mostra um bom comunicador”, disse à AFP durante as eleições a jornalista e analista Sonia Goldenberg. “Ele é um candidato muito melhor do que Keiko Fujimori para transmitir emoções”. Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori que foi condenado a prisão por crimes contra a humanidade, era a adversária de Castillo naquelas eleições.

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O Peru Libre, seu partido, é um dos poucos partidos peruanos de esquerda que defende o regime do presidente venezuelano Nicolás Maduro, com quem retomou relações diplomáticas rompidas durante três anos.

A vitória de Castillo desagradou ao empresariado, investidores e setores da sociedade civil, mas não têm “nada a ver com a proposta da Venezuela”, garantiu em entrevista à AFP seu principal assessor, Pedro Francke.

A greve nacional de 2017 que o catapultou durou quase 80 dias, exigindo um aumento salarial e a eliminação de um sistema polêmico de avaliação de professores. O movimento deixou 3,5 milhões de alunos de escolas públicas do país sem aulas e encurralou o então presidente Pedro Pablo Kuczynski, que inicialmente se recusou a dialogar com os grevistas até ceder e aceitar a maioria das demandas.

O então candidato à presidência do Peru, Pedro Castillo, em maio de 2021 Foto: Sebastian Castaneda/Reuters

Numa tentativa de deslegitimar a greve, o então ministro do Interior, Carlos Basombrío, disse que os líderes do movimento estavam ligados ao Movadef, o braço político da derrotada guerrilha maoísta do Sendero Luminoso, um grupo ilegal considerado terrorista no Peru.

“Rejeito categoricamente as denúncias”, respondeu Castillo, que integrou em Cajamarca as “rondas camponesas” armadas que resistiram às incursões de Sendero nos dias difíceis do conflito interno (1980-2000).

Crise política

A dissolução do Congresso de hoje ocorreu poucas horas antes de a câmara baixa votar mais um processo de impeachment do presidente por “permanente incapacidade moral”, uma figura constitucional que provocou a queda de dois ex-presidentes desde 2018.

Esta seria a terceira moção de vacância contra Castillo em 16 meses no poder. Em março, a oposição não conseguiu o número de votos necessário para sua destituição. Em dezembro de 2021, o Congresso a rejeitou antes dos debates.

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O pedido foi apresentado no momento em que o prestígio quase inexistente do Congresso devido a escândalos de corrupção e um índice de reprovação de 86% nas pesquisas, enquanto o presidente tem uma rejeição de 70%, além de enfrentar denúncias de propina em seu círculo político e familiar.

“Pretendem dinamitar a democracia e desrespeitar o direito de eleição do povo para tirar proveito e tomar o poder que, nas urnas, o povo lhes tirou”, afirmou Castillo na terça-feira. “Nunca roubei minha pátria, não sou corrupto”, insistiu em um pronunciamento durante a noite.

Manifestantes, simpatizantes do presidente peruano Pedro Castillo, comemoram a notícia do fechamento do Congresso, hoje em Lima Foto: Aldair Mejia/EFE

O Peru presenciou recentemente manifestações tanto contra quanto a favor de Pedro Castillo. No mês passado, milhares de peruanos pediram a renúncia ou a destituição do presidente. Cinco dias depois, organizações sociais, sindicais e políticas convocaram a “tomada de Lima” em apoio ao presidente.

A polarização social e o atrito entre os ramos do governo têm sido constantes no Peru desde as eleições gerais do ano passado, mas se intensificaram nas últimas semanas, após a denúncia constitucional que a procuradora apresentou no Parlamento contra o presidente por supostamente liderar uma organização criminosa.

No último episódio de sua crise política, seu primeiro-ministro, Aníbal Torres, apresentou um pedido de renúncia após ter pedido de confiança rejeitado pelo Congresso. Como rege a tradição, Castillo então disse que iria renovar o seu gabinete ministerial depois de aceitar a demissão./Com informações de AFP e EFE

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