Rússia assume presidência do Conselho de Segurança da ONU em meio à sua guerra na Ucrânia

Kiev considerou a ação como um ‘tapa na cara’ e recebeu apoio dos EUA, que chamou o cargo de cerimonial; a presidência é rotativa entre os 15 países-membros do conselho

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Por Redação
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NOVA YORK - A Rússia assume a partir deste sábado, 1º, a presidência do Conselho de Segurança da ONU, despertando críticas da Ucrânia que vê a ação como um “tapa na cara” depois que Moscou lançou uma invasão ao país. Moscou terá pouca influência nas decisões, mas deve controlar a agenda das reuniões, ao mesmo tempo em que envia armas nucleares táticas para a vizinha Belarus.

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A presidência da entidade é rotativa mensalmente entre seus 15 membros e a última vez que a Rússia presidiu o órgão foi em fevereiro de 2022, mesmo mês em que enviou tropas para a Ucrânia. Os apoiadores diplomáticos de Kiev, liderados pelos Estados Unidos, criticaram o papel da Rússia, bem como o fato de ser um membro permanente do Conselho.

“Um país que viola flagrantemente a Carta da ONU e invade seu vizinho não tem lugar no Conselho de Segurança da ONU”, disse a porta-voz da Casa Branca, Karine Jean-Pierre. “Infelizmente, a Rússia é um membro permanente do Conselho de Segurança e não há um caminho jurídico internacional viável para mudar essa realidade”, acrescentou, chamando a presidência de “cargo amplamente cerimonial”.

O chanceler russo Serguei Lavrov já deve liderar uma reunião do Conselho de Segurança da ONU em breve, segundo sua porta-voz Foto: Maxim Shipenkov/AFP

“A presidência russa do Conselho de Segurança das Nações Unidas é um tapa na cara da comunidade internacional”, lamentou o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, no Twitter. “Peço aos atuais membros do Conselho de Segurança das Nações Unidas que impeçam qualquer tentativa da Rússia de abusar de sua presidência”, tuitou Kuleba.

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Kuleba chamou na quinta-feira, 30, a presidência russa do Conselho de piada de mau gosto, considerando a Rússia um país “fora da lei, que usurpou sua posição no Conselho”. “O seu presidente é um criminoso de guerra procurado pelo Tribunal Penal Internacional por rapto de crianças”, recordou, em alusão ao mandado de prisão lançado pelo órgão contra Vladimir Putin.

As críticas de Kiev não impressionaram Moscou, que anunciou que a sua delegação na ONU será chefiada pelo chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, que sucederá Moçambique. Lavrov também deve presidir uma reunião do Conselho de Segurança sobre “multilateralismo efetivo” no final deste mês, disse sua porta-voz, Maria Zakharova, a repórteres na quinta-feira.

A porta-voz também indicou que Lavrov também conduzirá um debate sobre o Oriente Médio em 25 de abril.

O chanceler da Ucrânia, Dmitro Kuleba  Foto: Mykola Tys

Armas nucleares em Belarus

Na última sexta-feira, 31, a maioria dos membros do Conselho de Segurança expressou sua preocupação com a implantação de armas nucleares táticas russas em Belarus, o que poderia trazer um risco de proliferação nuclear.

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“É um golpe adicional à arquitetura de controle de armamentos, a estabilidade da Europa e a paz e a segurança internacional”, denunciou o embaixador francês nas Nações Unidas, Nicolas de Rivière, durante uma reunião solicitada pela Ucrânia.

“Sejamos claros, nenhum país evocou a possibilidade de usar armas nucleares neste conflito, nenhum país ameaça a soberania russa”, declarou o embaixador britânico adjunto, James Kariuki.

O anúncio russo, em 25 de março, em plena guerra na Ucrânia, é “uma nova tentativa de intimidar e constranger. Não funcionou até agora e não funcionará. Seguiremos apoiando os esforços da Ucrânia para se defender”, acrescentou.

Apesar de França, Reino Unido, Estados Unidos e demais membros do Conselho condenarem o anúncio feito por Moscou, outros apontaram tanto a russos quanto aos ocidentais. “Não se cura o mal com o mal”, advertiu o embaixador brasileiro Ronaldo Costa Filho.

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A Rússia justificou sua implantação nuclear em Belarus como uma resposta ao posicionamento de armas nucleares americanas na Europa, no marco do acordo de partilha nuclear da Otan.

Porém, “reagir a um acordo de partilha nuclear posicionando armas em um Estado não nuclear também é uma violação das obrigações acordadas no TNP”, o Tratado de Não-Proliferação Nuclear, afirmou o embaixador brasileiro.

A China pediu a “abolição dos acordos de partilha nuclear” e que “não se realize nenhuma implantação de armas nucleares no exterior”, por meio do embaixador Geng Shuang, sem citar nenhum país em particular./AFP