Rei Charles III é confrontado por senadora de origem indígena na Austrália; veja vídeo

Senadora Lidia Thorpe gritou que família real britânica praticou genocídio e roubo durante visita de rei Charles III a Austrália; Thorpe foi retirada do Parlamento após protesto

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Por Redação

SYDNEY — O rei Charles III foi confrontado por uma senadora de origem indígena durante uma visita ao Parlamento da Austrália nesta segunda-feira, 22. No fim de um discurso do rei, a senadora Lidia Thorpe se levantou em protesto, gritou “você não é nosso rei” e citou o genocídio dos povos indígenas e roubo de terras cometidos pela coroa britânica.

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“Devolvam nossas terras”, declarou a senadora. “Devolvam o que roubaram de nós: nossos ossos, nossos crânios, nossos bebês, nosso povo. Vocês destruíram nossa terra. Façam um acordo. Queremos um acordo nesse país”, acrescentou.

O discurso feito por Charles III, antes do protesto, prestou homenagem aos indígenas do país, com quem se reuniu após o evento no Parlamento. O incidente, no entanto, chamou a atenção para os crimes históricos da família real aos povos originários da Austrália.

Imagem desta segunda-feira, 21, mostra senadora australiana Lidia Thorpe durante o protesto contra o rei Charles III no Parlamento da Austrália. Charles III faz primeira visita oficial ao país Foto: Lukas Coch/AFP

Depois do protesto, a senadora foi conduzida para fora do Parlamento australiano, enquanto continuava gritando “você não é o nosso rei”.

O rei e a rainha Camilla, sentados no palco ao lado do primeiro-ministro Anthony Albanese, não reagiram aos gritos, conforme mostram as imagens. Trata-se da primeira visita oficial dele à Austrália desde a coroação, em maio de 2023. Antes de entrar no Parlamento, ele foi recebido por centenas de apoiadores e opositores.

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Oficialmente, Charles III é o chefe de Estado da Austrália, mas de forma decorativa. No entanto, o incidente tende a reacender o debate em torno da colonização da Austrália, que ganhou força após a morte da rainha Elizabeth II, em 8 de setembro de 2022.

A Austrália é uma das poucas nações da Comunidade Britânica colonizadas que não tem um acordo com os povos originários. O território foi colonizado no século 18 pelo explorador James Cook, que reivindicou pela primeira vez o continente para a coroa britânica, comandada à época pelo rei George III.

Quando a rainha Elizabeth II morreu, os australianos passaram a discutir se ela era responsável pelos erros do passado e pelas desigualdades que atingem os povos indígenas. Entre 1800 e 1970, ano em que Elizabeth já era rainha há quase duas décadas, crianças mestiças e indígenas eram enviadas à força para internatos e para missões eclesiásticas.

Um relatório do governo australiano estima que cerca de um terço das crianças indígenas foram retiradas à força de suas famílias em todo o país. As crianças ficaram conhecidas como ‘gerações roubadas’.

Imagem desta segunda-feira, 21, mostra o rei Charles III e a rainha Camilla na saída do Parlamento australiano. Rei foi hostilizado por senadora por passado colonial britânico Foto: Mick Tsikas/AFP

Durante o colonialismo, dezenas de restos mortais de indígenas foram levados para museus britânicos, onde alguns permanecem até hoje.

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O legado do imperialismo britânico também contribuiu para as disparidades raciais em educação, moradia e taxas de encarceramento, segundo especialistas. Mais de 400 indígenas morreram sob custódia desde 1991, e a expectativa de vida da população indígena, estimada em 800 mil, é inferior à população geral por anos, de acordo com dados do governo.

No início do seu discurso, Charles III se dirigiu aos povos originários como povos que “amaram e cuidaram deste continente por 65 mil anos”. “Em minhas muitas visitas à Austrália, testemunhei a coragem e esperança que guiaram a longa e às vezes difícil jornada das Nações em direção à reconciliação”, disse ele.

“Os povos das Primeiras Nações da Austrália me deram a grande honra de compartilhar tão generosamente suas histórias e culturas. Só posso dizer o quanto minha própria experiência foi moldada e fortalecida por essa sabedoria tradicional”, acrescentou.

Pouco após o discurso, Lidia Thorpe começou a gritar. Antes, ela virou as costas para o monarca quando “God Save the King” foi tocada no Parlamento. /THE WASHINGTON POST

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