Represamento de armas ocidentais atrasa contra-ofensiva da Ucrânia

Autoridades ucranianas, diplomatas ocidentais e analistas alertam que a ajuda está demorando demais para chegar - e pode atrapalhar os planos de uma retomada de territórios por Kiev

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Por Siobhán O'Grady, Alex Horton, Isabelle Khurshudyan e Anastacia Galouchka

Os Estados Unidos e seus parceiros estão aumentando o apoio às Forças Armadas da Ucrânia - incluindo o novo plano do Pentágono para acelerar a tanques M1 Abrams para a Ucrânia e uma decisão da Polônia e da Eslováquia de fornecer caças ao país - refletindo o alarme do Ocidente sobre os recentes avanços russos e o estreitamento das alianças do Kremlin com a China e o Irã.

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Mas, embora o presidente Biden tenha prometido permanecer com Kiev “pelo tempo que for necessário”, autoridades ucranianas, diplomatas ocidentais e analistas alertam que a ajuda está demorando demais. Enquanto os dois lados se preparam para uma temporada de combates na primavera no Hemisfério Norte que pode influenciar o resultado da guerra, a Ucrânia ainda carece de força e armas para expulsar totalmente os invasores russos de seu território.

O anúncio dos caças foi altamente simbólico e muito aplaudido em Kiev, mas os aviões da era soviética são de uso limitado dada a natureza da guerra, em grande parte uma luta de artilharia de curto alcance em que nenhum dos lados controla os céus. Os tanques Abrams adicionarão grande força blindada, mas não chegarão até o outono - cerca de seis meses após uma contra-ofensiva ucraniana prevista para a primavera.

Joe Biden anunciou o envio dos tanques M1 Abrams para a Ucrânia. Foto: Susan Walsh/ AP

“O que está claro é que o tempo está do lado da Rússia, o que significa que ela tem soldados e material para travar uma longa guerra em uma frente enorme”, disse Rachel Rizzo, analista do programa europeu do Atlantic Council. “A Ucrânia não tem essa vantagem. … Se as armas não forem entregues com rapidez suficiente, torna-se extremamente difícil para a Ucrânia recuar contra os ganhos russos”.

Atrasos não são o único desafio. Apesar das declarações de apoio ocidental, outros itens-chave na lista de desejos de armas da Ucrânia permanecem não realizados. Kiev está pedindo de tudo, desde equipamentos sofisticados, como caças americanos F-16 e artilharia de foguetes de longo alcance, até munição básica, especialmente projéteis para seus tanques e peças de artilharia da era soviética.

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Publicamente, os líderes da Ucrânia estão projetando confiança e expressando gratidão. “Esperamos um aumento no suprimento exatamente do que precisamos”, disse o presidente Volodimir Zelensky esta semana. “E nós precisamos disso agora.”

Alguns dos apoiadores de Kiev estão claramente se posicionando. O Reino Unido confirmou esta semana que está enviando munições de tanques à Ucrânia com urânio empobrecido, rejeitando as alegações do presidente russo, Vladimir Putin, de que tais projéteis têm “um componente nuclear”. O metal pesado ajuda a perfurar tanques e outras armaduras.

A Alemanha, que inicialmente não liberou tanques Leopard para a Ucrânia, agora espera reunir dois batalhões Leopard 2 - totalizando cerca de 70 tanques, embora reparos e verificações ainda precisem ser realizados em muitos desses veículos, que foram construídos em final dos anos 1980 e início dos anos 1990.

Ao mesmo tempo, há preocupações palpáveis de que o Ocidente hesitou por muito tempo. “O lado com mais recursos chegando mais rápido tem vantagem no campo de batalha”, disse o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba. “A munição de artilharia é a mais alta prioridade. … Quanto mais rápido conseguirmos mais projéteis, mais vidas ucranianas serão salvas; quanto mais efetiva for a defesa ucraniana e as operações de contra-ofensiva, mais cedo a Ucrânia será capaz de terminar esta guerra e restaurar a paz por meio de vitórias decisivas no campo de batalha.”

O embaixador da Estônia na Ucrânia, Kaimo Kuusk, disse que os aliados deveriam ter fornecido “mais e mais rápido. Mas reclamar não vai mudar o passado.” Ele acrescentou: “Devemos ajudar a Ucrânia a mudar o futuro, no momento”.

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O Kremlin denunciou os Estados Unidos e seus aliados por fornecer armas à Ucrânia, insistindo furiosamente que eles estão apenas prolongando o conflito e atrasando a inevitável vitória da Rússia.

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Os defensores da estratégia russa dizem que o Ocidente fez o máximo que pôde, evitando com sucesso o conflito direto com a Rússia, embora a abordagem inegavelmente tenha custado mais baixas à Ucrânia. A contra-ofensiva da primavera - destinada a recuperar uma grande parte do território ocupado pela Rússia - pode ser um teste decisivo.

A Ucrânia está retendo alguns soldados das linhas de frente mais sangrentas no leste do país, onde nenhum dos lados obteve ganhos territoriais notáveis recentemente. Essas tropas formarão brigadas de assalto e muitas receberam treinamento no exterior em novos equipamentos que os países ocidentais prometeram à Ucrânia.

