Relatório sobre Guerra no Iraque aponta erros de Tony Blair na condução do caso

Invasão ao território iraquiano aconteceu sem um mandato explícito do Conselho de Segurança da ONU. Ex-premiê aceitou responsabilidade pela participação no conflito e expressou 'arrependimento', mas rejeitou argumento de que terrorismo atual se originou na invasão do Iraque

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Por Redação
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LONDRES - O relatório britânico sobre a Guerra do Iraque aponta diversos erros na forma como o ex-primeiro-ministro Tony Blair conduziu o caso. Segundo o documento, ele superestimou a própria habilidade de influenciar as decisões americanas e enviou tropas ao território iraquiano antes de esgotar as vias pacíficas.

John Chilcot, autor do relatório, pediu nesta quarta-feira, 6, que os futuros conflitos armados do nível dessa intervenção de 2003 sejam autorizados unicamente após uma análise "cuidadosa" e de um "julgamento político".

Mãe de Gunner LeeThornton, que morreu em setembro de 2006 por ferimentos sofridos durante combate no território iraquiano, segura relatório sobre Guerra do Iraque Foto: AFP PHOTO

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O documento foi elaborado a partir da análise de milhares de relatórios e interrogatórios de militares e políticos britânicos, entre eles Blair, responsável pela invasão do Reino Unido no Iraque ao lado dos Estados Unidos. As famílias dos militares falecidos na guerra acreditam que o chamado “Relatório Chilcot” possa servir de base para processar o ex-primeiro-ministro, segundo os veículos de imprensa.

Em entrevista à emissora britânica BBC, Chilcot disse que em seu relatório há críticas a indivíduos e instituições. "A principal expectativa que tenho é que não será possível no futuro participar de um empenho militar e diplomático de semelhante nível e de tal gravidade sem aplicar uma verdadeira análise cuidadosa, uma avaliação e um julgamento político coletivo", afirmou.

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O ex-funcionário do governo britânico acrescentou que seu relatório de 12 volumes explora as decisões tomadas e que levaram o Reino Unido a intervir militarmente no Iraque para derrubar o então presidente Saddam Hussein.

Sobre as críticas aos responsáveis pela decisão de entrar na guerra, Chilcot disse que seu objetivo não era processar ninguém porque ele não preside um "tribunal". "Eu deixei muito claro desde o princípio, quando iniciei esta investigação, que se encontrasse coisas que mereciam críticas a indivíduos ou instituições, não iria fugir disso", afirmou.

Blair foi interpelado em duas ocasiões por Chilcot e pediu desculpas sobre a informação de inteligência que levantou para intervir no Iraque. A invasão foi polêmica na época e aconteceu sem um mandato explícito do Conselho de Segurança da ONU, com Estados Unidos e Reino Unido alegando que o regime de Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, que nunca foram encontradas.

Foto tirada em 2004 mostra o ex-presidente dos EUA George W. Bush (dir.) ao lado do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair (esq.) durante reunião no Salão Oval da Casa Branca Foto: EFE/Shawn Thew

A investigação foi organizada em 2009 pelo ex-primeiro-ministro Gordon Brown, após intensa pressão de políticos e das famílias dos 179 militares britânicos que morreram no conflito. Objetivo de Chilcot era avaliar as decisões tomadas antes e durante a guerra, as medidas adotadas e determinar o que se pode aprender do episódio mais polêmico de todo o mandato de Blair.

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O documento tem 2,6 milhões de palavras e sua elaboração custou 10 milhões de libras (US$ 13,3 milhões). Mais de 120 pessoas prestaram depoimento, incluindo ministros e altos comandantes militares e dos serviços de inteligência.

Defesa. Tony Blair disse, após a divulgação do relatório, que aceita a responsabilidade pela decisão de ir à guerra e expressou “arrependimento” pelo conflito. “As avaliações da inteligência feitas na época se mostraram erradas; o resultado se mostrou mais hostil, prolongado e sangrento do que eu jamais imaginei”, afirmou.

O ex-premiê destacou que enviar tropas britânicas ao território iraquiano foi a “decisão mais agonizante” que já tomou, e que a fez com base nas informações que tinha no momento. Ele também pediu o apoio da população: “Peço que as pessoas se coloquem no lugar de um primeiro-ministro”.

Blair ressaltou que o mundo é um lugar melhor em razão da eliminação do ditador Saddam Hussein, mas rejeitou o argumento de que o terrorismo atual se originou da invasão ao Iraque, e disse que optou pela decisão pois acreditava ser a mais correta com base nas informações que ele tinha. 

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O ex-premiê renunciou ao cargo de chefe de governo em 2007, mas sua credibilidade nunca se recuperou após a invasão de 2003. Grande parte dos britânicos acredita que ele nunca deveria ter enviado o país ao vespeiro da guerra.

Um relatório de 2004 sobre as informações dos serviços de inteligência utilizadas na época descobriu que as evidências haviam sido exageradas, mas o autor, Robin Butler, afirmou na segunda-feira que Blair "acreditava realmente" que estava fazendo o correto.

Veja abaixo: Soldados americanos falam sobre a Guerra do Iraque

Desde o episódio polêmico, os governos britânicos demonstram dúvidas intensas sobre o envio de tropas ao exterior, por exemplo na Líbia e Síria, e o Partido Trabalhista de Blair segue dividido. /EFE, AFP, Reuters e Associated Press

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