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Repressão prejudica imagem de Rajoy

Policiais de Madri usaram cassetetes e balas de borracha contra eleitores

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Por Andrei Netto e Barcelona

BARCELONA - A repressão da Polícia Nacional ao plebiscito de independência da Catalunha, considerado ilegal pelo Tribunal Constitucional, desarticulou a votação, mas custou caro à imagem do governo da Espanha. Os choques ocorreram em razão da intervenção de policiais enviados por Madri para impedir a abertura das seções eleitorais organizadas pelo governo regional catalão, mas tiveram como efeito reforçar o discurso dos separatistas contra o premiê Mariano Rajoy.

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Desde a madrugada, a reportagem do Estado acompanhou a mobilização do eleitorado independentista em Barcelona. Nas escolas do centro da capital regional, como Collaso I Gil e Mila i Fontanals, e Espai Jove La Fontana, do bairro tradicional e independentista de Gràcia, o fim da noite foi marcado por mobilizações de pais, estudantes e militantes nacionalistas. Por volta das 6 horas, quando a polícia havia anunciado a intenção de retirar os ocupantes e fechar os estabelecimentos, centenas de manifestantes sentaram-se em frente às grades e portões para impedir a entrada da polícia regional Mossos d’Esquadra.

Choques ocorreram em razão da intervenção de policiais enviados por Madri para impedir a abertura das seções eleitorais organizadas pelo governo regional catalão Foto: AFP PHOTO / Fabio Bucciarelli

A desocupação não ocorreu e, durante horas, os independentistas esperaram sob chuva a abertura da seção eleitoral. No horário marcado, filas gigantescas se formaram em frente aos estabelecimentos de ensino. Do lado de fora, os nacionalistas entoavam gritos de ordem como “Votaremos!”. Em frente à escola Mila i Fontanals, Lluis F. exigiu seu direito de expressar sua opinião. “Quero o meu direito de poder opinar. Quanto mais democracia temos, mais direito de opinar temos de ter. Se não há acordo, temos de sair às ruas”, argumentou. 

Conflito

Com o passar das horas, agentes da Guarda Civil e da Polícia Nacional espanholas passaram a interferir em alguns pontos da Catalunha. No fim da manhã, uma primeira desocupação forçada resultou em choques entre a polícia e os manifestantes depois que os agentes apreenderam o material eleitoral na Escola Ramon Llull, na região de El Camp d’en Grassot i Gràcia Nova. Centenas de militantes sentaram-se no chão para impedir os veículos da polícia de partirem, mas acabaram desalojados a golpes de cassetetes e com uso de balas de borracha. Na ação houve 38 feridos leves, segundo balanço parcial das autoridades.

Os pontos de conflito e as cenas de violência se multiplicaram, assim como o número de feridos, que superou 844 atendimentos médicos até o fim da noite.

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Em razão da repressão, na maior parte da Catalunha a votação não ocorreu normalmente já que a polícia apreendeu urnas, cédulas e materiais eleitorais e tirou de serviço sistemas virtuais que seriam utilizados na contagem dos votos. Em retaliação, os organizadores da consulta popular autorizaram os independentistas e os unionistas interessados em votar a fazê-lo sem necessidade de títulos eleitorais ou de se dirigir a seções específicas. Com isso, a lisura do voto, já questionada pelos opositores da independência, ficou ainda mais prejudicada. 

O governador da Catalunha, Carles Puigdemont, criticou o governo de Madri pela atitude. “Essas medidas do Estado espanhol são irresponsáveis”, reclamou, referindo-se à “violência injustificada que o governo de Madri ordenou contra as pessoas”. “Hoje, o Estado espanhol perdeu muito mais do que tinha perdido até aqui. Os cidadãos catalães ganharam muito mais do que haviam ganhado até aqui.” 

Em resposta, o delegado do governo central da Espanha, Enric Millo, acusou Puigdemont de ser o responsável “por todos os incidentes” ocorridos em Barcelona e no interior em razão do plebiscito. Segundo Millo, caberia a Puigdemont pôr fim aos acontecimentos em curso, que qualificou como “farsa”. “Exorto o presidente da Catalunha a pôr fim a esta irresponsabilidade”, declarou. 

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