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Renúncia do papa: conheça a cidade que alimenta rumores sobre a aposentadoria de Francisco

O papa viajará no fim do mês para a cidade italiana de L’Aquila, famosa por ter sido o palco da renúncia do papa Celestino V e para onde Bento XVI viajou quatro anos antes de sua aposentadoria

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Por Redação
Atualização:

VATICANO - O papa Francisco sugeriu na última sexta-feira, 29, que não descarta a possibilidade de “se colocar de lado” devido à idade, de 85 anos, e às limitações físicas causadas por problemas no joelho. Os rumores de aposentadoria do pontífice se tornaram maiores algumas semanas antes, quando o Vaticano anunciou sua visita à cidade de L’Aquila, na Itália, conhecida por ter sido visitada por dois papas antes de anunciarem suas renúncias.

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Em 4 de junho o Vaticano comunicou a viagem do papa Francisco para a capital da região italiana de Abruzzo no dia 28 de agosto para o Perdão Celestino. A cidade que é associada à renúncia do papa Celestino V em 1294, o primeiro papa que se tem indícios de ter renunciado por vontade própria e não por pressões políticas. Mais de 700 anos depois, em 2009, Bento XVI viajou à mesma cidade onde depositou seu pálio sobre o caixão de Celestino V. Quatro anos depois ele anunciou sua aposentadora do cargo.

Os rumores de renúncia de Francisco começaram logo após o anúncio da viagem, o que foi ironizado pelo papa em entrevista à agência Reuters. “Todas essas coincidências fizeram alguns pensarem que a mesma ‘liturgia’ aconteceria”, disse ele durante à entrevista com a agência de notícias em 4 de julho. “Mas isso nunca passou pela minha cabeça. Por enquanto não, por enquanto não. Realmente!”

O papa Francisco acrescentou combustível aos rumores sobre o futuro da seu pontificado ao anunciar que visitaria a cidade italiana de L'Aquila em agosto para uma festa iniciada pelo Papa Celestino V, um dos poucos pontífices que renunciou antes que o Papa Bento XVI deixasse o cargo em 2013 Foto: Gregorio Borgia/AP

Na última sexta-feira, no entanto, no fim de sua viagem de seis dias ao Canadá onde pediu desculpas às populações indígenas pelos abusos da Igreja em escolas do país, Francisco confessou que deveria reduzir ritmo de suas viagens. Ele não disse abertamente que cogita renunciar, pelo contrário, disse que não pensa em deixar o posto, mas admitiu que essa condição pode mudar.

A cidade dos papas eméritos

L’Aquila ganhou esta fama de prenunciar a renúncia papal depois que Celestino V viajou à cidade, rezou e anunciou que estava deixando o cargo. Pietro del Morrone, como era seu nome, foi nomeado papa em agosto de 1294, dois anos após a morte de Nicolau IV e muita cisão na Igreja. Por vontade própria, e após conversar com seus cardeais, Celestino foi até a cidade em 13 de dezembro do mesmo ano e renunciou por não se sentir preparado para o cargo - Celestino era um eremita antes do papado e tinha mais de 80 anos. A aposentadoria lhe rendeu uma passagem na famosa obra Divina Comédia, de Dante Alighieri, que o considerou um covarde.

Centenas de anos depois, Bento XVI anunciou sua renúncia alegando questões de saúde. O primeiro a se retirar do cargo por vontade própria após Celestino V. Com sua renúncia em 2013, foi relembrado seu gesto, quatro anos antes, ao visitar L’Aquila e depositar seu pálio nos restos mortais de Celestino V.

Papa Bento XVI beija um bebê que está sendo segurado para ele, em Coppito, perto de L'Aquila, Itália, em 28 de abril de 2009 Foto: Sandro Perozzi/AP

A visita de Francisco à cidade se dará em meio à celebração anual do Perdão Celestino em 28 e 29 de agosto, em que peregrinos se dirigem à Basílica de Santa Maria di Collemaggio de L’Aquila, onde é feito o rito de abertura da Porta Santa. Segundo o cardeal Giuseppe Petrocchi, chefe da arquidiocese da capital de Abruzzo, Francisco será o primeiro papa a abrir a porta em 728 anos, desde que o próprio Celestino V instituiu o rito.