Kiev, por exemplo, está criando batalhões especiais para os veículos de combate e tanques que as nações ocidentais estão fornecendo, disseram autoridades. Um batalhão organizado em torno de Bradleys fornecidos pelos EUA terá cerca de 30 dos veículos de combate.

Mas mesmo aqueles suprimentos já prometidos podem enfrentar mais atrasos se as linhas de abastecimento e os centros de transporte forem sobrecarregados por entregas de equipamentos, potencialmente dando vantagem à Rússia.

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Um diplomata europeu expressou esperança de que, após os anúncios da Polônia e da Eslováquia, outros apoiadores também forneçam aeronaves. “O principal significado dos jatos poloneses: quebrar um teto de vidro – mostrando que dar caças não é um tabu e não levará a uma Terceira Guerra”, disse o diplomata.

Mas em uma audiência na Câmara no mês passado, o chefe de política do Pentágono, Colin Kahl, rejeitou as sugestões de que a Ucrânia teria mais sucesso no curto prazo se os Estados Unidos atendessem seus pedidos por caças F-16. A fabricação e entrega de novos aviões levaria muitos anos, disse ele, e mesmo o embarque de aeronaves existentes levaria pelo menos 18 meses, assim como o treinamento de pessoal ucraniano.

Fornecer até metade do número de aviões solicitados, acrescentou, também seria excessivamente caro, e as autoridades dos EUA enfatizaram que extensas defesas aéreas de ambos os lados tornaram as aeronaves de combate de valor limitado tanto para a Ucrânia quanto para a Rússia.

Mas em uma entrevista ao The Washington Post em fevereiro, o coronel general Oleksandr Sirski, comandante das forças terrestres da Ucrânia, disse que o principal valor dos caças modernos, como os F-16, é sua capacidade de ataque de longo alcance. As forças russas se ajustaram ao uso da Ucrânia do High Mobility Artillery Rocket System, ou HIMARS, que tem um alcance de cerca de 80 quilômetros, movendo muitos de seus depósitos de munição e bases logísticas além dessa distância, disse.

“Se estamos falando de aviação, não estamos falando de aeronaves propriamente ditas. Estamos falando de plataformas de aviação com um conjunto específico de mísseis, mísseis de longo alcance”, disse Sirski. “Um aumento no alcance moverá automaticamente a linha de frente e as capacidades do inimigo diminuirão radicalmente.”

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Soldado passa por tanques M1 Abrams em Fort Carson, no Colorado. Foto: Christian Murdock/The Gazette via AP - 29/11/2016

No solo, as equipes de tanques ucranianos há muito anseiam por tanques de batalha modernos - tanto para dar uma vantagem sobre os russos quanto para melhor protegê-los se atingidos.

O plano de entrega acelerada de Washington para o Abrams foi recebido com entusiasmo moderado pelos líderes da 17ª Brigada de Tanques Separados. Em entrevista na região leste de Donetsk, onde está implementado, o chefe de gabinete do 1º Batalhão de Tanques, que atende pelo indicativo de chamada Wolf, disse que “é relevante, mas apenas se eles derem mais M1A2s”.

“Eles provavelmente estão optando por não nos dar suas melhores armas imediatamente, mas fazê-lo passo a passo”, disse Wolf, referindo-se à decisão do Pentágono de enviar o modelo mais antigo de tanques M1A1 Abrams mais rápido em vez de fornecer a variante mais avançada, que poderia ter levado um ano ou mais para construir.

Por enquanto, os ucranianos estão operando com uma mistura de seus próprios equipamentos e armaduras da era soviética capturados dos russos.

O T-64, um burro de carga da frota de tanques ucraniana, foi utilizado na década de 1960, e os tanques construídos com base no modelo receberam melhor blindagem e eletrônica. Mas os soldados disseram que mesmo essas atualizações não podem competir com tanques ocidentais como o Abrams, que etem tecnologia como ótica avançada.

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Para a Ucrânia, uma vantagem dos tanques mais antigos, como o T-64 e o T-72, sobre os sistemas ocidentais é que as tripulações e os mecânicos sabem como usá-los e mantê-los. Um soldado disse que um T-64 pode ser consertado rapidamente.

Por outro lado, o Abrams carrega um alto fardo logístico, disse o Pentágono, com autoridades expressando preocupação de que os ucranianos tenham dificuldades com apoio e manutenção. “O tanque Abrams é um equipamento muito complicado”, disse Kahl a repórteres em janeiro. “É caro. É difícil treinar. Tem um motor a jato. Acho que são cerca de três galões de combustível de aviação por quilômetro. Não é o sistema mais fácil de manter.”

Rizzo disse que mesmo que os Estados Unidos se movam para entregar o Abrams o mais rápido possível, “simplesmente não sabemos onde a guerra estará daqui a seis meses”.

Algumas autoridades e diplomatas reconhecem que a estratégia do Ocidente teve um custo para a Ucrânia, mas dizem que também refletiu as realidades políticas de reunir uma ampla coalizão internacional.

“Tenho certeza de que teria sido bom estar onde estamos há seis meses”, disse Mark Gitenstein, embaixador dos EUA na União Europeia, a jornalistas no final do mês passado. “E eu acho que teria feito a diferença. Mas não acho que foi possível movê-lo mais rápido do que fizemos”.

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