THE NEW YORK TIMES - Aaron BoxermanOr Gat regressou sexta-feira, 13, a Be’eri, o kibutz (comunidade) israelense onde nasceu e foi criado, e encontrou um mundo totalmente diferente: casas destruídas, carros incendiados e ruas repletas de soldados que se preparam para a próxima fase da resposta de Israel ao ataque terrorista do Hamas, uma semana atrás.
Sua mãe, Kinneret; sua irmã, Carmel; e a sua cunhada, Yarden, continuam desaparecidas e teme-se que as mulheres mais jovens sejam prisioneiras do Hamas. Seu pai, Esel; seu irmão Alon; e sua sobrinha de 3 anos, Gefen, escaparam por pouco.
Be’eri, que fica perto da fronteira oriental da Faixa de Gaza, sofreu um dos massacres mais mortíferos do ataque, com mais de 100 mortes (cerca de 10% da população do kibutz), segundo as autoridades israelenses. Os terroristas foram de casa em casa, matando ou capturando aqueles que encontravam.
Os militares israelenses demoraram horas para chegar. “Minha irmã e minha cunhada são mantidas reféns e minha mãe provavelmente está morta”, disse Gat, 34 anos, sem rodeios. “Não há mais lugar para tristeza”, disse ele mais tarde, enquanto avaliava os danos. “Há uma raiva enorme.”
Filho conversou com os pais durante o ataque
Quando o Hamas atacou Israel no sábado passado, 7, Gat – que vivia em Tel Aviv, capital de Israel, mas pretendia voltar para Be’eri – estava na cidade de Ashdod, no sul do País, para uma despedida de solteiro de um amigo com outras pessoas do kibutz.
Eles fugiram para abrigos antiaéreos quando o ataque começou e Gat manteve contato com sua família enquanto, hora após hora, a situação se transformava em horror. “Eles diziam: o exército chegará em breve, o exército chegará em breve”, relata. “Mas eles não vieram.”
Os homens do Hamas, armados, destruíram a casa da família, empurrando Alon, Yarden e o jovem Gefen para dentro de um carro, disse Gat, reproduzindo o que seu irmão lhe contou. O carro acelerou em direção a Gaza, segundo o irmão de Yarden, Gili Roman, compartilhando detalhes do que Alon lhe disse.
Alon e Yarden, carregando Gefen, conseguiram escapar do carro no meio do caminho, se jogando para fora do veículo em movimento, mas foram perseguidos pelos integrantes do Hamas, disse Roman. Neste momento, Yarden “percebeu que não conseguia correr rápido o suficiente”, então deu Gefen a Alon.
Alon conseguiu se esconder com a criança até a manhã de domingo, 8, quando conseguiu uma forma de voltar para casa. Mas Yarden está desaparecida desde então. “Foi a última vez que ele a viu”, disse Roman. “Ela se escondeu atrás de uma árvore. Não sabemos o que aconteceu, mas ela salvou a filha.”
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O pai de Gat, Eshel, conseguiu se esconder no banheiro e trancar a porta, mantendo os terroristas afastados, disseram familiares. Carmel foi vista pela última vez por Eshel em posse do Hamas, disse Gat.
Uma comunidade cheia de perdas
Trabalhadores voluntários de emergência que vasculharam o kibutz nos dias seguintes ao massacre encontraram corpos por toda parte, inclusive de crianças pequenas, de acordo com Moti Bukjin, porta-voz do ZAKA, um grupo de resposta a emergências.
Na sexta-feira, 13, a maioria dos cadáveres parecia ter sido removida. O kibutz estalava de tensão enquanto os soldados passavam. Um tanque zumbia logo após a cerca de ferro que demarcava sua fronteira. A certa altura, um alerta de foguete fez com que dezenas de pessoas lutassem para se proteger novamente. Um estrondo retumbante ecoou pela cidade devastada.
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