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A catedral que será visitada pelo papa ainda está em ruínas após um terremoto que atingiu L’Aquila em 2009, deixando mais de 300 pessoas mortas e milhares de feridos. O sismo de 6,7 graus na escala de Richter ocorreu em 6 de abril de 2009, mas até hoje a cidade trabalha em sua reconstrução. Em entrevista à agência EFE em 2019, o prefeito de L’Aquila, Pierluigi Biondi, disse que mais de 75% da cidade já estava reconstruída, mas ainda levaria mais 5 anos para terminar as obras.

“O papa saudará os familiares das vítimas do terremoto de 2009 e celebrará a Missa na Basílica de Santa Maria di Collemaggio com o rito de abertura da Porta Santa”, informou o Vaticano ao anunciar a visita papal em 28 de agosto.

Estruturas metálicas sustentam o que resta de uma torre medieval, pois estão em andamento obras para reconstruí-la após o terremoto de 2009, em Santo Stefano di Sessanio, na província de L'Aquila, em Abruzzo Foto: Siegfried Modola/Reuters

Na mesma entrevista à Reuters em que negou cogitar a renúncia, Francisco já havia deixado aberta a possibilidade “se a saúde debilitada tornasse impossível o trabalho”. Ao ser questionado se achava que isso poderia ocorrer, Francisco respondeu que “Deus dirá”.

A saúde do papa

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Além da visita à cidade, os rumores de aposentadoria de Francisco foram amplificados por uma conjunção de eventos que inclui reuniões com cardeais para tratar de uma nova constituição para o Vaticano e uma cerimônia para empossar novos cardeais. Dezesseis desses cardeais têm menos de 80 anos e podem votar em um conclave para escolher o sucessor de Francisco.

Assim que se juntarem às fileiras dos líderes da Igreja, Francisco terá acrescentado 83 dos 132 cardeais em idade de votar. Embora não haja garantias sobre o que esses cardeais podem votar, os números aumentam as chances de que um sucessor que compartilhe as prioridades pastorais de Francisco seja escolhido.

Os restos recuperados do Papa Celestino V são guardados por um bombeiro na basílica de Santa Maria di Collemaggio do século 13, o símbolo da cidade de L'Aquila, cujo telhado desabou parcialmente durante o terremoto de 2009 Foto: Domenico Stinellis/AP

Mas o que desperta preocupação é justamente sua saúde. Francisco tem sofrido com fortes dores no joelho que o obrigam a se locomover em cadeira de rodas, como fez durante sua viagem ao Canadá na semana passada. Para aliviar o sofrimento, ele recebe regularmente infiltrações e faz sessões de fisioterapia, segundo o Vaticano. Ele descarta uma cirurgia em razão das “sequelas” da anestesia sofrida em julho de 2021 durante sua operação de cólon.

“Não acredito que possa manter o mesmo ritmo de viagens de antes. Acredito que na minha idade, e com esses limites, devo me poupar para poder servir à Igreja, ou pelo contrário pensar na possibilidade de me colocar de lado”, declarou o pontífice durante uma entrevista coletiva no avião que o levou de volta ao Vaticano.

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“Esta viagem foi uma espécie de teste: é verdade que não podemos viajar neste estado, talvez tenhamos que mudar um pouco o estilo”, admitiu, ao mesmo tempo que confidenciou que “tentaria continuar a viajar, estar perto das pessoas, porque é uma forma de servir, de proximidade”.

O pontífice admitiu, no entanto, que seu antecessor deixou a porta da renúncia “aberta” ao se aposentar por causa da saúde./Com informações da AP

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