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Rússia ameaça Lituânia por sanções em exclave de Kaliningrado

Chefe do conselho de segurança do Kremlin prometeu ‘impacto negativo significativo’ à população lituana; premiê do país-membro da UE ironizou reação russa

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Por Redação
Atualização:

A Rússia provocou preocupação na União Europeia e na Otan após prometer retaliação à decisão da Lituânia de impedir o trânsito de determinados produtos entre Moscou e o exclave de Kaliningrado, território russo encrustado no Mar Báltico, cercado por países do bloco europeu.

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A cúpula do governo de Vladimir Putin se manifestou sobre o caso após o anúncio de Moscou sobre restrições que teriam sido impostas por Vilnius, durante o fim de semana, ao trânsito por via férrea de mercadorias sob sanção da Europa, em direção a Kaliningrado - movimento classificado pelos russos como “hostil” e “sem precedentes”.

O chefe do Conselho de Segurança do Kremlin e ex-agente da KGB, Nikolai Patrushev, declarou que a Rússia responderá à decisão da Lituânia e que a retaliação terá “um impacto negativo significativo” no povo lituano. Patrushev visitou Kaliningrado nesta terça e prometeu, durante uma reunião de segurança nacional, que “medidas relevantes estão sendo elaboradas em formato interinstitucional e serão adotadas em breve”, segundo o registro de agências russas.

O secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, durante a comemoração do Dia da Vitória, em 9 de maio; Patrushev fez ameaças à Lituânia nesta terça. Foto: Kirill Kudryavtsev/ AFP

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia convocou o embaixador da União Europeia em Moscou, Markus Ederer, e “expressou um protesto resoluto” contra a proibição. A chancelaria disse em um comunicado que “exigiu uma retomada imediata da operação normal”, caso contrário serão tomadas “medidas de retaliação”.

Enquanto a porta-voz do ministério, Maria Zakharova, descreveu a decisão da Lituânia como “inadmissível” e afirmar que “consequências virão”, segundo registro da agência de notícias russa Tass, o porta-voz da UE, Peter Stano, disse que Ederer pediu aos russos que se “abstenham” de uma escalada política e retórica.

Palco para tensões

O impasse cria uma nova fonte de tensões no entorno do Mar Báltico, região onde já há um acirramento em razão da aproximação de Suécia e Finlândia da Otan.

Com uma população de cerca de 430 mil habitantes, Kaliningrado faz fronteira com a Polônia, a oeste, e a Lituânia, a leste. A cidade, de origem prussiana, era chamada Königsberg até ser conquistada pela União Soviética em 1945, após a derrota da Alemanha nazista. Com a independência dos Estados bálticos da URSS, em 1991, o território foi isolado do resto da Rússia, nas foi mantido como uma área estratégica.

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De acordo com Jonas Kjellen, analista da FOI, agência estatal de pesquisa de defesa da Suécia, Kaliningrado é uma “zona tampão natural” que fornece a primeira linha de defesa para a Rússia a partir do Ocidente. A região possui sistemas de radar que fornecem vigilância aérea da Europa central - e, recentemente, a Rússia foi acusada de instalar mísseis Iskander, com capacidade nuclear, na região.

De acordo com Michael Kofman, diretor do Programa de Estudos da Rússia do CNA, um think-tank americano, Kaliningrado provavelmente é a parte da Rússia mais vigiada por espiões ocidentais. Mas, ao mesmo tempo que representa um ativo militar, sendo o ponto de apoio do poderio militar naval russo no Báltico, e considerada uma base marítima à prova de naufrágios - ela representa um problema logístico por ser facilmente isolada em caso de conflito.

“Se um incidente acontecesse (entre Otan e Rússia), provavelmente seria no Mar Báltico”, avaliou Kjellen a The Economist.

Parte das sanções

A operadora ferroviária estatal da Lituânia, LTG, anunciou na sexta-feira que não permitiria mais que mercadorias russas sob sanções da UE, incluindo carvão, metais e materiais de construção, transitassem pelo país de ou até Kaliningrado - que o governador da região, Anton Alikhanov, disse que afetaria quase metade de suas importações.

O governador de Kaliningrado, Anton Alikhanov, durante reunião em São Petersburgo, em junho de 2021. Foto: Evgenia Novozhenina/ REUTERS

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Descrevendo a situação como “desagradável, mas superável”, Alikhanov anunciou que as mercadorias que não podiam mais ser transportadas por ferrovia começariam a ser transportadas por mar “dentro de uma semana”. Ele acusou os lituanos de estabelecer um “bloqueio” e estimou que entre 40% e 50% das importações do território poderiam ser afetadas pelas restrições, de carvão a metais a materiais de construção e bens tecnológicos.

Em um comunicado desta terça, o governo lituano enfatizou que “o trânsito de passageiros e mercadorias não sancionadas de e para a região de Kaliningrado através da Lituânia continua ininterrupto”, reafirmando que a proibição é restrita a mercadorias sancionadas pela UE, em cumprimento às medidas aprovadas pelo bloco.

“Não é a Lituânia, são as sanções europeias que começaram a funcionar a partir de 17 de junho”, declarou o chefe da diplomacia lituana, Gabrielius Landsbergis, em viagem a Luxemburgo.

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“É irônico ouvir retórica sobre supostas violações de tratados internacionais de um país que possivelmente violou todos os tratados internacionais”, declarou a primeira-ministra lituana, Ingrida Simonyte, a repórteres.

A premiê lituana Ingrida Simonyte classificou como 'irônica' a reação russa ao bloqueio de trânsito de mercadorias. Foto: Ritzau Scanpix/Philip Davali via REUTERS

/ AFP, AP, REUTERS, WPOST e THE ECONOMIST

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