BRASÍLIA - A reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas sobre a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas terminou sem que houvesse um comunicado oficial do órgão neste domingo, dia 8. Foi a primeira vez que os 15 países do conselho trataram do confronto sem precendentes, que deixou mais de mil mortos, entre israelenses e palestinos.
A reunião a portas fechadas foi convocada pelo Brasil, que exerce a presidência temporária do colegiado em outubro. A diplomacia dos Estados Unidos disse que um bom número de países condenou os ataques do Hamas e exigiu que cessem atividades terroristas. Mas também não deu detalhes.
O embaixador Sergio Danese, representante permanente do Brasil nas Nações Unidas, presidiu a sessão de consultas fechadas e disse que as ameaças e previsões de uma guerra “longa e difícil” - como disse o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu - devem ser deixados para políticos e militares.
“Esse tipo de avaliação deve ser deixada para os políticos e militares. O diplomata tem que pensar na possibilidade de que agora ou um pouco adiante se retome o caminho da paz e da negociação. É para isso que nós existimos”, disse Danese.
“A tônica das intervenções foi no sentido de se refletir sobre a necessidade de se voltar a um processo negociador o mais rápido possível”, limitou-se a dizer o embaixador. “Clima para negociação sempre há, a diplomacia sempre tem espaço, em qualquer situação que se esteja vivendo. É preciso buscar contruir esse espaço, se não estiver evidente.”
Danese falou com jornalistas em Nova York como representante do Brasil. O conselho não deu aval para que o presidente falasse em nome de todos os membros, não votou resoluções nem autorizou um comunicado oficial à imprensa. Todas as decisões precisam ser aprovadas por consenso no Conselho de Segurança. Portanto, a ausência de um comunicado é mais um sinal de que houve divergências entre os membros.
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“O conselho tem uma autotidade e se chegar a uma decisão ou fórmula poderá ser de muita utilidade no encaminhamento do conflito, na restauração de um ambiente de paz e de negociação, que é aquilo que todos nós almejamos”, afirmou o embaixador brasileiro. “A reunião dá aos países uma visão mais clara, mais ampla da situação local.”
Segundo Danese, o Brasil manifestou preocupação e tristeza com os ataques e tentou trazer um olhar para as causas da violência na região. O governo condenou os ataques horas depois de terem começado, em nota divulgada pelo Itamaraty, lembrou o embaixador, sem dar mais detalhes de qual foi o discurso na reunião.
Ele destacou a importância de se retomarem negociações para encontrar uma solução duradoura, a coexistência pacífica de dois Estados dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas, como é a posição tradicional do País.
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EUA citam condenações
O representante suplente dos Estados Unidos, embaixador Robert Wood, disse que houve “um bom número” de condenações aos ataques do Hamas e que não era esperado nesse momento um posicionamento do conselho. Ele pregou solidariedade a Israel, e disse que as atividades do grupo terrorista palestino devem ser condenadas. Wood não quis comentar possíveis ações de apoio militar dos EUA a Israel na reação ao Hamas. A avaliação de Washington é de que o conflito pode crescer.
“Não quero entrar em detalhes, mas um bom número de países condenou os ataques do Hamas. Obviamente não foram todos, e vocês podem imaginar quais não condenaram. A situação ainda está fluída e muita perigosa. Estamos trabalhando duro para evitar que o conflito se espalhe. Nossos pensamentos estão com as pessoas e o governo de Israel. É uma situação trágica, um momento difícil. É preciso que a comunidade internacional condene fortemetne essa invasão não provocada e os ataques terroristas que aconteceram e estão acontecendo”, afirmou Wood, argumentando que condena a morte de civis pelo terror em qualquer lugar do mundo e que preocupa na região como um todo.
O embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, disse antes do encontro que o Hamas cometeu “crimes de guerra” e que a infraestrutura do grupo terrorista deve ser aniquilada.
O coordenador especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio, o norueguês Tor Wennesland, fez um relato aos países durante o encontro, para que os representantes tivessem uma ideia mais ampla da situação no terreno em Israel e em Gaza. Depois, cada um pode fazer perguntas e manifestar posições sobre o conflito e a extensão dos ataques. Assim, os diplomatas puderam colher impressões de como os países se posicionam e projetar visões futuras.
O embaixador Danese disse que os países acordaram de não fazer comentários públicos sobre o teor das manifestações. Segundo ele, é “provável” que o conselho volte a se reunir em breve para fazer novas discussões, sob a presdiência brasileira, por causa do interesse internacional amplo.