As buscas para localizar o submersível Titan, que está desaparecido desde domingo, 18, apresentam desafios únicos que se tornam ainda mais complicados pelas profundidades envolvidas. O resgate da embarcação, que tem capacidade para mergulhar até 4 mil metros, superaria uma das missões de resgate mais profundas de todos os tempos, quando, há 50 anos, dois marinheiros ficaram presos a um fundo de um abismo de 490 metros abaixo da superfície do mar durante três dias.
Segundo o The Washington Post, em 29 de agosto de 1973, a bordo do submersível Pisces III, o piloto Roger Chapman e o piloto sênior Roger Mallinson iniciaram um mergulho de rotina nas águas do Atlântico, na costa da Irlanda, para fazer a instalação de cabos marítimos. Durante a missão, um cabo de reboque abriu uma escotilha, fazendo com que a água do mar invadisse a lateral do submersível e provocasse um naufrágio. Em poucos segundos, a embarcação chegou a 1.600 pés de profundidade, o equivalente a 490 metros.
O submarino possuía 72 horas de oxigênio disponíveis, mas já havia consumido oito horas durante o processo de mergulho, restando 66 horas para serem resgatados com vida. Uma das vantagens no caso de Chapman e Mallinson foi a comunicação. Durante o acidente, os marinheiros conseguiram manter contato com os seus colegas na superfície, avisando imediatamente sobre o acidente e logo dando início às buscas.
Uma operação de resgate começou de forma instantânea, em uma missão que uniu esforços do Reino Unido, do Canadá e dos Estados Unidos, com submarinos, navios, aviões e helicópteros, e que despertou a atenção de todo o mundo.
Um fator considerado essencial para o final feliz da história foi a orientação das equipes de buscas aos marinheiros para que eles permanecessem “o mais inativos possível”. Sem falar e se mexendo minimamente, o estoque de oxigênio pôde ser ampliado. Os dois tripulantes, inclusive, ainda tinham um pouco de comida - um sanduíche e uma limonada -, a qual se abstiveram de comer durante a operação.
Depois de três dias, a dupla finalmente foi resgatada com vida, por um submersível da Marinha dos Estados Unidos, CURV III, que fixou uma linha em seu submersível, permitindo que ele fosse elevado à superfície. Quando o Pisces III foi trazido à superfície, o oxigênio que restava era suficiente para apenas 12 minutos.
Resgate de Titan é muito mais complexo
Cinquenta anos depois, as guardas costeiras dos EUA e do Canadá mobilizam aeronaves, barcos e equipamentos de sonar em sua corrida para localizar o Titan, o submersível turístico de 6 metros de comprimento que está desaparecido cinco pessoas a bordo em um mergulho que tinha como objetivo chegar nos destroços do Titanic.
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Dependendo da distância de Titan abaixo da superfície, o esforço pode ser a missão de busca e resgate mais profunda já tentada. Um esforço de resgate enfrentaria visibilidade limitada, pressão extremamente alta e um fundo oceânico repleto de pedaços dos destroços do Titanic que dificultariam a identificação de Titã pelo sonar. E o suprimento limitado de oxigênio do submersível, que tem previsão de durar até esta quinta-feira, 22, torna a busca ainda mais urgente.
A primeira tarefa dos socorristas - antes de embarcar em qualquer missão de resgate - é encontrar o submersível. Sua localização e profundidade terão um impacto significativo na capacidade dos socorristas de implantar um veículo para resgatar os que estão dentro ou prender um guindaste para trazê-lo à superfície.
“A Guarda Costeira não tem todos os recursos para realizar esse tipo de resgate, embora esta seja uma área que está dentro de nossa zona de busca”, disse o contra-almirante John Mauger, comandante da Guarda Costeira dos EUA que lidera a busca. “Estamos realmente focados em tentar localizar a embarcação”, disse Mauger em entrevista à Fox News na segunda-feira.
Sublinhando os desafios, na terça-feira, 20, o Ministério da Defesa britânico, que não está envolvido na busca, disse que os relatórios sugerem que as profundidades envolvidas excedem em muito as capacidades do sistema de resgate submarino da Otan. A Guarda Costeira disse na segunda-feira, 19, que espera realizar uma busca mais abrangente no fundo do oceano, mas isso requer equipamentos especializados que as autoridades ainda não conseguiram implantar.
Os destroços do Titanic representam um desafio adicional para a detecção por sonar. “Há muitos detritos no fundo”, disse Mauger na segunda-feira. “Localizar um objeto no fundo será difícil.” Nenhuma luz é capaz de atingir a profundidade do Titanic, o que significa que qualquer busca visual é limitada, já que as luzes elétricas podem iluminar pouco mais de 6 metros, disse o contra-almirante aposentado da Marinha Real Britânica, Chris Parry, à Sky News na terça-feira.
Ele disse que as correntes oceânicas são tão fortes naquela profundidade que poderiam empurrar o submersível ao longo do fundo do mar e para longe do Titanic, complicando ainda mais a busca. “Está totalmente escuro lá embaixo, e você também tem muita lama e outras coisas sendo arrastadas pelos propulsores [do veículo]”, disse Parry. A profundidade também exerce uma enorme pressão sobre qualquer equipamento implantado no fundo do oceano. “É como estar no espaço, o mesmo grau de perigo e o mesmo grau de problemas.”./WP
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