A revista britânica The Economist declarou apoio à candidata Kamala Harris na eleição presidencial dos Estados Unidos, marcada para o dia 5. Em um artigo publicado nesta quinta-feira, 31, a equipe editorial da revista argumenta que um segundo mandato de Donald Trump teria “riscos inaceitáveis” e chama Kamala como “representante da estabilidade”. “Se a The Economist tivesse direito a voto, votaríamos em Kamala Harris”, diz o subtítulo do artigo.
Intitulado “Um segundo mandato de Trump traz riscos inaceitáveis”, o texto defende que a volta do republicano à Casa Branca teria políticas mais radicais do que as vistas no primeiro mandato e podem desestabilizar tanto a economia americana quanto às relações internacionais em um momento de maior instabilidade no mundo, por causa das guerras na Ucrânia, no Oriente Médio e a disputa com a China no Leste Asiático. A revista também vê riscos de uma divisão social cada vez maior nos EUA e uso da máquina para perseguir inimigos políticos.
A The Economist tem a tradição de apoiar candidatos nas eleições americanas desde a década de 1980, ano em que apoiou o republicano Ronald Reagan. A revista não apoiou Trump nas duas eleições anteriores em que o republicano participou (2016 e 2020) por julgar que ele representaria riscos aos valores democráticos e liberais dos EUA. Em um outro artigo, a revista defende que o apoio declarado, contrastando com a decisão de jornais como o The Washington Post e o Los Angeles Times, não rompe com a independência editorial, mas é “um exemplo dela”.
Dirigindo-se aos eleitores que acreditam que os alertas sobre um segundo governo Trump são exagerados por acreditarem que o primeiro governo do republicano não foi radical como alarmado à época, a revista defende que a diferença entre um mandato e outro seria as limitações menores que Trump teria.
“Hoje os riscos são maiores. Isso porque as políticas de Trump são piores, o mundo é mais perigoso e muitas das pessoas sóbrias e responsáveis que frearam seus piores instintos durante o primeiro mandato foram substituídas por verdadeiros crentes, bajuladores e oportunistas”, afirma a revista. “Os riscos para a política interna e externa são amplificados pela grande diferença entre o primeiro mandato de Trump e um possível segundo: ele teria menos limitações”, diz outro trecho.
“Os Estados Unidos podem muito bem passar por mais quatro anos de Trump, assim como aconteceu nas presidências de outros líderes que falharam, de ambos os partidos. O país pode até prosperar. Mas eleitores que se afirmam cabeças-duras ignoram o risco alto de uma presidência de Donald Trump”, acrescenta.
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A revista argumenta que durante o primeiro mandato ainda havia uma plataforma republicana moderada e que hoje o partido está mais radical. Como exemplo, eles citam as promessas do ex-presidente de tarifas de 20% sobre importações e de 200% ou até 500% sobre automóveis fabricados no México; o plano de deportar milhares de imigrantes, mesmo aqueles com empregos e filhos; e o corte de impostos, em um momento em que o déficit orçamentário americano é comparado ao existente em épocas de guerra ou recessão.
“Essas políticas seriam inflacionárias, potencialmente criando um conflito com o Federal Reserve (equivalente ao Banco Central dos EUA). Elas arriscariam desencadear uma guerra comercial que acabaria empobrecendo os Estados Unidos. A combinação de inflação, déficits descontrolados e decadência institucional anteciparia o dia em que os estrangeiros se preocupariam em emprestar dinheiro ilimitado ao Tesouro dos EUA”, escreve a Economist.
O outro motivo para os riscos serem maiores do que em 2016, afirma a revista, é o cenário geopolítico. “O mundo mudou. Em 2017-21 (período do primeiro governo republicano), estava em grande parte em paz”, diz o texto. “Mas, quando o próximo presidente assumir o cargo, duas guerras colocarão em risco a segurança dos EUA. Na Ucrânia, a Rússia tem a vantagem, o que coloca Vladimir Putin em posição de ameaçar novas agressões à Europa. No Oriente Médio, uma guerra regional que se aproxima do Irã ainda pode envolver os EUA”, acrescenta.
O texto ainda defende que uma segunda presidência do republicano iria lidar com controles menores sobre o poder do presidente, devido à decisão da Suprema Corte que proibiu processos contra chefes de Estado por atos da presidência. “Se controles externos são mais frágeis, muito mais vai depender do caráter de Trump”, afirma. “Dado seu desprezo obstinado pela Constituição após perder a eleição em 2020, é difícil ser otimista”.
A defesa de Kamala Harris aparece no final do texto. A revista destaca as críticas negativas à democrata por opositores – como parecer insegura e indecisa e apoiar políticas mais à esquerda –, mas pondera que ela tem defendido ideias mais próximas do centro e elenca a estabilidade como a razão para escolhê-la na disputa. “É difícil imaginar a Kamala Harris sendo uma presidente estelar, embora as pessoas possam se surpreender. Mas você não pode imaginá-la causando uma catástrofe”, afirma a Economist.
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