Regime do Irã endurece repressão e protestos se espalham por escolas e universidades

Terceira semana de manifestações contra o governo começaram com forte participação de estudantes universitários e ensino médio, apesar da dura repressão do governo

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Por Redação

TEERÃ - O regime iraniano endureceu a repressão a ativistas e artistas que aderiram aos protestos contra o governo e o uso obrigatório do hijab após a morte da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, enquanto estava sob custódia da polícia da moral. As manifestações pelo país entram na terceira semana sem dar sinal de cansaço, com amplo apoio de estudantes universitários e de ensino médio.

Organizações de direitos humanos iranianas e jornalistas que cobrem a crise no país vêm relatando um número cada vez maior de protestos em instituições de ensino pelo país. Estudantes protestaram aos gritos de “isso não é mais um protesto! É o começo de uma revolução”, no departamento de ciências da Universidade Mashhad. Na Universidade Khajeh Nasir Toosi, os gritos eram de “Estudantes vão morrer, mas não vão tolerar indignidade”, de acordo com vídeos compartilhados pela Iran Human Rights (IHR), ONG com sede na Noruega.

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O movimento também chegou às escolas de ensino médio. Em Shiraz, estudantes, muitas delas meninas sem o hijab, entoaram: “morte ao ditador”. Em Karaj, alunas que também não usam o véu confrontam um homem que parece questioná-las pelo protesto contra o governo.

Contra os estudantes e contra outros civis em diferentes cidades do país, a repressão tem crescido. Um relatório da ONG iraniana Hengaw aponta que 23 pessoas morreram durante os protestos apenas na província do Curdistão, onde Mahsa Amini morava com a família. Mais de mil pessoas ficaram feridas.

Imagens da madrugada de segunda-feira, 3, mostram policiais perseguindo estudantes da Universidade Tecnológica Sharif de Teerã, uma das mais prestigiadas do país. Em outra gravação, os agentes levam os detidos com as cabeças cobertas por sacos.

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Na noite de segunda, a polícia antidistúrbios utilizou armas de paintball e gás lacrimogêneo contra os estudantes, que gritavam frases como “Mulher, vida, liberdade” e “Os estudantes preferem a morte à humilhação”.

O pesquisador Karim Sadjadpour, do Carnegie Endowment, lembrou em uma publicação nas redes sociais da participação estudantil nos movimentos que levaram à revolução iraniana no final dos anos 1970. “Estudantes iranianos estão começando a atacar. Em 1978, greves entre estudantes, bazares e trabalhadores do petróleo ajudaram a derrubar o xá”, escreveu.

Pressionadas pelos protestos populares, autoridades do regime teocrático têm tentado vincular os protestos apenas a uma parcela da população anti-islâmica e alegar que há fomento estrangeiro. O aiatolá Ali Khamenei acusou Estados Unidos e Israel de estarem por trás dos protestos. “Esse distúrbio foi planejado. Esses protestos e essa insegurança foram projetadas pela América e o regime sionista, e por seus empregados”, disse na segunda-feira, 3.

Nesta terça-feira, 4, o porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, Nasser Kanani, chamou o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de hipócrita, após o anúncio de novas sanções contra o país.

“Teria sido melhor se Joe Biden pensassem um pouco sobre o histórico de direitos humanos de seu país antes de falar sobre a situação humanitária (no Irã), embora a hipocrisia não exija uma reflexão profunda”, afirmou Kanani.

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Apesar do aumento da repressão e da escalada retórica, o regime iraniano também parece sentir os protestos. Forças de segurança libertaram o cantor Shervin Hajipour, de 25 anos, detido no dia 29 de setembro depois que a canção “Baraye” (“Para”), composta a partir de tuítes sobre as manifestações, viralizou nas redes sociais.

Mais cedo, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, apelou pela unidade nacional e tentou acalmar a raiva contra os governantes do país, mesmo quando os protestos contra o governo continuavam a se espalhar. Raisi reconheceu que a República Islâmica tinha “fraquezas e deficiências”, mas repetiu o discurso oficial de que a agitação foi nada menos que uma trama dos inimigos do Irã.

“Hoje a determinação do país visa a cooperação para reduzir os problemas das pessoas”, disse ele em uma sessão do parlamento. “Unidade e integridade nacional são necessidades que tornam nosso inimigo sem esperança.”

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