WASHIGNTON - A ordem de Donald Trump para retirar 7 mil soldados americanos do Afeganistão surpreendeu autoridades afegãs e diplomatas ocidentais nesta sexta-feira, 21, mas a preocupação foi muito maior com a forma como a notícia chegou do que com o conteúdo dela. Falando em condição de anonimato ao New York Times, diplomatas explicaram que o anúncio não apenas atropelou o governo afegão, mas também autoridades de alto nível americanas que trabalhavam por um acordo de paz com o Taleban na região.
Durante a semana passada, diplomatas dos Estados Unidos tiveram dois dias de conversas com representantes do Taleban e um dos tópicos tratados foi justamente o futuro da presença militar americana.
Horas antes da decisão de retirada dos soldados americano se tornar pública, Zalmay Khalilzad, diplomata dos EUA de maior escalão envolvido nas negociações, havia garantido ao Taleban que o compromisso de Washington no Afeganistão era certo.
Nas circunstâncias corretas, a diminuição do número de soldados americanos no Afeganistão poderia ser um sinal positivo para as negociações de paz, uma forma de mostrar ao Taleban que os EUA estão comprometidos em fazer concessões pelo acordo. Mas do jeito que foi anunciada, a retirada foi interpretada pelo Afeganistão como uma traição e pode ter consequências negativas.
"Uma rápida saída das forças internacionais pode levar a um colapso do governo afegão e iniciar uma nova guerra civil", afirmou ao NYT Graeme Smith, analista da International Crisis Group e antigo observador para o Afeganistão.
Atualmente, os EUA têm cerca de 14 mil soldados no Afeganistão, na missão da Otan de apoio às forças afegãs e em operações de combate ao terrorismo. Trump tomou a decisão de retirar 7 mil homens do país no mesmo dia que informou ao Pentágono seu desejo de retirar as tropas americanas da Síria.
A mudança de estratégia em relação à Síria e ao Afeganistão abrem um cenário de incerteza no Oriente Médio e na Ásia Central. No ano passado, o secretário de Defesa James Mattis - que apresentou sua renúncia na quinta-feira por discordar das decisões de Trump - convenceu o presidente a se comprometer com o envio de milhares de homens ao Afeganistão, onde os taleban estavam massacrando as forças locais e obtendo importantes avanços.
Apesar da surpresa, presidência afegã informou que a decisão de Trump não afetará a segurança no país. "Isso não vai afetar a segurança já que há quatro anos e meio os afegãos exercem pleno controle sobre a segurança", explicou o porta-voz do presidente Ashraf Ghani, Haroon Chakhansuri, nesta sexta nas redes sociais.
A Otan também reagiu à decisão e afirmou que sua operação "para garantir a segurança a longo prazo e a estabilidade no Afeganistão" continuará normalmente. / NYT e AFP
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