BUENOS AIRES - A ditadura de Nicolás Maduro proibiu que aviões da Argentina sobrevoem o espaço aéreo da Venezuela em retaliação ao que chamou de “roubo descarado” do Boeing 747 da estatal Emtrasur, confiscado num imbróglio envolvendo as sanções dos Estados Unidos. A medida afeta voos particulares e rotas comerciais para destinos turísticos, como Punta Cana, Miami e Nova York.
E Buenos Aires prometeu, nesta terça-feira,12, que dará uma resposta. “A Argentina iniciou ações diplomáticas contra o governo da Venezuela, chefiado pelo ditador Maduro, após sua decisão de impedir a utilização do espaço aéreo do país por qualquer aeronave argentina”, disse o porta-voz da Casa Rosada, Manuel Adorni, em sua entrevista coletiva diária, sem dar mais detalhes sobre que ações são essas.
A Venezuela, por outro lado, não dá sinais de que pretenda recuar. Ao comentar um trecho da declaração de Adorni publicado nas redes sociais, o ministro das Relações Exteriores venezuelano Yvan Gil chamou o governo argentino de neonazista e reafirmou a proibição.
‘O governo neonazi da Argentina não só é submisso e obediente ao senhor imperial como tem um porta-voz “cara de pau”: Ardoni finge ignorar as consequências dos atos de pirataria e roubo contra Venezuela, que foram advertidas repetidamente antes do ato criminoso cometido contra Emtrasur”, disse o chanceler.
“A Venezuela exerce plena soberania em seu espaço aéreo, e reitera que nenhuma aeronave, proveniente ou com destino à Argentina, poderá sobrevoar nosso território, até que nossa empresa seja devidamente indenizada pelos danos causados”, acrescentou.
Ontem, Caracas já havia reafirmado a proibição em resposta à nota de protesto que Buenos Aires enviou na última sexta-feira, alertando que denunciaria violações da chamada Convenção de Chicago na Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), segundo a agência EFE.
A medida deve afetar não só a Aerolíneas, mas todos as companhias com voos da Argentina que passam pelo espaço aéreo venezuelano, disseram fontes do setor ao El Cronista. As mudanças de rota para destinos como Punta Cana, Miami e Nova York devem ter um impacto “mínimo” na duração dos voos, mas as empresas ainda calculam os gastos extras com maior consumo de combustível.
A crise foi desencadeada pelo confisco do Boeing 747 da Emtrasur - subsidiária da estatal Conviasa para o transporte de cargas. A aeronave foi enviada à Flórida no mês passado, depois de quase dois anos retida no Aeroporto Internacional de Ezeiza, na Grande Buenos.
Os Estados Unidos alegaram que o avião - fabricado nos EUA - foi fornecido pela companhia aérea Mahan Air, do Irã, que é alvo de sanções pelo apoio às Forças Quds da Guarda Revolucionária Iraniana, designada por Washington como organização terrorista. E que, em razão dos embargos, a venda não poderia ter ocorrido sem autorização do governo americano.
“Para colocar em contexto, (a proibição dos voos) foi uma represália da Venezuela pelo governo argentino ter aceitado a ordem de confisco dos Estados Unidos para o Boeing 747 da Emtrasur, vinculado à Guarda Revolucionária do Irã”, disse o porta-voz do governo argentino nesta terça ao anunciar as ações diplomáticas. “A Argentina não se deixará extorquir pelos amigos do terrorismo”, concluiu.
O avião chegou à Argentina em junho de 2022 e foi retido por ordem da Justiça. Os 19 tripulantes (14 venezuelanos e cinco iranianos) foram inicialmente detidos por suspeita de financiar atividades terroristas, mas acabaram liderados por falta de provas.
Leia também
Os Estados Unidos reivindicaram a posse da aeronave, que só teve a custódia oficialmente transferida no mês passado. Ato contínuo, o Boeing 747 foi mandado para o sul da Flórida. Sem dar mais detalhes, o Departamento de Justiça americano disse na época que seria descartado.
No mesmo dia, o ministério das Relações Exteriores venezuelano reagiu. “A Venezuela rechaça, de maneira categórica, o roubo descarado da aeronave, consumado em conluio entre os governos dos Estados Unidos e da Argentina”, dizia a nota que aproveitava para reclamar das sanções americanas e prometia uma resposta contundente. “O Estado venezuelano adotará todas as ações que permitam restabelecer a Justiça e restituir a aeronave para o seu legítimo proprietário”, seguia o texto./Com EFE e AP
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.