WASHINGTON - Um dos promotores de Segurança Nacional mais experientes do Departamento de Justiça dos Estados Unidos se juntou à equipe que supervisiona a investigação dos documentos confidenciais recolhidos da casa e clube privado de Donald Trump em Mar-a-Lago, disseram pessoas familiarizadas com o assunto.
Especialistas em lei de segurança nacional entrevistados pelo The Washington Post dizem que os promotores parecem ter acumulado evidências no caso que atenderiam a alguns dos critérios para apresentar acusações contra o ex-presidente – uma ação sem precedentes que eles disseram que provavelmente só aconteceria se o Departamento de Justiça acreditasse ter um caso extremamente forte.
David Raskin, que atuou por muitos anos como promotor federal sênior na cidade de Nova York e, mais recentemente, trabalhou como promotor em Kansas City, Missouri, tem auxiliado discretamente na investigação de Trump e seus assessores, segundo as pessoas familiarizados com o assunto que falou sob condição de anonimato para descrever uma investigação em andamento.
Raskin é considerado um dos promotores mais talentosos de sua geração, tendo trabalhado no caso de Zacarias Moussaou, que foi julgado na Virgínia como co-conspirador nos ataques terroristas de 11 de setembro que mataram quase 3.000 pessoas.
Raskin também fez parte da equipe que processou Ahmed Ghailani no tribunal federal de Manhattan em conexão com os atentados de 1998 às embaixadas dos EUA na África Oriental. Ghailani foi absolvido da maioria das acusações, mas considerado culpado de conspiração para destruir prédios e propriedades do governo. Ele é o único detento da Baía de Guantánamo a ser levado a um tribunal dos EUA, julgado e condenado. Ambos Moussaoui e Ghailani receberam sentenças de prisão perpétua.
Funcionários do Departamento de Justiça inicialmente contataram Raskin para consultar sobre a investigação criminal sobre o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio dos EUA. Mas seu papel mudou ao longo do tempo para se concentrar mais na investigação envolvendo a posse pelo ex-presidente e o possível manuseio incorreto de documentos confidenciais, disseram as pessoas familiarizadas com o assunto.
A adição de Raskin à equipe que lida com a investigação de Mar-a-Lago é outra indicação da seriedade com que os funcionários do Departamento de Justiça veem o caso e ressalta os altos riscos tanto para Trump quanto para aqueles encarregados de investigá-lo.
Raskin não respondeu às mensagens do The Post. Um porta-voz do Departamento de Justiça se recusou a comentar. Um porta-voz de Trump não respondeu aos pedidos de comentários nesta sexta-feira.
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Apenas duas semanas atrás, Raskin ganhou uma confissão de culpa em um caso paralelo ao de Trump – uma ex-analista do FBI em Kansas City que, segundo as autoridades, levou mais de 300 arquivos ou documentos confidenciais para casa, incluindo material altamente sensível sobre a Al-Qaeda e um associado de Osama bin Laden.
Em documentos judiciais, promotores federais dizem ter recuperado um número semelhante de documentos com uma variedade de marcações confidenciais de Mar-a-Lago, todos aparentemente retirados da Casa Branca. O Post informou anteriormente que parte desse material classificado era de inteligência altamente sensível e restrita que incluía pelo menos um documento sobre o programa de mísseis do Irã e outros sobre o trabalho de coleta de inteligência voltado para a China, de acordo com pessoas familiarizadas com o assunto que falaram sob a condição de anonimato.
“Não há outro caso na história como este”, disse Mary McCord, que atuou como procuradora-geral assistente interina para a Segurança Nacional durante o governo de Barack Obama. “Este é o ex-presidente dos Estados Unidos. Este é alguém que era o comandante em chefe, alguém que passou quatro anos sendo informado todos os dias sobre questões de segurança nacional. Não é como qualquer outro caso, então as medidas que os promotores tomarem não serão iguais a qualquer outro caso.”
Funcionários do governo com credenciais de segurança precisam assinar documentos reconhecendo que conhecem as regras de como lidar com esses segredos e segui-las. Quando deixam o governo, também assinam uma papelada dizendo que não possuem nenhum material confidencial, e os promotores costumam usar essa papelada como prova de que os réus entenderam que o que fizeram foi ilegal.
Os presidentes, no entanto, não têm autorização de segurança e não assinam tal papelada.
Por esse motivo e outros, qualquer acusação criminal em potencial dependeria muito da capacidade dos promotores de mostrar a intenção de Trump – que ele não apenas pegou involuntariamente materiais classificados da Casa Branca e os armazenou em sua residência no clube privado na Flórida sem saber que era um crime.
McCord diz que a linha do tempo dos eventos – desde pedidos de documentos do Arquivo Nacional, até intimações do Departamento de Justiça, até uma busca autorizada pelo tribunal na propriedade em 8 de agosto – pode ser fundamental para atender a essa exigência.
“As evidências dos muitos meses de idas e vindas entre o presidente e seus advogados no Arquivo Nacional sobre documentos que se acreditava serem confidenciais e que eles queriam que fossem devolvidos” sugerem que Trump estava ciente das ramificações legais da situação, disse ela.
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