NOVA YORK (AP) — Minouche Shafik, a reitora da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, renunciou ao cargo nesta quarta-feira, 14, após um breve e tumultuado mandato, durante o qual enfrentou protestos sobre a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas e críticas sobre como a universidade lidou com as divisões relacionadas ao conflito.
A universidade, localizada em Nova York, foi local de protestos movidos por estudantes em abril deste ano, culminando em cenas de policiais com algemas de plástico e escudos de choque invadindo um prédio ocupado por manifestantes pró-Palestina. Protestos semelhantes se espalharam por diversas outras universidades americanas durante semanas.
Shafik anunciou sua renúncia em uma carta enviada por e-mail à comunidade universitária poucas semanas antes do início das aulas em 3 de setembro. Em sua carta, ela anunciou “progresso em várias áreas importantes”, mas lamentou que seu mandato também tenha sido um “período de turbulência, onde tem sido difícil superar visões divergentes em nossa comunidade”. Em sua declaração, ela reconheceu que os protestos no campus influenciaram sua decisão de renunciar.
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“Este período teve um preço considerável para minha família, assim como para outros na comunidade”, escreveu Shafik. “Durante o verão, pude refletir e decidi que minha mudança neste momento permitiria que a Columbia atravessasse melhor os desafios que viriam.”
Shafik estava entre os líderes universitários chamados para interrogatório perante o Congresso americano no início deste ano. Ela foi duramente criticada pelos republicanos que a acusaram de não fazer o suficiente para combater as preocupações sobre antissemitismo no campus de sua universidade.
O Conselho de Curadores anunciou que Katrina Armstrong, CEO do Columbia University Irving Medical Center, concordou em atuar como interina. O conselho disse que Armstrong, que também é vice-presidente executiva de Ciências Biomédicas e de Saúde da universidade, “é a líder certa para este momento”.
Armstrong disse que estava “profundamente honrada” por liderar a universidade em um “momento crucial para Columbia”. “Tempos desafiadores apresentam tanto a oportunidade quanto a responsabilidade para que uma liderança séria emerja de cada grupo e indivíduo dentro de uma comunidade”, escreveu Armstrong.
Outros líderes importantes da Ivy League renunciaram nos últimos meses, em grande parte devido à sua resposta aos protestos voláteis no campus. A presidente da Universidade da Pensilvânia, Liz Magill, renunciou em dezembro, após menos de dois anos no cargo, em meio à pressão de doadores e críticas sobre depoimento em uma audiência no Congresso, onde ela não conseguiu dizer, após repetidos questionamentos, que apelos no campus ao genocídio de judeus violariam a política de conduta da escola.
Já em janeiro, a reitora da Universidade de Harvard, Claudine Gay, renunciou em meio a acusações de plágio e críticas ao seu depoimento perante o Congresso, onde ela também não conseguiu dizer inequivocamente que os apelos ao genocídio de judeus seriam contra a política da escola.
Primeira mulher no cargo
Shafik foi nomeada reitora da universidade no ano passado e foi a primeira mulher a assumir o cargo, além de ser uma das várias mulheres recém-nomeadas para assumir o comando de instituições da Ivy League.
Ela já havia liderado a London School of Economics e, antes disso, trabalhou no Banco Mundial, onde se tornou a vice-presidente mais jovem da história do banco. Shafik também trabalhou no Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, seguida de passagens pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco da Inglaterra.
Na época da nomeação de Shafik, o presidente do Conselho de Curadores de Columbia, Jonathan Lavine, a descreveu como uma líder que compreendia profundamente “a academia e o mundo além dela”. “O que diferenciou Minouche como candidata”, disse Lavine em um comunicado, “foi sua confiança inabalável no papel vital que as instituições de ensino superior podem e devem desempenhar na solução dos problemas mais complexos do mundo”
Shafik disse que retornará ao Reino Unido para liderar um esforço do gabinete do secretário de Relações Exteriores para revisar a abordagem do governo ao desenvolvimento internacional e como melhorar a capacidade.
“Estou muito satisfeita e grata que isso me dará a oportunidade de retornar ao trabalho de combate à pobreza global e promoção do desenvolvimento sustentável, áreas de interesse vitalício para mim”, ela escreveu. “Também me permite retornar à Câmara dos Lordes para me envolver novamente com a importante agenda legislativa apresentada pelo novo governo do Reino Unido.”/Associated Press.
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