A vitória de Rodolfo Hernández indo para o segundo turno nas eleições da Colômbia contra o esquerdista Gustavo Petro não só surpreende, como mostra a força das redes sociais. Hernández nos mostra aqui que ele é um candidato das mídias sociais e isso foi muito importante para seu resultado.
Rodolfo Hernández ganhou força no Tik Tok e no Instagram. Ele é um candidato dessa linguagem, que aparece e se comunica naturalmente. Nem todos os candidatos têm a capacidade de controlar, de ministrar e de sair-se muito bem com essas redes.
O temerário em outsiders como Hernández é que eles não têm conteúdo, são figuras públicas vazias. Hernández é um candidato que não colocou quais são as suas propostas. Não foi aos últimos debates, não participou publicamente das discussões com os outros candidatos e só tem essa participação pelo Tik Tok e redes sociais. É um outsider com um discurso anticorrupção e muito pitoresco.
Ele não só conseguiu ir para o segundo turno, como o fez muito bem. O que surpreendeu ainda mais foi a vitória em vários Estados, não apenas no seu. Ganhou até em lugares que não tem um “dono político” e também em lugares onde Petro já havia ganhado 4 anos atrás.
Ele se apoiou nesse discurso da anticorrupção e anti-polarização e todo o tempo reforçou isso. “Eu sou o único que não está polarizado, o único que nunca participou da política, o único em quem que vocês podem confiar”, e as pessoas gostaram deste discurso de ser contra os candidatos históricos. Ele usa esse discurso de novo, cômico, simpático, um velhinho que não poderia fazer mal a ninguém.
Com esse discurso e essa surpreendente popularidade, o cenário para o segundo turno fica muito difícil para Petro. A maioria dos votos de Fico Gutiérrez deve ir para Hernández, e seguramente Uribe vai dar aval a ele, mesmo que não publicamente. Petro vai ter que fazer negociações com candidatos que tiveram uma votação periférica, como o Sergio Fajardo.
O que está em jogo para os adversários agora é derrotar Petro. Essa figura de Petro de comunista, socialista e todos esses preconceitos vão ficar mais evidente no segundo turno ao contrapô-lo ao Hernández outsider, a mudança, o empreendedorismo.
*Maria Elena Rodriguez é professora do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio e pesquisadora do Brics Policy Center
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