Rodolfo Hernández, 77, empresário e ex-prefeito de Bucaramanga, cidade no norte da Colômbia, ganhou fôlego no final da corrida eleitoral pelo primeiro turno, e quase se tornou presidente do país. Mas foi derrotado por Gustavo Petro no segundo turno, que recebeu mais de 50% dos votos. Conhecido como “velhinho do Tik Tok”, Hernández se colou como o candidato anticorrupção e “terceira via” do país.
Ele é uma espécie de “Donald Trump” colombiano, que, com sua própria fortuna e se apresentando como um outsider, buscou vencer as eleições no país.
Rodolfo Hernández Suárez nasceu em Piedecuesta, em 1945, e é um empresário da região de Santander, no nordeste da Colômbia. O empresário é um magnata da construção civil com uma fortuna avaliada em US$ 100 milhões.
Com uma estratégia de campanha focada em redes sociais, Hernández encampou o discurso anticorrupção e tentou se mostrar como uma “terceira via”, mas com ideias conservadores radicais e um discurso populista de direita.
Ele propôs recompensar os cidadãos por denunciar corrupção, nomeando colombianos que já vivem no exterior para cargos diplomáticos, o que, segundo ele, renderá economias em viagens e outras despesas, e proibindo festas desnecessárias nas embaixadas.
Daniel García-Peña, cientista político da Universidade Nacional da Colômbia, chamou Hernández de “candidato curinga”, porque se conectou com eleitores frustrados concentrando-se em uma única mensagem: acabar com a corrupção.
“A campanha de Rodolfo é: Prendam os corruptos. Ponto final”, disse García-Peña. “Isso é ser conectado. Há muita raiva contra a classe política.”
Ataque à democracia?
Mas algumas das propostas de Hernández foram criticadas como antidemocráticas. Ele propôs declarar estado de emergência por 90 dias e suspender todas as funções judiciais e administrativas para combater a corrupção, levando a temores de que ele pudesse fechar o Congresso ou suspender prefeitos.
Em entrevista ao The New York Times, Hernández disse que declarar o estado de emergência não violaria as normas democráticas, pois teria que ser aprovado primeiro pela Corte Constitucional. “Faremos tudo pela razão e pela lei”, disse ele. “Nada à força. Nada que viole direitos constitucionais e legais.”
Durante seu mandato como prefeito, ele foi elogiado por eliminar um déficit orçamentário e investir em infraestrutura em bairros pobres.
Mas ele renunciou ao cargo em 2019 depois que o gabinete do procurador-geral o acusou de envolvimento em um contrato fracassado de gerenciamento de resíduos. Hernández chamou as acusações de “farsa aberrante” e alegou perseguição política. Apesar do tumulto, ele deixou o cargo com um índice de aprovação de 84%.
Em dezembro de 2021, o procurador-geral abriu outra investigação contra Hernández por modificar irregularmente um manual do governo enquanto ele era prefeito.
Ao longo dos anos, Hernández ganhou as manchetes por suas gafes públicas e linguagem imprópria.
Em 2016, ele se declarou admirador do “grande pensador alemão” Adolf Hitler. Depois se desculpou, dizendo que queria dizer Albert Einstein. No início deste ano, ele não reconheceu imediatamente que Vichada é um departamento da Colômbia.
James Bosworth, analista da América Latina, disse em seu boletim informativo que Hernández “leva vantagem sobre Petro, que está totalmente despreparado para esse debate sobre corrupção”.
No entanto, ele surgiu como uma surpresa nas eleições para presidente da Colômbia com a promessa de acabar com os privilégios das autoridades e governar com austeridade. O empresário se candidatou sem estar filiado a nenhum partido político e sem ter passado pelas eleições primárias, que decidiram os nomes da direita, esquerda e centro. Ele também apresentou um crescimento rápido nas pesquisas eleitorais, saindo de 13,9% das intenções de voto em abril para 20,9% nos dias próximos do primeiro pleito.
Candidato do Tik Tok
A estratégia de campanha de Rodolfo Hernández, que financia a própria candidatura, apostou nas redes sociais para fazê-lo crescer. De estilo populista e com facilidade para se comunicar com o público, Hernández aparece em vídeos excêntricos do TikTok. Em um deles, aparece andando de patinete elétrico.
Por trás das mídias, o empresário apresenta um programa de governo que reúne propostas historicamente do campo progressista - como a legalização do uso recreativo da maconha e o debate sobre novas políticas na luta antidrogas, no país que é o maior produtor mundial de cocaína - e da direita conservadora.
Entre as propostas mais polêmicas, estava o apoio ao fracking (método para extração de petróleo e gás criticado por um alto índice de ocupação de terra) e um endurecimento da política de imigração atual, que regularizou quase um milhão de venezuelanos que estavam ilegais no país.
Quanto à guerrilha do ELN, a última reconhecida na Colômbia, Hernández propunha um acordo semelhante ao que o governo de Juan Manuel Santos assinou em 2016 com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
O empresário sofreu pessoalmente com a guerrilha. O pai, agricultor, foi detido pelos guerrilheiros da Farc por mais de quatro meses, enquanto a filha Juliana foi sequestrada pelos rebeldes do Exército de Libertação Nacional (ELN) em 2004. Hernández acredita que ela foi assassinada em cativeiro, mas disse que iria explorar negociações de paz independente disso.
Estratégias para o segundo turno
Depois que venceu o segundo lugar no primeiro turno, Hernández foi apontado como um desconhecido pelos analistas políticos e parte das críticas focavam no pouco aprofundamento de suas propostas de governo. Após as críticas, Hernández tentou se mostrar mais progressista e menos conservador, inclusive com um fio no Twitter onde revia parte de suas propostas mais polêmicas como a do fracking e tentava angarias votos dos ambientalistas.
Hernández renunciou ao debate com Petro, limitou suas entrevistas e cancelou as aparições públicas nas últimas semanas, denunciando um suposto complô para assassiná-lo com uma faca. Na última etapa da disputa, ele reforçou sua figura de capitalista pragmático que fez sua fortuna no mundo da construção e que não concorda com os políticos, por mais que expressem seu apoio.
A direita contrária a Petro cerrou fileiras ao redor do candidato independente, uma mistura de Donald Trump, Nayib Bukele e Andrés Manuel López Obrador. Deste último já anunciou que copiará suas coletivas de imprensa diárias e prometeu questionar os parlamentares que rejeitarem seus projetos.
Com três “lemas principais: não roubar, não mentir, não trair”, Hernández quer resolver a “falta de dinheiro, a falta de trabalho e a falta de segurança”, segundo seu estrategista.
Diante das várias gafes e comentários machistas e xenófobos, o independente quer passar a imagem de um homem comum que, por falar a verdade, pode cometer erros. Sua candidata a vice, Marelen Castillo, entrou na campanha para suavizar a imagem de Hernández diante das mulheres./AFP, EFE e REUTERS
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