Revista publica o chat detalhado do vazamento dos planos da cúpula da Casa Branca de ataque no Iêmen

O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, e outros oficiais haviam negado que ‘planos de guerra’ foram compartilhados no chat, que incluía um jornalista

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Por Redação
Atualização:

WASHINGTON- A revista americana The Atlantic publicou nesta quarta-feira, 26, uma série de novas mensagens enviadas por membros do governo Donald Trump no aplicativo criptografado Signal que incluíam detalhes operacionais de ataques militares contra os Houthis no Iêmen.

A revista inicialmente havia retido detalhes dos planos de guerra, justificando que as informações eram sensíveis e poderiam prejudicar tropas americanas no exterior. Mas os comentários de oficiais republicanos, que negaram que planos de guerra haviam sido compartilhados, fizeram a publicação mudar de ideia.

O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, participa de uma entrevista na Casa Branca  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Os novos detalhes do conteúdo divulgado no grupo foram publicados antes de uma audiência do Comitê de Inteligência da Câmara com o diretor da CIA, John Ratcliffe, e a diretora de Inteligência Nacional, Tulsi Gabbard.

Detalhes

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As novas mensagens, que incluem capturas de tela do bate-papo completo, deixam claro que o secretário de Defesa, Pete Hegseth, compartilhou detalhes específicos sobre o momento dos lançamentos de porta-aviões dos EUA.

Os horários de lançamento geralmente são mantidos em segredo para garantir que os alvos não possam se esconder ou montar um contra-ataque no exato momento em que os aviões estão decolando, quando estão potencialmente vulneráveis.

A revista afirmou nesta quarta-feira que incluiu todas as capturas de tela, exceto o nome de um oficial da CIA que está trabalhando como assessor de John Ratcliffe, o diretor da agência, a pedido da organização.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participa de um evento na Casa Branca  Foto: Jacquelyn Martin/AP

Segundo a publicação, Hegseth não publicou todos os detalhes dos planos de guerra e não identificou os alvos precisos que os aviões iriam atingir.

Mensagens

No chat do grupo, Hegseth publicou vários detalhes sobre o ataque iminente, usando linguagem militar e expondo quando uma “janela de ataque” começa, onde um “alvo terrorista” estava localizado, os elementos de tempo em torno do ataque e quando várias armas e aeronaves seriam usadas no ataque.

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Confira na íntegra as mensagens de Hegseth:

“Boa sorte para nossos guerreiros”, ele escreveu.

“12h15: LANÇAMENTO de F-18s (1º pacote de ataque)”

“13h45: Inicia a janela de 1º ataque do F-18 ‘baseado em gatilho’ (o alvo terrorista está em sua localização conhecida, então DEVE CHEGAR NA HORA – também, lançamento de drones de ataque (MQ-9s)”

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“14h10: LANÇAMENTO de mais F-18s (2º pacote de ataque)”

“14h15: Drones de ataque no alvo (É QUANDO AS PRIMEIRAS BOMBAS DEFINITIVAMENTE SERÃO LANÇADAS, dependendo de alvos ‘baseados em gatilho’ anteriores)”

O secretário de Defesa, Pete Hegseth, caminha pela Casa Branca  Foto: Mark Schiefelbein/AP

“1536 F-18 2º Ataque Começa – também, primeiros Tomahawks baseados no mar lançados.”

“MAIS A SEGUIR (por linha do tempo)”

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Entenda o caso

Na segunda-feira, 24, o editor-chefe da revista The Atlantic, Jeffrey Goldberg revelou em uma reportagem que foi incluído por engano em um grupo do aplicativo de mensagem Signal — similar ao WhatsApp e ao Telegram, mas com mais segurança — com autoridades do alto escalão do governo Trump que discutiam os ataques aos rebeldes Houthis, do Iêmen.

As conversas, com informações sensíveis sobre os planos militares dos Estados Unidos, reuniram, entre outros o vice-presidente J.D. Vance, o secretário de Estado Marco Rubio e o secretário de Defesa Pete Hegseth e abriram um debate sobre o descuido com informações sigilosas na alta cúpula do governo.

Segundo o relato publicado na The Atlantic, Jeffrey Goldberg recebeu o pedido de conexão de uma pessoa identificada como Michael Waltz. Esse é o nome do Conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos.

O conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, participa de uma reunião com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na Casa Branca  Foto: Mandel Ngan/AFP

Dois dias depois de aceitar a solicitação, ele foi incluído no grupo chamado “Houthi PC small group” em aparente referência a principals committee (reuniões com integrantes do gabinete e funcionários do alto escalão da segurança nacional). O chat, dizia mensagem enviada por Michael Waltz, havia sido criado para “coordenação sobre os Houthis”.

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Os rebeldes que integram o “Eixo da Resistência” do Irã causaram problemas ao comércio global com ataques no Mar Vermelho em meio ao conflito no Oriente Médio e a ameaçaram retomar os disparos com mísseis e drones depois que Israel suspendeu a ajuda humanitária para a Faixa de Gaza.

Nos dias que antecederam o ataque no Iêmen, o usuário identificado como J.D. Vance se mostrou reticente sobre a ofensiva. Ele disse que o governo estaria “cometendo um erro” e argumentou que a via atingida pelos ataques dos rebeldes era mais importante para a Europa do que para os Estados Unidos. “Há um risco real de que o público não compreenda isso ou por que é necessário”, escreveu. “Não tenho certeza se o presidente está ciente de quão inconsistente isso é com sua mensagem sobre a Europa”.

A conta identificada como Pete Hegseth disse que entendia as preocupações de Vance, mas insistiu na na ofensiva. Ele concordou que a comunicação seria difícil porque “ninguém sabe quem são os houthis” então seria preciso focar nas falhas do governo Joe Biden em deter os rebeldes e no apoio do Irã.

A mensagem alertava ainda para os riscos de adiar o ataque, como Vance sugeriu. “Há 2 riscos imediatos na espera: 1) isso vaza e parecemos indecisos; 2) Israel toma uma atitude primeiro - ou o cessar-fogo em Gaza fracassa - e não conseguimos iniciar o processo em nossos próprios termos”.

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“Estamos preparados para executar e, se eu tivesse um voto final de “sim” ou “não”, acredito que deveríamos fazê-lo. Isso não tem a ver com os houthis. Eu vejo isso como duas coisas: 1) Restaurar a liberdade de navegação, um interesse nacional fundamental; e 2) Restabelecer a dissuasão, que Biden destruiu”, concluiu Hegseth.

O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, participa de um evento em Washington  Foto: Mark Schiefelbein/AP

A discussão chegou ao fim depois que “SM”, que se presume ser o assessor Stephen Miller, entrou na conversa. “Pelo que ouvi, o presidente foi claro: sinal verde”, escreveu, sinalizando que os Estados Unidos depois poderiam cobrar a conta de Egito e Europa, sem especificar o que pediriam como recompensa. “Se os EUA conseguirem restaurar a liberdade de navegação a um custo elevado, será necessário obter algum ganho econômico adicional em troca.”

Em artigo publicado nesta segunda-feira, o editor disse ter ficado com receio de que o grupo fosse falso, parte de alguma campanha de desinformação. Até que os bombardeios detalhados no chat foram de fato lançados pelos Estados Unidos. “Eu tinha fortes dúvidas de que esse grupo fosse real, porque não podia acreditar que a liderança da segurança nacional dos Estados Unidos se comunicaria pelo Signal sobre planos de guerra iminentes”, escreveu Jeffrey Goldberg.

Reação de Trump

Trump minimizou na terça-feira, 25, o envio das mensagens. Ele afirmou que esse foi “o único erro em dois meses” de seu governo, enquanto legisladores democratas criticaram duramente o tratamento descuidado de informações altamente sigilosas.

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Trump disse à NBC News que o deslize “acabou não sendo grave” e reafirmou seu apoio ao assessor de segurança nacional, Mike Waltz.

“Michael Waltz aprendeu uma lição, e ele é um bom homem”, disse Trump. Ele também pareceu culpar um colaborador não identificado de Waltz por ter incluído Goldberg no grupo. “Foi um dos funcionários de Michael no telefone. Um membro da equipe incluiu o número dele lá.”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, participa de uma reunião de gabinete com o secretário de Estado, Marco Rubio, na Casa Branca  Foto: AP / AP

Waltz disse na terça-feira que não sabia como Goldberg acabou no chat. “A ele, em particular, nunca o conheci, não o conheço e nunca me comuniquei com ele”, declarou Waltz.

Mais tarde, no programa The Ingraham Angle, da Fox News, Waltz afirmou que ele mesmo criou o grupo de bate-papo e que especialistas técnicos da Casa Branca estavam investigando como o contato de Goldberg foi integrado./com W.Post, NYT e AP

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