Rússia anuncia retirada de tropas da Ilha da Cobra após constantes ataques da Ucrânia

Território é estratégico para o controle das rotas marítimas do Mar Negro para exportação de grãos

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Por Redação
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As tropas russas se retiraram da Ilha da Cobra, localizada no Mar Negro, após constantes ataques das forças militares da Ucrânia. A retirada significa uma pequena, mas estratégica, vitória para a Ucrânia porque deve prejudicar o controle da Rússia sobre as rotas marítimas de transporte de grãos, atualmente bloqueadas. O controle passa em parte pela posse da ilha por causa da proximidade dela com Odessa, onde fica o principal porto ucraniano.

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O controle das rotas marítimas tem implicações que vão além da batalha pela soberania da Ucrânia e afetam o abastecimento de grãos e oleaginosas em diversas partes do mundo. Cerca de seis milhões de toneladas de grãos por mês, média registrada antes da guerra, não foram exportados pela Ucrânia devido ao bloqueio russo. Isso aumenta o custo dos alimentos e cria a probabilidade de escassez alimentar e fome em alguns países, especialmente da África.

A retirada foi confirmada pelos dois países nesta quinta-feira, 30. A Ucrânia afirmou que tentava retomar a ilha há uma semana, enquanto os russos reabasteciam a guarnição com mísseis e artilharia, e agradeceu os esforços dos militares. “Não há mais russos em Zmiinyi (denominação ucraniana para a ilha)”, anunciou Andri Yermak, chefe do gabinete presidencial da Ucrânia.

Imagem de satélite mostra Ilha da Cobra, localizada no Mar Negro, nesta quinta-feira, 30. Tropas russas abandonaram o local após constantes ataques ucranianos Foto: Maxar Technologies/via REUTERS

O Ministério da Defesa da Rússia disse em um comunicado que a retirada foi um “gesto de boa vontade” e um esforço para criar um corredor humanitário para a exportação de produtos agrícolas como grãos da Ucrânia. “Em 30 de junho, como um gesto de boa vontade, as Forças Armadas russas completaram suas tarefas atribuídas na Ilha da Cobra e retiraram a guarnição que estava lá”, disse em comunicado.

Ainda de acordo com o comunicado, a retirada não permite que “Kiev especule sobre a iminente crise alimentar” e joga a culpa do bloqueio de grão sobre os ucranianos. Segundo os russos, as exportações estão bloqueadas porque a Ucrânia se recusa a retirar minas explosivas dos portos.

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As Nações Unidas e parte dos países ocidentais acusam Moscou de usar os alimentos como uma arma para enfraquecer o apoio internacional à Ucrânia. A Rússia se defende dizendo que não impediria as exportações de grãos nem usaria a remoção de minas dos portos como oportunidade para renovar um ataque a Odessa. As autoridades ucranianas estão cautelosas com essas garantias.

A Ilha da Cobra serve como base para as operações do Mar Negro e se tornou alvo dos russos desde o primeiro dia da guerra, em 24 de fevereiro. Localizada cerca de 35 quilômetros da costa de Odessa, é um território pequeno, mas simbólico para os ucranianos.

Analistas ocidentais afirmam que a retirada das tropas exemplifica como Moscou reduz as ambições militares diante da resistência ucraniana e significa uma vitória simbólica e estratégica para Kiev. Segundo o analista Mason Clark, do Instituto para o Estudo da Guerra, dos EUA, o Kremlin precisava da ilha “para ameaçar a rota marítima de Odesa ao longo da costa romena, que é a maneira mais segura para os navios contornarem o bloqueio russo de grãos ucranianos e outras exportações”.

Entretanto, outro analista, Jeffrey Edmonds, do Centro de Análises Navais, também localizado nos EUA, diz que a Rússia ainda pode ameaçar o controle das rotas com navios de guerra e submarinos. “Militarmente, enfraqueceu o bloqueio, mas isso não é essencial para o bloqueio”, declarou.

De fato, não existem garantias de que o Kremlin esteja preparado para permitir a passagem segura de navios ucranianos que saem do porto de Odessa. Nesta quarta-feira, 29, uma emissora da Crimeia anunciou que cinco submarinos da Rússia saíram do porto de Sebastopol, na Crimeia, para o mar.

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A retomada da Ilha da Cobra pela Ucrânia é parcialmente atribuído ao novo fornecimento de armas pelo Ocidente. A inteligência britânica avaliou que a Ucrânia usou mísseis anti-navios Harpoon doados e “quase certamente” conseguiu afundar o rebocador naval russo Spasatel Vasili Bekh, que transportava armas e militares para o local.

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Repórteres de guerra e blogueiros pró-Rússia também associaram a vitória ao sistema de artilharia francês Caesar, estacionado em Odessa e com um alcance de tiro de cerca de 41 quilômetros. “Após a transferência do Caesar e dos [mísseis táticos] Tochka-U para a região de Odessa, a força de artilharia ucraniana na região aumentou muito”, escreveu um popular blogueiro do Telegram conhecido como Rybar nesta quinta-feira.

Em veículos pró-Kremlin, a retirada da Rússia da ilha foi descrita como um revés para Moscou, mas também como uma medida necessária para salvar a vida de soldados russos.

Enquanto isso, os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estão reunidos em Madri para um terceiro e último dia de diálogos. O presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou nesta quarta que o país vai aumentar a presença militar no território da Otan na Europa e citou a invasão da Ucrânia pela Rússia como um dos motivos. /NYT, WP

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