O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, 59, foi internado em estado grave, vítima de um ataque a tiros que o governo denuncia como politicamente motivado. Populista e controvertido, ele é figura central no país e voltou ao poder no ano passado, numa eleição que era considerada decisiva para Ucrânia, mas terminou com o resultado pró-Rússia.
No quarto mandato, Fico é o político a servir por mais tempo como primeiro-ministro desde que o país se declarou independente há três décadas. Antes de esquerda, foi abraçando posições cada vez mais de direita e críticas à União Europeia, se aproximando de Vladimir Putin, da Rússia, e Viktor Orbán, da vizinha Hungria.
Sob o seu comando, a Eslováquia — primeiro país a mandar mísseis de defesa aérea e caças para Ucrânia — passou a se opor ao envio de armas para Kiev. A posição irritou a União Europeia, que busca se manter firme no esforço de guerra contra Moscou, apesar da resistência de países próximos da Rússia.
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Volta ao poder
Fico foi eleito na Eslováquia, que integra a Otan e União Europeua, explorando um sentimento pró-Rússia — uma pesquisa indicou que 51% da população local considerava a Ucrânia e o Ocidente os principais responsáveis pela guerra. Ele prometeu seguir uma política externa “soberana”.
Assim que eleito, interrompeu imediatamente as entregas de armas para Ucrânia. E avançou com reformas internas que alarmaram os críticos, incluindo os planos para alterar o código penal, eliminar a promotoria especial contra corrupção e aumentar o controle sobre mídia pública. Imigração, ONGs e direitos da comunidade LGBT+ também estão entre os alvos frequentes de Robert Fico.
Antes disso, foi primeiro-ministro da Eslováquia em três períodos: de 2006 até 2010; de 2012 a 2018.
Para entender
Histórico na política
Robert Fico nasceu na antiga Checoslováquia e passou a desempenhar um papel central na política da Eslováquia desde que o país se separou da República Tcheca. Tem formação em direito e passou pelo Partido Comunista, antes de fundar o Smer (Direção – Social-Democracia) no fim dos anos 1990.
Ele conquistou o primeiro mandato com uma vitória esmagadora do Smer, em 2006, e reforçou a popularidade ao recusar medidas de austeridade diante da crise financeira que atingiu o mundo em 2008. No aspecto econômico, seus governos também foram marcados por reformas trabalhistas, como direito a aviso prévio, regras mais rígidas para horas extras e mais poder a sindicatos.
Derrotado na eleição seguinte, Robert Fico voltaria em 2012 com a queda da coalizão de centro-direita, acusada de corrupção. Na votação antecipada, teve mais uma vitória contundente.
Em 2015, quando a crise migratória atingiu a Europa, defendeu uma política linha-dura; se recusou a “dar espaço” para uma comunidade muçulmana na Eslováquia; e se opôs a política de cotas da União Europeia, que buscava dividir os refugiados entre os países do bloco.
Foi eleito para mais um mandato, em 2016, mas obrigado a renunciar, em 2018, pela de protestos que se seguiram ao assassinato do jornalista Ján Kuciak, que investigava corrupção no governo, e da sua noiva Martina Kusnirova.
Na pandemia, contudo, ganhou um novo impulso. Ele aparecia sem máscara para manifestantes insatisfeitos contra as medidas restritivas. Assim, começou a pavimentar o seu caminho de volta ao poder, antes de mudar o foco para a Ucrânia.
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Atentado
Nesta quarta, Robert Fico foi baleado e levado de helicóptero ao hospital, em estado grave, após uma reunião de governo na cidade de Handlová, a 190 km da capital, Bratislava. Um suspeito foi preso no local. De acordo com a imprensa eslovaca, trata-se de um escritor de 71 anos.
O governo denuncia o crime como político. “A tentativa de assassinato foi politicamente motivada e o suspeito tomou a decisão de agir logo após a eleição presidencial”, disse o ministro do interior Matus Sutaj Estok, referindo-se à vitória de Peter Pellegrini, aliado de Robert Fico, no mês passado./COM AFP e NY Times