A Rússia teria uma frota de navios instalada no Mar do Norte para sabotar parques eólicos, tubulações de gás e cabos de comunicação de países nórdicos, diz uma investigação conjunta de emissoras de TV públicas na Noruega (NRK), Dinamarca (DR), Suécia (SVT) e Finlândia (Yle).
Segundo a investigação, a frota russa se disfarça de navios de pesquisa ou de arrastões de pesca e carrega equipamentos de vigilância subaquática e mapeamento da área, com o objetivo de planejar ataques para danificar as comunicações ou derrubar sistemas de energia.
Ainda de acordo com as fontes consultadas para a investigação, que faz parte de um documentário a ser transmitido conjuntamente pelas emissoras a partir desta quarta-feira, 19, o objetivo do programa militar russo é preparar o país para um “grande conflito com o Ocidente”.
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“Em caso de conflito com o Ocidente, eles estão prontos e sabem onde intervir se quiserem paralisar a sociedade dinamarquesa”, diz o chefe de contraespionagem Anders Henriksen, do Serviço de Inteligência da Polícia Dinamarquesa (PET, na sigla original).
Por sua vez, Nils Andreas Stensønes, chefe do Serviço de Inteligência Norueguês, afirma que o programa é “altamente importante para a estratégia da Rússia” e “é controlado diretamente de Moscou”.
A investigação foi realizada com a análise de comunicações de rádio interceptadas da Marinha da Rússia, revelando que existem navios “fantasmas” no Mar do Norte e que esses tiveram seus transmissores desligados para que não fossem localizados nas águas nórdicas.
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Um desses navios da frota militar russa é o Almirante Vladimirsky. Oficialmente, o navio faz pesquisa marinha subaquática, mas a investigação alega que, na verdade, ele é utilizado para trabalho de espionagem.
Segundo a DR, o navio de 147,8 metros navegou pelo estreito de Kattegat, entre a Dinamarca e a Suécia, em novembro passado, sem compartilhar sua localização com o mundo exterior, enquanto enviava continuamente mensagens de rádio para uma base naval na Rússia. Pouco tempo depois de interceptadas as mensagens, a embarcação foi localizada ao norte da Dinamarca.
A DR relata que, quando jornalistas se aproximaram do local do Almirante Vladimirsky em um barco menor, em novembro, vários homens com rostos cobertos e coletes à prova de balas os confrontaram com o que pareciam ser rifles militares russos.
Especialistas ouvidos pelas emissoras durante a investigação afirmam que o principal objetivo da missão do navio, que navegou por outras regiões do Mar do Norte por um mês, era preparar a sabotagem para que a Rússia pudesse paralisar o fornecimento de energia no Noroeste da Europa. O mesmo navio teria sido avistado ainda perto da costa escocesa, além da Bélgica e Holanda.
“Há aglomerados de cabos onde uma bomba poderia derrubar todo o parque eólico”, afirmou à DR o analista naval H.I. Sutton, que revisou a rota da embarcação para as emissoras.
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A investigação também aponta a possibilidade de que as embarcações russas estivessem ligadas a um incidente em Svalbard, região sul da Noruega, quando um cabo de dados subaquático foi cortado. A polícia norueguesa disse acreditar que “atividade humana” estava por trás da sabotagem.
Entre as autoridades russas questionadas sobre as embarcações pelas emissoras, apenas o embaixador da Rússia na Noruega respondeu: “O trabalho dos navios de pesquisa é realizado em total conformidade com o direito internacional. Esse trabalho é coordenado por meio de canais diplomáticos”, disse Teimuraz Ramishvili em um comentário por escrito.
Navios ‘fantasmas’
De acordo com a investigação, no ano passado foram mapeadas grandes quantidades de dados de tráfego de navios, e foram encontradas informações sobre 50 embarcações russas que navegaram de maneira suspeita nos últimos 10 anos.
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“Eles podem realizar missões específicas onde, por exemplo, podem colocar minas marítimas e mapear oleodutos, cabos de comunicação e outros alvos de sabotagem relevantes”, disse o especialista em ameaças híbridas da Academia de Defesa da Noruega, Åse Gilje Østensen, à DR.
Noruega expulsou 15 diplomatas russos em abril
Na quinta-feira passada, 13, a Noruega anunciou a expulsão de 15 diplomatas russos por suspeitas de espionagem.
“Esses 15 agentes de inteligência são declarados indesejáveis porque realizam atividades incompatíveis com seu status diplomático”, disse a ministra das Relações Exteriores da Noruega, Anniken Huitfeldt, em comunicado. “Esta é uma medida importante para combater e reduzir o escopo das atividades de espionagem russa na Noruega”, acrescentou.
Os serviços de inteligência noruegueses apontam regularmente a Rússia e a China como as principais ameaças de espionagem contra o país nórdico, membro da Otan e fronteiriço com a Rússia, com quem compartilha uma fronteira de 198 km no Ártico.
Em abril de 2022, poucas semanas após o início da invasão russa da Ucrânia, Oslo - como outras capitais europeias - expulsou três diplomatas russos suspeitos de espionagem, levando Moscou a responder expulsando três diplomatas noruegueses./AP e AFP