ENVIADA ESPECIAL A BUENOS AIRES, ARGENTINA – Com as urnas fechadas na eleição presidencial da Argentina e a apuração em andamento, muitos argentinos já se aglomeravam nas sedes das campanhas dos três principais candidatos que tentam chegar ao segundo turno: o libertário Javier Milei, o peronista Sergio Massa e Patricia Bullrich, de centro-direita.
Vestindo sua tradicional jaqueta de couro, Milei compareceu ao seu local de votação em Buenos Aires pouco depois do meio-dia (mesmo horário em Brasília), de onde saiu com enorme dificuldade, em meio a uma multidão fervorosa, que cantava “A casta tem medo”, discurso que se tornou um símbolo de sua campanha.
Junto com parte da imprensa internacional que foi deixada de fora do bunker de Milei, dezenas de apoiadores se reuniram do lado de fora do Libertador Hotel ao som de “a casta tem medo”. Muitos foram fantasiados de leão, motosserra e o próprio Milei. Comerciantes aproveitaram para vender bandeiras, camisetas, bottoms e bonecos de Milei em meio à aglomeração. Também era possível encontrar vendedores de milanesas e água.
Estadão na Argentina
Para o advogado Boris Morán, 34 anos, Milei é “uma opção diferente. Ainda que muitos o vejam como um salto no vazio, estamos olhando para alguém que, pelo menos, diz o que vai fazer e está contra algo contra o qual protestamos a vida toda e nunca mudou”, declarou.
Danni Lima, 43, estava crente em uma vitória em primeiro turno. Diz que nunca concordou com o kirchnerismo e vota para tirar esses mesmo políticos do poder. “A gente precisa urgente de uma mudança "
Para os jovens Lucca Dorado, de 22 anos, e Jason Salazar, de 23, argentinos que moram no Chile, Milei é uma grande esperança. Os dois não votaram, porém vieram só para ver o Milei ganhar. Chegaram ontem e devem voltar amanhã para o Chile. Querem que ele ganhe em primeiro turno para nao precisar voltar no segundo. “Estou preocupado porque dizem que não vai ganhar em primeiro turno. Quero que ganhe porque ele é o único que pode mudar a Argentina”, disse Lucca.
Sérgio Massa
Sergio Massa, da coalizão União pela Pátria (peronismo de centro-esquerda) votou pouco antes, acompanhado da mulher, Malena Galmarini, na cidade de Tigre, reduto do atual ministro da Economia, no norte de Buenos Aires.
“Hoje é um dia que nos obriga a trabalhar pensando na consolidação de 40 anos de democracia”, afirmou após votar.
Patricia Bullrich, por sua vez, votou mais tarde, cercada de apoiadores. “O objetivo não é apenas estar no segundo turno, mas vencer as eleições”, disse a candidata da aliança de centro-direita Juntos pela Mudança.
Com uma taxa de inflação de quase 140% em 12 meses e um aumento do índice de pobreza, que afeta mais de 40% da população, os eleitores chegaram exaustos ao dia da eleição, que, pela primeira vez em três décadas, é disputada por três candidatos competitivos, em vez de apenas dois nomes das grandes forças políticas.
Catalina Escudero, uma professora de 36 anos que trabalha em uma das zonas eleitorais, confessou à AFP que não tinha esperança de “uma mudança mágica”. “Espero que quem ganhe entenda que há 45 milhões de pessoas no barco e que não se pode fazer coisas malucas sem medir as consequências.”
A votação começou às 8h e prosseguirá até as 18h(mesmo horário em Brasília).
Força disruptiva
“Precisamos de uma mudança. O país é um desastre. Na verdade, entre a pobreza e a inflação, as pessoas estão em má situação”, declarou à AFP Gabriela Paperini, 57 anos, que trabalha como voluntária em um centro eleitoral de Buenos Aires.
Ela declarou seu voto em Patricia, mas disse que sua filha votará em Milei.
Com presença na política apenas desde 2021, quando foi eleito deputado, Milei é o favorito nas pesquisas, depois de surpreender como candidato mais votado nas primárias de agosto.
“A força que surge como disruptiva é a que ficou em primeiro nas primárias e a que tem maior capacidade de crescimento”, explicou à AFP Paola Zubán, diretora da consultoria Zubán, Córdoba e Associados.
Para vencer já neste domingo, um candidato precisa de 45% dos votos, ou 40% e uma vantagem de 10 pontos em relação ao segundo mais votado.
Supostas denúncias de fraude por parte de apoiadores de Milei circulam nas redes sociais, indicando falta de cédulas eleitorais nos centros de votação, ou que elas estão sendo destruídas por eleitores de outros candidatos.
O mesmo ocorreu durante as primárias. Dois dias antes da eleição, o próprio Milei denunciou a circulação de cédulas falsas com seu nome.
O libertário Javier Milei despontou como favorito à Casa Rosada e lidera as pesquisas para eleição na Argentina. O quadro das intenções de voto dá como certo que o economista chegará ao 2º turno. A pergunta que fica é: será necessário? Ou a disputa já pode ser resolvida no domingo, 22 de outubro?
O cenário é improvável, mas não está totalmente descartado. Isso porque, na Argentina, é possível vencer a eleição em 1º turno com 40% dos votos, desde que a diferença para o segundo colocado seja de pelo menos dez pontos percentuais.
No melhor cenário para Javier Milei, ele aparece bem perto disso. A pesquisa da consultoria RDT publicada no Clarin aponta que o libertário poderia passar dos 38% enquanto o ministro da Economia, Sergio Massa, teria 27%, seguido pela ex-ministra Patricia Bullrich, com 23%. O levantamento foi feito entre os dias 28 de setembro e 03 de outubro como uma margem de erro de 3 pontos percentuais.
Além da presidência, os argentinos também definem neste domingo metade das cadeiras da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. As pesquisas indicam que nenhum partido conquistará a maioria parlamentar.
O novo presidente assumirá o cargo em 10 de dezembro, para um mandato de quatro anos. O país tem 35,8 milhões de eleitores registrados.
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