Rússia abandona Kherson, maior cidade conquistada durante a guerra na Ucrânia

Saída de tropas russas da cidade foi anunciada por Ministério da Defesa do país e dificulta planos de Putin; Ucrânia vê anúncio com cautela

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Por Redação
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A Rússia anunciou nesta quarta-feira, 9, a retirada das suas tropas militares da cidade de Kherson, até então a maior conquista de Moscou na guerra da Ucrânia devido à localização estratégica, no sul do país. Segundo o general e comandante das forças russas, Serguei Surokivin, a retirada se tornou necessária para preservar vidas de militares “e a prontidão de combate das forças”. A retirada seria uma vitória para Kiev, mas a Ucrânia, que preparava uma contraofensiva para retomar o local, vê o anúncio com desconfiança.

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Kherson, capital da região com o mesmo nome, foi dominada pela Rússia em 2 de março e anexada em 30 de setembro após um referendo feito pelas autoridades russas – e não reconhecido internacionalmente. Na apresentação feita nesta quarta, Surovikin mostrou movimentos de tropas na região e argumentou que o bombardeio planejado pela Ucrânia seria implacável. Ele também citou dificuldade de manter os pontos de travessia e a geografia lamacenta do local nesta época como razões para a retirada.

A Ucrânia havia alertado que a Rússia poderia tentar fingir um recuo para atrair as tropas ucranianas e um combate. De acordo com o coronel ucraniano Roman Kostenko, os militares do país rastrearam sinais de uma retirada até esta quarta-feira, mas não ficaram convencidos de que os russos pretendiam sair totalmente da cidade e abandonar o controle da ponte que a liga com a margem oeste do Rio Dnieper.

Soldados ucranianos durante o avanço sobre a região de Kherson, em imagem desta quarta-feira, 9. Russos decidiram sair da cidade após a ameaça de contraofensiva Foto: Stanislav Kozliuk / EFE

Segundo Kostenko, os russos foram vistos saindo de centros populacionais de Kherson, mas alguns soldados ficaram para trás para dar cobertura aos movimentos. Soldados ucranianos também entraram no fim desta quarta-feira (horário local) sem resistência em aldeias da região de Kherson que antes estavam sob controle russo. “Estamos observando”, declarou.

O conselheiro da presidência ucraniana, Mikhailo Podoliak, adotou um tom cauteloso ao falar da suposta retirada e disse que o governo ucraniano não confia em “declarações encenadas na televisão”. “Ações falam mais alto do que palavras”, disse no Twitter. “Não vemos sinais de que a Rússia deixe Kherson sem lutar”, acrescentou.

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Para os ucranianos, o anúncio russo não significa uma retomada da cidade. “Até que a bandeira ucraniana esteja sobre Kherson, não faz sentido falar sobre uma retirada russa”, declarou Podoliak à agência Reuters.

Desde as retomadas de território no leste e nordeste do país, a Ucrânia prepara uma contraofensiva para reconquistar a região de Kherson e retomar a única capital regional conquistada pela Rússia na guerra. A retirada seria uma das maiores perdas para os russos, que seriam empurrados para a margem oeste do rio Dnieper e perderiam um dos principais acessos à Crimeia. Kherson também tem um dos principais portos da região do Mar Negro, o Porto de Odessa.

Especialistas militares ocidentais afirmam, no entanto, que a saída dos russos da cidade para a margem leste do Dnieper faria sentido tático, dada a vulnerabilidade e o relativo isolamento das tropas russas nesta localização.

Entretanto, a retirada das tropas do Kremlin pode ser um divisor de águas no conflito dada a posição estratégica e o controle russo desde março, início da guerra. Quando a dominou, o presidente russo Vladimir Putin esperava usar a região como uma ponte terrestre da Rússia até a cidade de Odessa, onde se encontra o Porto de Odessa. Putin não conseguiu este objetivo em oito meses de guerra.

A Rússia anunciou a anexação de Kherson no mês passado, mas não conseguiu consolidar o poder. Protestos de cidadãos foram registrados na cidade e, em paralelo, os ucranianos se moveram para isolar as tropas que estavam no local. Com a ajuda ocidental, a Ucrânia iniciou uma campanha coordenada para isolar as forças russas a oeste do Dnieper, bombardeando pontes que Moscou usou para reabastecer as forças na cidade, e moveu tropas de infantaria de todo o país em direção à região.

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O avanço ucraniano foi freado devido à geografia da região, atravessada por canais que servem de posição de defesa. O início da estação chuvosa também atrapalhou a contraofensiva por tornar a região lamacenta. Segundo os relatórios dos últimos dias, eles ainda estão longe da cidade e, além das dificuldades geográficas, enfrentam tropas russas no caminho. Um dos últimos principais confrontos foi na represa de Nova Kakhovka, distante cerca de 60 quilômetros de Kherson.

Imagem disponibilizada pela Rússia mostra general russo Serguei Surovikin durante justificativa da retirada das tropas russas em Kherson Foto: Ministério da Defesa da Rússia / via EFE

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A Rússia poderia aguardar a Ucrânia na cidade para iniciar um combate urbano, mas, segundo especialistas militares, o resultado poderia ser uma carnificina, com perdas potencialmente maiores para o Kremlin.

Se Moscou tivesse escolhido defender a cidade em vez de se retirar, especialistas militares dizem que poderia ter sido uma sangrenta batalha rua a rua, potencialmente lidando com pesadas perdas para a Rússia. A Ucrânia também poderia sofrer duras baixas, considerando que existe a suspeita de que os principais caças russos e grande estoque de munição estavam à disposição para defender o domínio sobre o território. Os dois países haviam emitido declarações que sinalizavam uma batalha.

Enquanto isso, Kherson perde grande parte da sua população de civis. Antes da chegada russa, havia mais de 250 mil habitantes. Agora, as estimativas de organizações ucranianas apontam 30 mil a 60 mil. O número real é impossível de descobrir.

No mês passado, as autoridades russas disseram que realocariam dezenas de milhares de civis do lado oeste do rio, para um território mantido pela Rússia com mais poder. Autoridades e residentes ucranianos acusaram a realocação como um pretexto para deportações forçadas.

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Para os cidadãos que permanecem na cidade, o futuro é cada vez mais incerto. O fornecimento de energia e água potável foi cortado, a rotina foi alterada e o medo de uma batalha sangrenta paira no ambiente. /NEW YORK TIMES

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