BRASÍLIA - O recém-coroado rei Charles III manifestou intenção de visitar o Brasil ainda neste ano, assim como o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak. A informação é do ex-ministro das Relações Exteriores Antônio Patriota, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como futuro embaixador do Brasil em Londres. As viagens podem encerrar um hiato de catorze anos.
“Segundo informações recebidas das autoridades britânicas, tanto o primeiro-ministro Sunak como o rei Carlos III têm intenção de visitar o Brasil este ano”, afirmou Patriota, ao discorrer sobre a relação entre os países e os respectivos chefes de Estado e de governo nesta quinta-feira, dia 18, na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.
Ao Estadão, o ex-ministro disse que autoridades do Reino Unido, por meio da embaixada britânica em Brasília, informaram o Itamaraty sobre os planos do rei e do premiê. Durante uma reunião com diplomatas da Secretaria de Europa e América do Norte, o ex-ministro das Relações Exteriores foi comunicado do desejo dos líderes britânicos.
Sem data prevista
Patriota ponderou, no entanto, que não há uma data fechada para a visita do monarca, tampouco do premiê Sunak. O Ministério das Relações Exteriores foi avisado que a ideia é realizar ambas ainda em 2023. Caso contrário, segundo o embaixador, uma oportunidade seria a cúpula do G-20 a ser promovida em 2024 pelo Brasil, ao menos no caso de Sunak, e os governos trabalhariam em outro agenda dedicada ao rei Charles III.
Se vingar neste ano, a visita de Charles III ao Brasil seria uma das primeiras de seu reinado. A rainha Elizabeth II visitou o Brasil uma única vez, em 1968. Como príncipe de Gales, ele visitou o País em quatro ocasiões (1978, 1991, 2002 e 2009), sempre com temas ambientais na pauta e passagens pela Amazônia. Nos últimos 14 anos, nenhum premiê britânico visitou o Brasil. Tampouco um monarca.
“Isso não será um fato trivial, porque a última visita de primeiro-ministro britânico ao Brasil foi a do Gordon Brown, em 2009, no último ano em que ocupou o poder o Partido Trabalhista britânico - Tony Blair, Gordon Brown. E, desde 2010, o poder está nas mãos do Partido Conservador, com cinco primeiros-ministros sucessivos, nenhum dos quais tendo visitado o Brasil até agora, desde David Cameron até Theresa May, Boris Johnson, a efêmera Liz Truss e agora o Rishi Sunak, de modo que será uma ocasião importante essa manifestação de interesse, se ela se concretizar de fato”, disse o embaixador Patriota, atualmente no Cairo, Egito. “E, se o rei Carlos visitar o Brasil, essa será também a primeira vez que um monarca britânico visita o país em seis décadas. A última visita foi na década de 60 por parte da rainha Elizabeth II.”
Diálogo bilateral
Na próxima semana, o governo Lula vai receber a visita oficial do chanceler britânico, James Cleverly. Viagens de mais alto nível costumam ser precedidas por encontros do tipo. Ele será recebido no dia 24 pelo chanceler Mauro Vieira, no Itamaraty, para a sexta edição do Diálogo Estratégico, reunião que define as prioridades na relação bilateral. Temas centrais são a guerra na Ucrânia, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, comércio, parcerias em saúde, ciência, meio ambiente e defesa. “Reino Unido, nesse âmbito (segurança), é um interlocutor incontornável”, disse Patriota.
Na véspera da coroação, a embaixadora do Reino Unido em Brasília, Stephanie Al-Qaq, falou à Rádio Eldorado a respeito de uma visita do rei ao Brasil: “Eu já tenho muito trabalho, mas sempre estou buscando mais. Quem sabe? Espero que sim”.
Lula compareceu à coroação e participou de uma recepção destinada a chefes de Estado no Palácio de Buckingham, onde se hospedou em sua primeira viagem ao país, em 2004, a convite da rainha Elizabeth II. Na ocasião, usou uma condecoração que recebeu dela.
“A primeira coisa que o rei disse para mim foi para cuidar da Amazônia. E eu disse ‘eu preciso de ajuda’. Não é só a nossa vontade, eu preciso de ajuda e muitos recursos”, afirmou Lula, em Londres, ao comentar o encontro.
O presidente relatou ter convidado Sunak a viajar ao Brasil, durante encontro em Downing Street. Na ocasião, Sunak anunciou a doação de 80 milhões de libras esterlinas para o Fundo Amazônia. O Reino Unido se comprometera, durante a COP-26, a despejar na Amazônia 300 milhões de libras, como forma de conter o desmatamento. Lula afirmou que a primeira doação britânica não é suficiente e que vai cobrar dos países ricos o compromisso de enviar 100 bilhões de dólares.
Sabatinas
O ex-chanceler do governo Dilma Rousseff (2011-2013) e outros cinco embaixadores foram aprovados nesta quinta-feira na comissão. Agora, falta o Senado deliberar em plenário para que Lula efetive as nomeações, o que deve ocorrer na próxima semana. Além de Patriota, os senadores sabatinaram e autorizaram a indicação dos embaixadores Benoni Belli (Organização dos Estados Americanos), Clemente Baena Soares (Lima, Peru), Paulo Roberto França (Atenas, Grécia), Frederico Duque Estrada Meyer (Tel Aviv, Israel) e Guilherme Patriota (Organização Mundial do Comércio).
Houve desconforto apenas com a inquirição de Meyer, indicado a Israel, por cobrança da bancada evangélica. O senador Carlos Viana (Podemos-MG) reclamou da postura do governo em relação ao conflito com a Palestina. Ele disse que o governo Lula vem se manifestando contra Israel, o que considera um retrocesso.
Ele pressionou o embaixador a dizer sua opinião sobre os assentamentos israelenses e sobre qual seria a capital de Israel. A questão de Jerusalém está no centro do conflito, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, aliado de Viana, fez aceno a Israel e aos evangélicos e prometeu, mas não cumpriu, trocar a embaixada brasileira para a cidade.
“Qual é a capital de Israel? Ainda que meia cidade, um povo tem o seu direito de definir qual é a sua capital. E o Brasil tem se posicionado ainda sem uma resposta. Eu pergunto qual é a capital de Israel na sua opinião?”, insistiu o senador de oposição.
O embaixador disse que o País segue as decisões da ONU, sem dar opinião pessoal. “Nós somos todos funcionários de Estado, nós obedecemos às instruções que recebemos, quer dizer, não cabe a mim dar uma instrução de qual é a capital. Com relação a Jerusalém, que é uma questão polêmica, inclusive com a questão das embaixadas e tudo, eu gostaria de lembrar que a resolução do Conselho de Segurança da ONU 478, de 29 de agosto, determinou que os países retirassem suas embaixadas de Jerusalém. Não cabe a nós dizer qual é a capital. A capital, segundo a ONU, são as partes que devem negociar e decidir. E essa é a nossa posição. Não poderia ser outra. Nessa questão e em outras questões internacionais, o que nós fazemos é seguir as Nações Unidas.”
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