Rússia barra imprensa brasileira e internacional em entrevista de ministro de Putin no G-20 do Rio

Jornalistas foram impedidos de acompanhar e fazer perguntas ao chanceler Serguei Lavrov

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Foto do author Felipe Frazão

RIO - A delegação da Rússia barrou profissionais da imprensa brasileira e internacional de acessarem uma entrevista coletiva do ministro das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, na reunião de chanceleres do G-20, no Rio. Homem de confiança do presidente Vladimir Putin, Lavrov autorizou somente o ingresso de jornalistas russos, que em sua maioria viajaram ao Brasil no avião oficial, junto à comitiva diplomática.

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A possibilidade de pronunciamento de Lavrov movimentou o Centro de Imprensa do G-20. Mais de cem jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas correram para tentar participar da coletiva. Mas ficaram de fora.

A Rússia sofre pressão também por falta de liberdade de imprensa. O país aparece na posição 164º no ranking de 2023 da organização Repórteres Sem Fronteiras. A entidade monitora a liberdade do exercício de imprensa e do acesso a informação em 180 países e territórios. A Rússia caiu nove posições em relação a 2022, quando invadiu a Ucrânia.

Segundo a RSF, Putin implementou uma “guerra de propaganda” para difundir o discurso oficial e endureceu a repressão sobre veículos de imprensa independentes, que vem sendo banidos e declarados “agentes estrangeiros” ou “organizações indesejáveis”. “Todos os outros estão sujeitos à censura militar”, diz a RSF, que contabiliza 29 jornalistas e colaboradores da imprensa presos atualmente em solo russo.

Jornalistas russos aguardam para entrevista com ministro de Putin, enquanto imprensa brasileira e internacional é vetada no G-20 Foto: Felipe Frazão/Estadão

O país invadiu a Ucrânia há dois anos, dando início a uma guerra que mobiliza grande parte da Europa e afeta a economia global. O conflito completa dos anos no sábado, dia 24, e foi tema de debates nas reuniões reservadas, entre os ministros de 30 países e 15 organizações internacionais.

Embora todos os jornalistas russos aguardassem há pelo menos um dia pelo chamado para a entrevista coletiva, um diplomata russo desconversou ao explicar ao Estadão que não poderia autorizar o acesso e a participação de brasileiros. A reportagem do jornal foi retirada do corredor onde os russos aguardavam a entrevista, com auxílio da organização brasileira. Esse diplomata alegou que a comitiva ministerial enviada por Moscou tinha permitido “somente a entrada” da imprensa russa na sala de reuniões da delegação.

Essa não é a primeira vez que os russos usam desse método. Durante a visita de Putin a Brasília, em 2019, para a cúpula do Brics, o governo russo também evitou contatos com a imprensa brasileira. Putin falou somente a jornalistas que o acompanhavam desde Moscou.

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O chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, cumprimenta o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, durante o encontro de chanceleres do G-20, no Rio de Janeiro, Brasil  Foto: Miinistério das Relações Exteriores da Rússia / AP

Cobranças

A Rússia está sendo cobrada a explicar internacionalmente a morte, em circunstâncias não esclarecidas, do opositor de Putin Alexei Navalni, que estava detido em uma prisão no Ártico. O caso repercute em todo o mundo, e embaixadores russos têm sido chamados a prestar esclarecimentos em capitais europeias. As relações Rússia e Europa se deterioraram por causa da tomada de territórios ucranianos.

Em Lisboa, por exemplo, o governo português recebeu uma “resposta nula” do embaixador russo, relatou o chanceler João Cravinhos, para quem a morte de Navalni não pode ser considerada de “importância menor”, tampouco uma “ingerência em assuntos internos”, como alega a diplomacia russa.

Segundo diplomatas europeus, o chanceler britânico, David Cameron, cobrou a Rússia e rebateu a tese de “desnazificação”, uma das usadas pelo Kremlin para justificar a invasão do país vizinho. Ele disse que a soberania dos países deve ser respeitada. “Matar Navalni é o que um regime nazista faria”, disse Cameron, segundo embaixadores presentes.

A guerra na Ucrânia é considerada pelos europeus uma questão “existencial”. A delegação francesa disse, por exemplo, a autoridades brasileiras que se sente também atacada pela Rússia e que receia de tentativas de manipulação eleitoral e estratégias de desinformação em massa nas redes sociais.

Na plenária de chanceleres, Lavrov ignorou a morte do opositor Navalni, e disse que o G-20 não vai ajudar a solucionar os confrontos e verbaliza contra o que considera “a politização” do grupo.

Lavrov protestou contra sanções e penalidades aplicadas a seu país após a invasão da Ucrânia e deu vazão ao discurso para tentar fortalecer o Brics em detrimento do G-7. O Kremlin argumenta que “a afirmação de uma ordem mundial multipolar tornou-se sustentável e irreversível”.

“Não creio que no G-20 encontraremos soluções para os desafios e ameaças acumulados à segurança global”, afirmou ele, conforme discurso divulgado pelo governo russo, focado em críticas ao Ocidente. “Nosso fórum das principais economias do mundo poderia afirmar claramente a recusa do G-20 em usar a ‘economia como arma’ e a ‘guerra como investimento’.”

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