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Rússia ataca com míssil comboio humanitário e deixa 23 mortos horas antes da anexação, diz Ucrânia

Ao menos 16 mísseis S-300 teriam sido lançados; pessoas planejavam buscar seus parentes e levá-los para um local seguro

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Por Redação

KIEV - Um ataque russo à cidade ucraniana de Zaporizhzhia matou pelo menos 23 pessoas e feriu dezenas nesta sexta-feira, 30, conforme alegou o governador Oleksandr Starukh. A ofensiva aconteceu poucas horas antes do início previsto para a anexação de territórios da Ucrânia à Rússia, como resultado dos referendos da última semana. Ao menos 16 mísseis S-300 teriam sido lançados, informou o vice-chefe do gabinete do presidente ucraniano, Kyrylo Tymoshenko.

De acordo com as informações repassadas pelo governo, o atentado atingiu um comboio humanitário que prestava atendimento a um grupo que se dirigia para um território ocupado pela Rússia. Starukh disse que as pessoas no comboio planejavam buscar seus parentes e depois levá-los para um local seguro. Equipes de resgate estavam no momento do ataque. Também foram publicadas imagens em que aparecem veículos queimados e corpos caídos na estrada.

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A Rússia não reconheceu imediatamente o ataque, que ocorre no momento em que Moscou se prepara para anexar quatro regiões após o referendo alvo de críticas internacionais. Essas regiões incluem áreas próximas a Zaporizhzhia, mas não a cidade em si, que permanece em mãos ucranianas. A anexação - e os concertos e comícios comemorativos planejados em Moscou e nos territórios ocupados - está prevista para ocorrer nos próximos dias.

Autoridades ucranianas e ocidentais denunciaram como “ilegais, forçados e manipulados” os referendos. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse a repórteres, nesta quinta-feira, 29, que quatro regiões da Ucrânia - Luhansk, Donetsk, Kherson e Zaporizhzhia - seriam incorporadas à Rússia durante uma cerimônia do Kremlin com a presença do presidente Vladimir Putin, que deve fazer um grande discurso. Peskov disse que os administradores pró-Moscou das regiões assinariam tratados para se juntar à Rússia no ornamentado St. George’s Hall do Kremlin.

Carros destruídos por um ataque de míssil russo, que atingiu um comboio de veículos civis em meio ao ataque da Rússia à Ucrânia, são vistos em Zaporizhzhia. Foto: Stringer/Reuters Foto: STRINGER

Em uma aparente resposta, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy convocou para esta sexta-feira, 30, uma reunião de emergência com o seu Conselho de Segurança e Defesa Nacional. Zelenskyy também procurou capitalizar o sentimento anti-guerra na Rússia ao lançar um vídeo especial dirigido às minorias étnicas russas, especialmente as do Daguestão, uma das regiões mais pobres do país no norte do Cáucaso. “Você não tem que morrer na Ucrânia”, disse ele, vestindo um moletom preto que dizia em inglês “Sou ucraniano”, e parado em frente a uma placa em Kiv em homenagem ao que ele chamou de herói do Daguestão. Ele pediu às minorias étnicas que resistam à mobilização.

Os EUA e seus aliados prometeram adotar ainda mais sanções do que já impuseram contra a Rússia e oferecer milhões de dólares em apoio extra à Ucrânia, enquanto o Kremlin duplica o manual de anexação que seguiu quando incorporou a Península da Crimeia, em 2014. Na manhã desta sexta-feira, Putin emitiu decretos reconhecendo a independência das regiões de Kherson e Zaporizhzhia, medidas que ele havia tomado em fevereiro em relação a Luhansk e Donetsk e anteriormente para a Crimeia. A Ucrânia reforçou a pretensão de recapturar as quatro regiões, assim como a Crimeia.

Enquanto isso, a Rússia diz que defenderá todo o seu território - incluindo as regiões recém-anexadas - por todos os meios disponíveis, incluindo armas nucleares. As tensões aumentaram ainda mais depois da mobilização militar na Rússia e das alegações de sabotagem de dois oleodutos russos no fundo do Mar Báltico que foram projetados para fornecer gás natural à Europa. Somando-se aos problemas do Kremlin estão o sucesso da Ucrânia em recapturar algumas das mesmas terras que a Rússia está anexando e as dificuldades com a mobilização da população para o confronto, sobre a qual o presidente Vladimir Putin reconheceu na quinta-feira.

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Os apoiadores ocidentais da Ucrânia descreveram os referendos como uma descarada apropriação de terras, baseada em mentiras. Eles alegam que algumas pessoas foram forçadas a votar sob a mira de armas em uma eleição sem observadores independentes em território de onde milhares de moradores fugiram ou foram deportados à força.

Em discurso incomumente forte, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse a repórteres nesta quinta-feira, em Nova York, que a anexação da Rússia violaria a Carta da ONU e “não tem valor legal”. “Não deve ser aceito. Qualquer decisão da Rússia de seguir em frente prejudicará ainda mais as perspectivas de paz”, disse Guterres. Como membro permanente com poder de veto do Conselho de Segurança da ONU, a Rússia tem “uma responsabilidade particular” de respeitar a Carta da ONU, disse o secretário-geral. O porta-voz Stephane Dujarric disse que Guterres transmitiu a mensagem ao embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, na quarta-feira.

No que seria um grande golpe para o esforço de guerra de Moscou, o Instituto para o Estudo da Guerra, com sede em Washington, disse que as forças ucranianas podem em breve cercar Lyman, a 160 quilômetros de Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia. “O colapso do bolsão de Lyman provavelmente terá altas consequências para o agrupamento russo nas regiões norte de Donetsk e oeste de Luhansk e podem permitir que tropas ucranianas ameacem posições russas ao longo da região ocidental de Luhansk”, disse o instituto, citando relatórios russos. /AP

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