Barulhento, principalmente na hora do almoço, quando milhares de turistas misturam-se aos empregados de lojas e escritórios locais para comer arroz com feijão e tomar caipirinha, o quarteirão da Rua 46 entre a 5ª e a 6ª Avenidas, no centro de Manhattan, conhecido como Little Brazil pela quantidade de imigrantes brasileiros que abriga, era hoje um pequeno retrato da tristeza de toda a cidade de Nova York. Ao meio-dia, a rua estava sem tráfego, quase sem pedestres, com muitas lojas fechadas e restaurantes quase vazios. Além do choque provocado pelo ataque aéreo ao World Trade Center, na terça-feira, os freqüentadores da Little Brazil passaram a conviver com o medo de sofrer outros atentados por causa dos seus vizinhos mais próximos, os judeus da Rua 47, um dos maiores centros de comércio de diamantes do mundo. Na 47, hoje, a maioria dos estabelecimentos que abriram tinha uma ou duas pessoas dentro. Todas as vitrines, antes forradas de jóias, estavam completamente limpas. "Isso aqui corre o risco de virar uma Palestina e, se acontecer mais alguma coisa, eu volto para o Brasil", disse Toni Ramiro, carioca que vive em Nova York há mais de 30 anos e é dono da Búzios Boutique, uma loja de produtos brasileiros da 46. Na terça-feira, o comerciante passou o dia agoniado à espera da esposa, Wanda, que havia saído cedo do bairro de Queens, onde moram, sem saber a proporção do que, então, pensavam ser um incêndio no World Trade Center, em Manhattan. Wanda fechou a loja no começo da tarde e teve de fazer o caminho de volta a pé, atravessando uma das pontes com milhares de outras pessoas que temiam ser alvo de um novo ataque. Hoje, a mulher ficou em casa e o marido foi para a loja, mas não havia fregueses para atender. O mesmo acontecia do outro lado da rua, na empresa de envio de dinheiro para o exterior Vigo Remittance. "Temos cerca de 120 empregados e hoje só 15 vieram trabalhar", contou o gerente, Hélio Gusmão Júnior, norte-americano filho de brasileiros. Segundo ele, há dias que a agência da Vigo na Rua 46 chega a atender em torno de mil pessoas. "Mas agora o movimento está quase morto", disse Gusmão. Sem clientes, ele foi conversar com os garçons do restaurante Via Brasil que, na hora do almoço, tinham apenas meia dúzia de pessoas para servir. Na loja de cosméticos Brasil Way, o cirurgião plástico mineiro Marzo Bersan foi o único a entrar durante quase toda a parte da manhã. Conversando com duas das funcionárias, ele comentava sobre a reivindicação de retaliação ao ataque que viu nos jornais e escutou de muitos norte-americanos. "Também acho que tem de haver uma resposta ou isso aqui vai virar alvo constante de terrorismo", dizia o médico, que espera poder deixar a cidade no sábado.
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