GENEBRA - A Força de Ação Especial da Polícia Nacional Bolivariana (Faes), criada por pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, para "combater o crime e o terrorismo", foi responsável pela morte de mais de 5,7 mil pessoas no ano passado e de outras 1,5 mil neste ano. Vista pela oposição como um esquadrão da morte do regime chavista, o Faes foi apontado pelo principal violador de direitos humanos no país por um relatório do Comitê de Direitos Humanos da ONU divulgado nesta quinta-feira, 4.
Em média, segundo a ONU, o Faes matou ao menos 14 pessoas por dia em 2018. As mortes foram documentadas pela Justiça chavista como resistência à ação policial. Em 2019, até maio, foram mais de 1,5 mil mortes por agentes da Faes. Em muitos casos, drogas são plantadas nas vítimas para forjar uma denúncia por narcotráfico.
A Alta Comissária da ONU para direitos humanos Michelle Bachelet visitou a Venezuela no mês passado para investigar possíveis violações atribuídas ao governo do presidente Nicolás Maduro no país.
No relatório, Bachelet afirma também ter registrado 66 mortes nos protestos contra o governo chavista, que começaram em janeiro. Destas, 52 foram cometidas por forças do governo e milícias leais ao chavismo.
O relatório ainda afirma que 793 pessoas foram presas por se opor ao regime chavista, sendo 22 delas parlamentares de oposição.
"Poucas pessoas recorrem à Justiça por medo de retaliação ou por desconfiança nas instituições", diz o texto. "A Procuradoria se omite na obrigação de apresentar denúncias contra esses criminosos e a controladoria da república se omite perante as violações de direitos humanos."
Apesar da economia da Venezuela ter entrado em crise bem antes das sanções impostas pelo governo americano, a situação deve piorar nos próximos meses em virtude dessas punições. Além disso, o acesso a alimentos e remédios é escasso e controlado politicamente pelo governo, segundo a ONU.
O relatório de Bachelet diz ainda que, em média, os venezuelanos - especialmente mulheres - ficam dez horas em filas esperando por alimentos. O documento também denuncia a morte de 157 pessoas por faltas de insumos médicos no país em 2019.
Para o coordenador geral da ONG venezuelana Provea, Rafael Uzcátegui, o relatório da ONU tem valor simbólico importante diante os apoiadores do governo de Maduro. “O informe da ONU não traz nenhuma novidade para quem está bem informado sobre a Venezuela. Mas seu valor simbólico diante daqueles que persistem em apoiar um governo antidemocrático é inegável”, escreveu no Twitter.
O governo venezuelano, que negociou a visita de Bachelet com a ONU e aceitou libertar alguns presos políticos, contestou o relatório. O governo de Maduro apresentou 70 pontos do relatório que julga ser parciais ou incorretos.
“O relatório apresenta uma visão seletiva sobre a verdadeira situação dos direitos humanos no país”, disse a chancelaria venezuelana em nota. “A metodologia para sua elaboração é débil e omite os avanços obtidos pela Venezuela em matéria de direitos humanos.
A visita de Bachelet foi criticada por setores da oposição venezuelana, que viam na ex-presidente socialista chilena uma figura simpática ao chavismo disposta a “legitimar” Maduro.
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